Cada vez mais cresce nos brasileiros o sentimento de que o atual governo pensa que está nos tratando como idiotas. A mídia, grande aliada de gente como a equipe do atual governo, é incapaz de salientar a pobreza das iniciativas e atitudes dos políticos que compõem a cúpula governamental.
A tal “intervenção federal” no Estado do Rio de Janeiro, anunciada hoje com pompa e circunstância, não passa de uma farsa que, sem dúvida, será noticiada pela mídia internacional, de forma irônica e bem humorada e como mais um ato cômico do desgoverno brasileiro, como tem se dado com frequência ultimamente.
A tal “intervenção” ataca somente os efeitos da doença, esquecendo-se propositalmente das causas do mal. Mal comparando, é algo como alguém com febre de 40 graus ser mergulhado num banho de água gelada para esfriá-la. É claro que a causa da febre, uma infecção, permanecerá.
Todo o Brasil é vítima de grave infecção, está doente. O Rio de Janeiro, contudo, apresenta um quadro mais grave, dado que chama mais atenção.
E quais as causas dessa infecção? O Brasil, por suas dimensões, é o país mais desigual do mundo. Há desigualdade mundo afora, é claro, mas em países menores que o Brasil. O Brasil é, portanto, em números absolutos, o país mais injusto do planeta. E esta é a doença: a desigualdade social.
A desigualdade social no Brasil é provocada pela concentração da renda e da riqueza. Concentração de renda é, em termos simples, o processo pelo qual a renda, originada dos lucros, dos salários, dos aluguéis e de outros rendimentos, legais ou não, converge para uma mesma empresa, região ou grupo de pessoas privilegiadas.
Morro do Vidigal, em São Conrado, vendo-se as praias de Ipanema e Leblon ao fundo
A foto acima mostra um bom exemplo da concentração de renda na cidade do Rio de Janeiro. Gente pobre e desassistida no Morro do Vidigal e os bairros praianos de Ipanema e Leblon onde se localiza o metro quadrado mais caro do país.
Nem de longe, a tal “intervenção federal” no Estado do Rio de Janeiro enfrenta esta questão. A desigualdade e a injustiça sociais permanecerão, apesar do forte aparato policial-militar a ser apresentado aos cariocas. Essa espalhafatosa operação deverá se estender até o fim deste ano. Cessada a “intervenção”, a desigualdade voltará a se manifestar, de forma mais intensa talvez, para compensar o tempo perdido.
Para agravar o quadro e agradar o tal “mercado”, governo federal aprovou recentemente a reforma trabalhista que precariza as relações trabalhistas e reduz os direitos dos trabalhadores. A insegurança e a desmotivação dos trabalhadores, ensejadas por essa reforma, passa a ser um incentivo ao trabalho informal e ao não-emprego.
Agora, está a caminho uma reforma da previdência amorfa que somente retira direitos dos trabalhadores, sem mexer nos direitos previdenciários dos políticos, magistrados e militares. O maldito e tão discutido déficit da previdência não foi sequer auditado e demonstrado aos interessados. O tratamento privilegiado para algumas classes de brasileiros gera revolta e produz insatisfação no seio da população. Também a reforma da previdência visa agradar o mercado.
Ora, que se dane o mercado. A atenção principal de qualquer governo sério tem de ser a de agradar seu povo. Há que haver reformas, mas não essas. Há que se reduzir os imorais ganhos e mordomias dos políticos e magistrados. Há que suspender e auditar os pagamentos feitos hoje a título de juros e amortizações da dívida com bancos e que alcançam hoje quase metade do orçamento anual da União. Há que se redirecionar os gastos com essas despesas inúteis para remunerar professores, médicos e pesquisadores. Há que haver incentivo ao estudo em todas as faixas etárias. Há que haver mais escolas, hospitais, postos de saúde, segurança e outros serviços públicos de qualidade.
Com essas reformas, provavelmente dentro de 40 ou 50 anos o Brasil poderá ser um país decente.
Com a atual intervenção federal no Rio de Janeiro, nada acontecerá de novo. Ao fim dela, tudo voltará ao normal. Voltará a insegurança, a violência, a miséria, o tráfico, os traficantes e as milícias.
Pergunta-se: a quem esse governo de medíocres pensa que engana?