Aos 77 anos e mantendo o mesmo olhar de menino Capixaba que aqui
chegou, viu e venceu, faleceu um dos mais alegres de nossos habitantes.
Incorporado a vida social e de trabalho, Raphael simbolizou o que de
mais belo uma pessoa podia simbolizar. Simples, humilde, alegre e
respeitado, ele navegava entre senhores e vassalos com a mesma beleza
de cortesia que sabia espalhar com seu sorriso de menino. Gostava das
noites e delas criou passos largos. Foi, socialmente onde poucos de sua
origem tinha ido mais jamais deixou de lado as pessoas de sua relação
do dia a dia. Sabia, e disto sempre deixava transparecer, que o Poder é
Transitório e que as coisas fúteis passam. Raphael jamais se meteu em
política, embora eu tenha certeza que sempre me deu seu “votinho”
quando eu, ainda acreditando no Parlamento como soluções para os
problemas das diferenças sociais puseram meu nome como candidato.
“Olhava-me com firmeza e dizia: Pinguin, você vai ter uns votinhos lá
em casa”. Neste tempo, anos 70, os votos eram “catados no contato
pessoal com os eleitores” e a gente sabia quando a fala vinha de dentro
das verdades interiores.
A vida nos ensinou muita coisa, me dizia o velho Raphael, quando o revi
uns tempos atrás num balcão da Prefeitura onde estávamos vendo coisas
de IPTU. Era o mesmo menino de 75 anos. Catuquei ele no ombro de um
lado e corri para o outro para ele, ao olhar para o lado catucado,
procurasse. Achou-me e, um largo sorriso "meninou" nosso encontro. Era
o mês de janeiro. O Sol ainda estava a pino nas Praias de Imbetiba e
Cavaleiros. Falamos amenidades. Ele perguntando pelos meus filhos Luis
Cláudio e Aninha e eu sobre Faeca e os outros 3 deles. Tempo bastante
para rever nele os anos que passou em Macaé. De uma oficina mecânica em
frente à casa de sua companheira Iane, na Avenida Rui Barbosa, até as
oficinas da CEDAE onde se aposentou. Sabia manusear com as ferramentas
com o mesmo carinho que manuseava suas amizades. Macaé e a região de
petróleo perdem um de seus mais belos exemplares humanos. Uma das mais
alegres presenças do Estado do Espírito Santo.
Em nome de O REBATE que ele sempre gostava de ler com sua esposa e
filhos e em nome de seus amigos, quero perpetuar no
www.jornalorebate.com mundialmente acessado, esta falta que o Raphael
de Ione já está fazendo nas nossas tardes noites macaenses.
(José Milbs de Lacerda Gama, escritor, cronista e historiador)...