O bairro de Garça Torta, localizado no litoral norte da capital alagoana respira beleza e criatividade.
"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada! Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão (...)" – essa é uma das mais famosas músicas infantis brasileiras, produzida pelo compositor e poeta Vinicius de Moraes. Porém, quem cantarola com a mesma empolgação dos tempos de criança, ainda não conheceu a Casa da Arte, localizada há 10km do centro de Maceió, no bairro de Garça Torta.
A Casa da Arte antiga residência de veraneio, trata-se de um centro de estudos com galeria para exposições, onde se respira beleza e cultura em pleno litoral norte. Idealizada e perpetuada pela artista plástica autodidata Edna Constant de Palmeira dos Índios, o local há 25 anos é uma ótima opção para quem busca entretenimento e informação.
A primeira exposição foi idealizada pelo artista plástico Tito Mendes, ocorreu em 1985 e explorou o artesanato. Com o passar dos anos diversos artistas (consagrados ou não) deixaram sua marca no lugar, divulgando a produção cinematográfica alagoana, fotografias e as artes plásticas. Dentre os artistas consagrados encontram-se: Celso Brandão, Delcio Uchoa, Cleide Maya, Lula Nogueira; a pintora francesa Dominique Bernard e o fotógrafo inglês Josuel Tanaka. Em média, acontecem quatro exposições temáticas por ano, outras coletivas e individuais que duram em média um mês.
Em 2004, com a assinatura de um convênio com o Ministério da Cultura, a Casa da Arte tornou-se o primeiro ponto de cultura no Estado de Alagoas integrando-se ao Programa Cultura Viva do Governo Federal. Com o projeto "Poleiro dos Anjos" voltado para crianças e adolescentes entre os 5 e 17 anos, passou a receber o apoio financeiro para a execução de cinco núcleos de trabalho: pintura (xilogravura, papel machê, origami), teatro de rua (produção de figurino e cenários), circo, música (orquestra de pífanos) e laboratório de línguas (português, inglês e espanhol). Uma vez por ano num Encontro Internacional, essas crianças compartilham o que aprenderam com crianças estrangeiras, proporcionando um verdadeiro intercâmbio cultural – a segunda edição do encontro ocorreu em janeiro deste ano.
Associando-se a essas atividades, são constantemente desenvolvidos a conscientização ambiental e o estímulo pela leitura, através da biblioteca que possui cerca de 5.000 livros. Um acervo totalmente diversificado adquirido através de doações, também possui monografias produzidas por acadêmicos da Universidade Federal de Alagoas que utilizaram a Casa da Arte como objeto de estudo, dentre eles: "A fotografia como mediadora do real" pela jornalista Isis Correia em março deste ano, que envolveu crianças do ponto de cultura na elaboração de uma mostra fotográfica, assim como, na área da ciência da informação (biblioteconomia) com "A Casa da Arte e a ação cultural: formando indivíduos leitores" por Elcy Leão e Eunícia Canuto em 2003, dentre outros.
A Casa da Arte tornou-se um celeiro da criatividade, superou a resistência de alguns moradores e parte dos problemas financeiros; exala harmonia e contribui para a transformação sócio-cultural e turística da região. Já foi palco de dois projetos de extensão na área de comunicação comunitária, através da produção de um boletim comunitário "O Ouriço" e a implantação da "Rádio Arte Comunitária". Tais características justificam o reconhecimento do Museu Afro Brasil situado em São Paulo, ao destacar a entidade alagoana em suas exposições.
"Através da arte você consegue uma socialização muita mais rápida e barata. Tenho prazer em está contribuindo por um Brasil melhor, uma sociedade mais harmoniosa, para mim supera todas as dificuldades; esse trabalho para mim é o meu plano de saúde. E o que a gente faz aqui, é um trabalho de 'contaminação', a gente contamina os meninos que vem por aqui – todos cheios de problemas em casa e quando estão nas ruas... qual o lugar mais encantador para eles? Vem tudo para a Casa da Arte", afirmou Edna Constant.
A Casa da Arte, ainda continua desconhecida para muitos alagoanos, porém vem encantando o mundo com seu estilo simples e a potencialidade oferecida. Para as crianças e adolescentes da comunidade que participam dos projetos, a pequenina casa representa um abrigo perfeito para o aprendizado, cercado por esperança e um quintal belíssimo: a praia de Garça Torta. Se o ilustre Vinicius de Morais estivesse vivo, talvez teria que compor uma nova versão para música "A Casa" e esta matéria começaria de forma diferente.