Tem passado muitas artigos e reportagens de associação de judaismo e
nazismo. E felizmente encontrei no jornal "A Folha de SP" um artigo
que contesta este tipo de associação e propõe outra reflexão. Data do
artigo 26/01/2009.
Noemi Jaffe é colaboradora do Jornal Folha de S. Paulo. Atua como
professora e escritora. É doutora em Literatura Brasileira pela USP.
Envio artigo para seu conhecimento e para se opor a colocação do seu jornal. Afinal estamos numa democracia.
Naava
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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
TENHO OUVIDO insistentemente, na imprensa, entre meus alunos e também entre alguns amigos, comparações entre a ação recente de Israel na faixa de Gaza e o Nazismo.
"Estado nazissionista", montagens de fotos justapondo terrores do nazismo com aparente correspondência exata aos horrores sofridos pelos palestinos. Tudo isso é absolutamente inaceitável e, creio, revelador.
Não quero aqui me posicionar sobre a ofensiva israelense que é, certamente, controversa sob muitos pontos de vista, mas falar sobre esse frenesi comparativo entre o nazismo e Israel. O que quero, essencialmente, dizer, é que nada, nada, é comparável ao nazismo.
A não ser que surja uma nova campanha nacional e continental contra uma raça, simplesmente pelo fato de ela ser uma raça e não outra; a não ser que haja uma ação consensual, coletiva e institucional, de eliminação sumária e calculada de um povo inteiro, das formas mais cruéis e sádicas possíveis, perpetradas por um exército que parecia gozar no exercício de seus pequenos poderes (campeonatos para ver quem mata mais prisioneiros com um tiro só, troca de fetos por ratos, inserção de órgãos doentes no lugar de órgãos saudáveis etc.), a não ser que haja um certo silêncio da parte de outros países em relação a práticas ocultas mas também ostensivas, da extinção de um povo inteiro, a não ser que isso aconteça novamente, nunca, e repito, nunca mais se pode chamar qualquer outra ofensiva de nazista.
Em primeiro lugar, por mais que se discorde do argumento israelense, não há como estabelecer uma ordem comparativa entre um argumento político e um argumento racista. Ambos podem ser condenáveis, mas suas naturezas são diferentes.
Já atingimos um certo estágio da civilização, pós-iluminista, em que os argumentos de ordem política e territorial têm mais plausibilidade do que argumentos ideológicos, religiosos e, principalmente, raciais. Não importa o grau de verdade contida no argumento. Não se trata de messianismo, direito histórico ou sagrado. Trata-se de algo passível de discussão.
Em segundo lugar, a pergunta central é: por que a comparação é feita exatamente com o nazismo e não com outras ofensivas terríveis que já ocorreram ao longo da história, perpetradas por outros países?
Acredito que aí é que esteja a parte reveladora desta comparação que, na minha opinião, é mais sádica do que qualquer outra coisa. Comparar Israel com o nazismo é como dizer: "eles não aprenderam a lição; estão praticando exatamente aquilo que sofreram".
Ou seja: comparar a ação de Israel com o nazismo é usar o próprio argumento racista do nacional-socialismo: "os judeus merecem o sofrimento" ; é justificar subconscientemente os acontecimentos da segunda guerra e é, também, livrar-se da culpa que todos sentimos pelo que aconteceu.
Comparar o nazismo à ação de Israel é, na verdade, uma prática antissemita, racista e ignorante. Uma ignorância orgulhosa, vingadora e recalcada, como talvez todas as grandes ignorâncias sejam, culpadas pela perpetração de barbaridades atrozes e injustificáveis.