Em 1976, em São Paulo, já professora da Universidade de São Paulo, entrou em contato com o Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA) e tornou-se sua militante.
Lola que não teve nenhum familiar preso ou desaparecido e não foi perseguida política, assim mesmo foi uma intransigente defensora dos direitos humanos, participando ativamente das atividades do CBA de São Paulo até se aposentar na USP, quando veio morar no Rio de Janeiro. Aqui, continuou participando das atividades do CBA do Rio até o encerramento de seus trabalhos no início dos anos de 1980. Em abril de 1985, participou das primeiras reuniões do Grupo Tortura Nunca Mais-RJ, que aconteciam no Sindicato dos Jornalistas. Lolinha foi uma de suas fundadoras e, algum tempo depois, tornou-se secretária da entidade. Durante mais de 20 anos foi responsável por toda a correspondência do GTNM-RJ, incluindo aí as denúncias de violações de direitos humanos que se fazia em nível nacional e internacional, os conhecidos "Alertas Urgentes". Era também responsável por responder às inúmeras denúncias que se recebia de violações no Brasil e na América Latina. Incansável, permaneceu militando no Grupo até a idade de 80 anos, quando por questões de saúde foi se afastando.
Para você, querida Lola, o nosso muito obrigado. Não só por sua militância e solidariedade, mas também por sua presença sorridente, tranquila e sempre companheira.
(Biografia lida durante a entrega da Medalha Chico Mendes de Resistência/2007)
Lola, uma grande companheira!
Como filha, posso dizer que o interesse da minha mãe pelos outros sempre esteve presente. Desde pequena vi minha mãe ajudando, colaborando, participando, seja de grandes causas, como nos anos 70, na luta contra a ditadura, seja de causas menores, mas nem por isso menos importantes, como o problema de algum colega de faculdade, algum amigo, vizinho ou mesmo um mendigo da rua.
Algumas lembranças da minha infância ilustram bem o seu caráter: morávamos no Butantã em São Paulo, num bairro perto da USP, onde minha mãe foi professora por mais de 30 anos, ainda meio deserto e com poucas casas na rua, cheia de terrenos baldios. Um mendigo que perambulava pelas ruas do bairro, do qual todas as crianças fugiam em grande gritaria, orientadas por suas mães para dele não se aproximar em hipótese alguma, tocava a campainha lá em casa, todas as tardes, e recebia um prato de comida quentinha. Ordens da d. Lola!
No início dos anos 70, foram muitas as manhãs, ao me levantar para ir à escola, em que eu encontrei minha mãe no corredor, com o dedo na boca, em sinal de silêncio, por que tinha gente dormindo no chão da sala lá de casa. Só mais tarde, já adolescente, fui entender que minha mãe acolhia estudantes procurados pela ditadura. Minha mãe nunca foi vanguarda, mas fez sempre um trabalho sólido e consistente de retaguarda e apoio, muitas vezes imprescindível! E foi com esse tipo de postura, movida muito mais por um "sonho de amor por um mundo ideal, que acolhesse a todos" do que por sólidas convicções ideológicas, que vi minha mãe ingressar no Comitê Brasileiro pela Anistia, lá em São Paulo e seguir numa longa trajetória pelo CBA do Rio e depois pelo Grupo Tortura Nunca Mais, do qual foi secretária por muitos anos.
Como filha, muitas vezes busquei entender as motivações de minha mãe para participar tão ativamente dessas lutas todas, uma vez que Lola nunca teve nenhum parente desaparecido, nunca foi presa ou torturada. O que Lola teve sempre foi uma imensa capacidade de se solidarizar com o sofrimento alheio. Quando criança, dentro de uma educação católica, sonhou ser filha de Maria. Seu nome: Maria Dolores! Foi sempre a filha, entre seis irmãos, mais preocupada com as causas sociais.
Com certeza vêm desta numerosa família suas primeiras experiências de fraternidade e solidariedade. Até hoje, única sobrevivente dos seis irmãos, Lola guarda com imenso carinho as lembranças de sua infância em Araraquara, interior de São Paulo. E depois a mudança pra capital, os tempos difíceis, a família já sem dinheiro, o sustento vindo dos irmãos mais velhos, para que ela pudesse estudar e se formar em História Natural. Poucos sabem que Lola foi uma pesquisadora competente, com trabalhos publicados nos Estados Unidos.
Quando olho pra minha mãe agora, com seus 85 anos, sentada na sua cadeira de balanço, linda na sua simplicidade, vejo que para ela, muito mais do que certezas ideológicas, eram os desdobramentos de seus atos que a interessavam; o sentido deles para ela e para quem ela estava ajudando. Sei da imensa gratidão e do imenso carinho que muitos colegas e companheiros de luta sentem por ela. Sei também que sem ela, sem o seu apoio, meu pai não seria o profissional bem-sucedido que é hoje, nem o bom companheiro de mais de 60 anos de casamento; sem o seu carinho infinito, nem eu, nem meu irmão teríamos crescido e nos desenvolvido e também construído famílias sólidas e felizes, das quais ela também participou como avó carinhosa e sempre presente. Por tudo isso eu afirmo: Lola é mesmo uma grande companheira.
(Artigo escrito por sua Filha Ana Perez para o livro "20 Anos da Medalha Chico Mendes de Resistência")
Nossa querida Lola morreu em 30 de dezembro último e foi cremada em 02 de janeiro. A ela e a seus familiares as homenagens e o carinho do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ.
Pela Vida, Pela Paz
Tortura Nunca Mais!
Lola Presente!