Famílias comprometem orçamento para colocar filhos no ensino privado
Cerca de um milhão de famílias brasileiras de baixa renda comprometem 10% da renda matriculando os filhos em escolas particulares. Por ano, quase 5% das mães e pais da classe E gastam R$ 1 mil em mensalidades escolares, enquanto que 5,5% das famílias da classe D utilizam R$ 2 mil.
Tal proporção é quatro vezes maior do que o valor investido pelas
classes A e B, que aplicam 2,5% do rendimento familiar em ensino privado, o que
representa, na renda dessa parcela da população, cerca de R$ 6 mil por
ano.
Os dados são do estudo Os determinantes da Freqüência à Rede
Particular de Ensino e dos Gastos com Educação no Brasil, produzido pelo
professor de Economia da Faculdade de Economia e Administração da Universidade
de São Paulo (FEA-USP) Naércio Menezes Filho, e pela também economista Andréa
Curi, com base em pesquisas do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Geografia
(IBGE).
"Aparentemente, as famílias estão tirando seus filhos das escolas
públicas por causa da segurança e da qualidade do ensino", explicou Menezes
durante a apresentação dos dados em São Paulo (SP).
Hoje, no Brasil, 80%
dos estudantes, contando todos os níveis, estão em escolas públicas. Apesar
disso, o gasto com educação no orçamento das famílias foi o item que mais
cresceu nos últimos anos. Passou de 3,2%, em 1988, para 5,5%, em
2003.
"No Rio de Janeiro, por exemplo, apenas 60% dos jovens matriculados
no ensino médio estão no ensino público, e no Distrito Federal o número cai para
55%", citou Menezes, indicando os dois estados nos quais a proporção é a mais
distante da média. "Em Brasília, a explicação é o alto número de funcionários
públicos com renda alta. Enquanto isso, no Rio de Janeiro os pais estão
colocando os filhos na escola particular com medo da violência",
diagnosticou.
O estudo mostra também que, quanto maior a escolaridade da
mãe, independentemente do salário, mais alta é a probabilidade de ela investir
na educação de seu filho. Ao comparar mães com 11 anos de escolaridade, ou seja,
o ensino básico completo, com as que não são alfabetizadas, a proporção de
filhos matriculados em escolas privadas quase que dobra dentro da mesma faixa de
rendimentos.
Mas o investimento é de boa qualidade? Quer dizer, a escola
privada na qual as famílias de baixa renda estão colocando seus filhos é melhor
do que as públicas das quais saíram? Segundo especialista, a resposta é:
não.
Em um cálculo rápido, o presidente do Sindicato dos Profissionais em
Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Claudio Fonseca, que estava
presente ao evento, colocou em xeque a efetividade de tal escolha das famílias
mais pobres. "Gastar R$ 2 mil por ano, significa pagar uma mensalidade menor de
R$200. O aluno da escola pública custa isso. Qual escola particular, que se diz
de qualidade, custa R$200?", perguntou à platéia. "Precisamos parar de
generalizar. Nem toda escola pública é ruim e nem todo colégio particular é
bom".
(Envolverde/Aprendiz)