Abrir os baús da ditadura não é um ato revanchismo. É um escrever a história do Brasil num período de barbárie e de violência que não pode ficar oculto. A ideia do comandante Carlos Eugênio Clemente de ampliar os horizontes dessa luta é transformar a exigência de verdade em algo que perpasse os muros da mídia de esgoto e penetre os arquivos dos quartéis onde se esconde a estupidez.
Revanchismo é vingança e história e realidade, é indispensável ao processo de construção democrática.
Somos uma democracia tutelada. Quando da campanha das diretas já o general Medeiros Albuquerque, homem forte do governo do general Figueiredo disse a jornalistas que “diretas só em 1989”. O temor era a vitória de Leonel Brizola. A essa época outro general, Golbery do Couto e Silva, já havia tirado o PTB e seu simbolismo das mãos de Leonel Brizola e entregue o partido a Ivete Vargas, para esvaziar a candidatura Brizola.
O grande temor dos militares não era a eleição direta, mas o que chamam até hoje de “revanchismo”. Na prática o temor de que o caráter da ditadura que veio de longe. A exposição de figuras tidas como íntegras, em sua face real de carniceiros.
Nesse meio tempo morre Tancredo e assume Sarney bem ao feitio dos militares e descobrem Collor de Mello, para a nova guinada à direita do País, o neoliberalismo. Collor foi produto montado na GLOBO, cúmplice da ditadura, em comum acordo com os militares.
Terminou em Fernando Henrique diante da imaturidade de Collor e seus vínculos com jagunços da corrupção.
Os governos do PT, mesmo respaldados pela opinião pública preferiram a política de conciliação. tPor isso esbarram na forte resistência dos militares, amarrados aos acordos que parecem que uma cortina de chumbo impede o conhecimento da história, da verdade.
A Comissão da Memória e da Verdade tem avanços inegáveis, mas ainda não penetrou fundo na essência dos dados levantados, que vão desde os primórdios da ditadura, quando a tortura, os assassinatos eram executados ao talante dos comandante de unidades, até que figuras como Dan Mitrione organizaram a Operação Condor, envolvendo todas as ditaduras na América do Sul, sobre Brasil, Argentina, Chile e Paraguai, numa época de sangue e barbárie sem quaisquer resquícios de dignidade que os militares costumam avocar a si.
É necessário transformar essa luta numa nova diretas já, sem espírito revanchista, mas império da história, desmascarar figuras tidas como intocáveis e “patriotas” (é por isso que o “patriotismo é o último refúgios dos canalhas”, segundo o inglês Samuel Johnson), para que os brasileiros saibam de fato encontrar o caminho da democracia sem tutela, seja dos militares, seja da mídia de esgoto.
Não é uma luta que se faça do dia para a noite e nem com provocações, mas com a “história na mão” como disse Vandré em sua célebre canção “Caminhando”.
É fundamental que essa luta ganhe as ruas, permeie as famílias, para que não tenhamos dias iguais no futuro, num momento que o governo Dilma Roussef inclina-se para a direita em planos internos e omite-se em muitas questões externas por conta da fragilidade do seu chanceler.
Transformar a luta pela memória, pela verdade, há que ser tarefa dos lutadores do povo e Carlos Eugênio Clemente deu a partida num processo que vai nos resgatar com nossa própria identidade.
A ideia veio de um dos grandes comandantes da resistência e precisa tomar foros de organização.