Sou mulher, pobre, moradora desse fundão de Pará, criminosamente discriminada pela saúde pública, conto agora somente com sua ajuda para reparar a injustiça de que sou vítima.
Com graves problemas na coluna, recebi há cerca de dois anos indicação do ortopedista Celso R. Martins Leão (CRM 2106), de Belém, para fazer uma cirurgia de redução dos seios (pelo enorme volume, eles me entortam).
A Secretaria de Saúde do meu município, atendendo a essa indicação médica, incluiu meu nome em uma lista para tal cirurgia no Hospital Regional de Conceição do Araguaia. Em março deste ano, fui chamada para uma triagem, na qual o cirurgião plástico Weber Franco de Oliveira (CRM 8068) analisou meu caso, constatou a necessidade do procedimento e me mandou para um mastologista, pois, no exame que fez, diagnosticou também nódulos nos meus seios.
O mastologista Elias José Nascimento (CRM 5274), ao me atender, me disse para não contar ao dr. Weber que sou de Xinguara. Se contasse, o cirurgião plástico não faria a cirurgia de redução dos seios. De acordo com o Dr. Elias, o Dr. Weber odeia a Secretária de Saúde de Xinguara, e, em razão dessa raiva, não atende os xinguarenses. Fiquei calada.
Dia 25 de setembro, a diretora do Hospital Regional de Conceição do Araguaia ligou para a Secretária de Saúde de Xinguara dizendo que era para eu comparecer àquela unidade hospitalar no dia seguinte, às 17h30. Eu iria realizar o sonho de minha vida. Mas passei a viver outro pesadelo. Fui, me internaram e aguardei em vão pela cirurgia até as 16 horas do dia 27. O dr. Weber recusou-se a fazer o procedimento médico alegando que eu não sou de Conceição.
Mas a verdade não parece ser esta. A Senhora Aline Aparecida Ramos fez essa cirurgia no dia anterior mesmo sendo mulher de um delegado de Polícia Civil do Tocantins. Se eu fosse do Chuí ou de Oiapoque deveria ser atendida, pois, antes de tudo, sou brasileira. Esse mesmo delegado, que estava presente no hospital, foi muito gentil comigo e me orientou a registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Conceição do Araguaia, o que fiz (número: 00056/2008.001397-2).
Infelizmente, senhor editor, o Hospital Regional de Conceição do Araguaia se negou a me dar a documentação médica que prova minha chamada para a cirurgia, minha entrada no hospital, minha internação e a justificativa para o não atendimento.
Fico a me perguntar: será que a governadora Ana Júlia tem esse tipo de discriminação como política? Será que o Ministério Público, defensor da sociedade, pode me socorrer? Será que a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica do Pará concorda com tal atitude discriminatória? Será que existe justiça para meu caso?
Duvido que esse homem seja mesmo médico – se é, se esqueceu do juramento de Hipócrates. Com a palavra, o CRM. Duvido, ainda, que seja cirurgião plástico – esta não é a ética da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em cujo site não localizei o nome do médico. Se não for cirurgião, senhor editor, o governo do Pará, o hospital e o próprio médico podem ser penalizados, os dois primeiros, por contratar um profissional inabilitado; o terceiro, pelo exercício irregular da profissão. O que a SBCP tem a dizer para essa pobre mulher?
Não quero prejudicar ninguém. Inclusive, deixei para escrever essa carta fora do período eleitoral, para ninguém alegar uso político do meu caso. Quero e preciso de uma cirurgia para redução de mamas, a que tenho direito. E não quero ser discriminada, pois o SUS manda dinheiro para atender quem tiver necessidade, não para cidadão A, B ou C.
Nada tenho com a briga do referido médico com a secretária de Saúde de meu município, que é mulher do prefeito Davi Passos, do PT. Até gostaria de saber porque ele tem tanto ódio dela. O SUS, isso eu sei, tem por princípio a universalidade do atendimento.
A divulgação desta carta por um jornal de grande alcance, como o seu, alertaria as autoridades, inclusive o Ministério Público, para o problema da discriminação nos hospitais públicos. No meu caso, me discriminaram por ser mulher, pobre e de Xinguara. Se eu chegasse na clínica particular do dr. Weber com dinheiro para pagar ele não se importaria de que cidade saí.
Devo ser somente mais uma vítima. É bom o governo do Pará começar a encontrar uma solução para prevenir que a dor que sinto agora não atinja outros cidadãos e cidadãs.
Contei minha história como sei e como posso provar. O senhor tem o direito de resumir essa carta ou reescrevê-la para torná-la mais clara aos seus leitores. Talvez o jornal se interesse pelo drama de tantos paraenses vitimados pelo Sistema Único de Saúde e resolva fazer uma reportagem. Estou à disposição.
Muito grata pela atenção.
Rosimar Rocha Bernaldo
Agente Comunitária de Saúde de Xinguara-PA
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