Vigência da violência revolucionária

Rio2
Foto: Felipe Dana/AP

Estamos assistindo, nas ruas, o maior legado das Copas das Confederações. Thanks Fifa.

Os ministros e os monopólios de comunicação, atônitos, dizem não entender o significado de tamanha revolta. Isolados em seus paraísos artificiais estão assustados com a cara do país. Há pelos menos dez anos, espero que coisas como estas aconteçam. O dia raiou, “Toda noite – tem auroras, Raios – toda a escuridão”. “O Brasil acordou”, esta frase pôde ser lida em cartazes de muitas manifestações. Acordar para sonhar.

 

Em uma noite histórica, tiveram sorte aqueles que não conseguiram dormir. A insônia dos que atacam é muito mais prazerosa que a dos defensores da velha fortaleza.

As classes dominantes e reacionárias, em meio ao pesadelo das ruas, esboçam sua estratégia para esvaziar as manifestações. Na semana passada, assistimos aos ataques venenosos de seus porta-vozes. Arnaldo Jabor disse que esta juventude não valia um vintém, Luiz Datena nos chamou de vândalos e baderneiros. Depois de ficar claro que a repressão só aumentava a rebelião, o discurso mudou. Ontem, Jabor falou de uma geração que reencontra ideias; Datena disse ao CQC, que apesar de estar no jornalismo policial, a especialidade dele era direitos humanos.

Quanta mudança em apenas uma semana. Agora assistimos “especialistas em segurança” promovidos a especialistas em manifestações. Estamos acostumados a ver reportagens com dicas de como se comportar em uma entrevista de emprego. Mas é novidade ouvir jornalistas antipovo nos darem aula sobre o que devemos ou não fazer em nossos protestos.

Os mesmos que nos enxovalharam querem, hoje, nos dar lições. E a lição enfadonha é repetida, insistentemente, por todas as emissoras: “os protestos devem ser pacíficos”, “é lindo ver as pessoas vestidas de branco”, “a maioria dos jovens quer paz, apenas um pequeno grupo de manifestantes radicais atirou pedras contra a polícia.”

O discurso de paz, senhores, chegou atrasado. Por que vocês, escribas da reação, não incentivaram a tropa de choque a vestir branco nas remoções de favelas para as obras da Copa no Rio de Janeiro? Por que não defenderam que a Força Nacional de Segurança do governo Dilma levasse flores aos operários rebelados de Jirau? Não deveria, a Polícia Federal, ter atuado de forma ordeira na reintegração de posse que provocou o assassinato do índio Terena no Mato Grosso do Sul?

“Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”

O discurso de paz de Datena é dantesco. Que ninguém se iluda, pois estes senhores e senhoras serão os mesmos a esbravejar por punição exemplar aos manifestantes radicais. A classe operária conhece a fúria sanguinária da reação burguesa. Na Comuna de Paris, os revolucionários pagaram caro por não oprimirem a classe dominante derrotada. Vinte mil foram assassinados assim que a burguesia retomou a capital francesa.

A contra-propaganda ao defender manifestações pacíficas tem por objetivo tornar estéril nossa revolta. Chegaram a dizer: “manifestação ordeira é um tapa na cara dos políticos, pois aí eles não tem desculpa para reprimir”. O povo não precisa fazer passeata para ser reprimido, basta ser pobre, preto e favelado para estar ameaçado, todos os dias, pela violência policial do velho Estado.

Dizer que manifestações pacíficas são mais “eficientes” é papo-furado. Ir para as ruas, simplesmente, não é suficiente. Vejamos o exemplo das manifestações das “Diretas Já”, em 1984. Milhões de pessoas, no final do regime militar, saíram às ruas exigindo eleições diretas para presidente. Todos os comícios das diretas transcorreram de maneira ordeira e pacífica. Um tapa na cara da ditadura, diriam os atuais especialistas em manifestações. O resultado? Derrota para o povo. Apesar da multidão nas ruas, a emenda das diretas foi rejeitada pelo Congresso Nacional e Tancredo Neves foi eleito presidente pelo voto indireto de um colégio eleitoral.

“A violência é a parteira da história”.

Porque toda violência do povo é resistência. Porque a “rebelião se justifica”. E o que fez alastrar as manifestações por todo o país não foi o ataque covarde da PM fascista de Alckmin. Foi a resposta violenta dos jovens, foram as vidraças quebradas, os bancos depredados, os ônibus queimados. Pintamos o rosto no impeachment de Collor e forçamos sua renúncia, seu vice assumiu e nada mudou. Agora os adolescentes da vez, cobrem o rosto, invadem a Assembleia Legislativa do RJ e ocupam a rampa do Congresso.

A história está sendo reescrita em garatujas de graffiti nos monumentos do passado. É o urro tribal de jovens que dançam em torno de uma viatura incendiada. Somos guaranis-kaiowás, terenas, tapebas, mundurukus. Somos o povo brasileiro, “copa do mundo é o caralho”.

É apenas o começo, o recomeço de uma longa saga por nossa liberdade. Que felicidade viver este momento. É hora do ponto final porque meu mundo está na rua e exige minha presença.

“Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra.”

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Citações de Castro Alves, Bertold Brecht, Karl Marx, Mao Tsetung e Carlos Drummond.

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