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Chegamos à metade do mês de Março, com menos de 90 dias de mandato dos senadores, deputados, governadores e do presidente. E parece que boa parte de nossos nobres políticos não aprendeu a lição com os erros dos mensaleiros e sanguessugas ... Continuam figurando no noticiário por falcatruas e peripécias dignas de um novo FEBEAPÁ , o “ Fe stival de Be steiras que A ssolam o Pa ís” idealizado pelo falecido escritor Stanislaw Ponte Preta . Se os contos absurdamente hilários relatados por Stanislaw são verdade, eu não sei. Mas tenho certeza que se estivesse vivo , ele não perderia tempo e logo documentaria o circo de horrores em que se transformou a política do nosso país.
Um dos momentos mais impressionantes da polêmica sobre o assunto foi uma reportagem pra lá de preconceituosa que ilustrou a capa de uma edição da Revista Veja , criticando a eleição de candidatos considerados “ folclóricos ”, como o estilista Clodovil Hernandes (PTC-SP, foto), o cantor Frank Aguiar (PTB-SP) e Paulo Maluf (PP-SP). Quanto ao último, nem me assusto: Maluf já teve seu nome envolvido em corrupção e desvio de verbas várias vezes, já chegou a estar preso em outras, e só está solto graças aos inúmeros habeas-corpus conseguidos por seus advogados.
Por que a reportagem é parcial e preconceituosa ? Simples: ela é pejorativa no termo “candidatos folclóricos” e marginaliza os mesmos, quando nem todos eles vão à Brasília sem intenção de trabalhar de verdade. A publicação, supostamente imparcial , deveria se retratar publicamente a esses políticos, como forma de amenizar seu erro . E só para constar : até agora, Clodovil já apresentou sete projetos à Câmara, e só faltou a uma sessão ; e Frank Aguiar não faltou nenhuma vez , mas ainda não apresentou nenhum projeto.
Outro fato que chamou a atenção nesta semana foi um inusitado plebiscito aprovado: a consulta popular visa criar ou não um novo estado brasileiro, o do “ Maranhão do Sul ”, que seria obviamente uma repartição do Maranhão . A nova unidade federativa ocuparia uma área de 150.000 km 2 , teria cerca de 1.100.000 habitantes espalhados por 49 municípios (a capital seria Imperatriz ) e seria o quinto maior estado da Região Nordeste entre dez. A proposta, de “Sua Excelência” senador Edison Lobão (PFL-MA), foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, e agora segue para o plenário da Casa e depois vai à Câmara dos Deputados. Porém, mesmo aprovada em ambos os locais e também pela população, não há garantia de que o novo estado seja criado. Para isso, a Assembléia Legislativa do Maranhão deve ser consultada e terá o poder de deliberar sobre o assunto.
Ainda sobre a geografia do Brasil, nosso país, que hoje tem 5.565 municípios , pode ganhar mais 619 . Isso mesmo: o número de cidades pode passar de 6 mil , caso essa “ farra de emancipações ” se concretize. E o pior ainda está por vir, como no exemplo: se 500 cidades forem criadas, isso implicaria 500 novos prefeitos , 500 vice-prefeitos e mais de 4 mil vereadores . Agora imagine o peso que esse número de novos cargos públicos traria ao Governo. Pois o deputado Liberman Moreno (PHS-AM, foto) imaginou e ainda assim é a favor da proposta. Presidente da União Nacional dos Legislativos Estaduais (Unale), Liberman acredita que “ os municípios-mãe são muito grandes e não têm condições de atender às necessidades da população. A conseqüência disso é o êxodo rural ”, citando como exemplo seu estado de origem, o Amazonas .
Porém, o tal projeto está parado no Senado , já que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP, foto) resolveu racionalizar a questão e fez requerimentos aos ministérios da Fazenda, Integração Nacional e das Cidades para que se analisasse o impacto da medida nos cofres públicos , no desenvolvimento regional e nacional e na gestão dos serviços públicos. O motivo: muitas dessas comunidades têm apenas 3 mil habitantes.
E no Rio de Janeiro... O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB, foto) resolveu passar por cima de um de seus principais compromissos de campanha : a construção da Linha 3 do Metrô. O projeto original, datado de 1978, prevê a ligação entre a atual estação da Carioca , no Centro do Rio, ao município de Itaboraí , a 40 km da capital, passando pelas cidades de Niterói e São Gonçalo . O principal entrave na obra é o meio de se chegar até lá com o Metrô, já que isso seria feito por debaixo das águas da Baía de Guanabara , ao lado da Ponte Rio-Niterói. E para chegar a Itaboraí, seria construído um enorme túnel complementando a construção.
Cabral alega que a obra é cara demais, com valor girando na casa de R$ 900 milhões . Por isso, o novo projeto prevê que na primeira fase (Niterói-Itaboraí) seja descartada a hipótese do túnel subterrâneo, e a alternativa seria o VLT (veículo leve sobre trilhos), aproveitando a antiga e sucateada linha férrea que liga Niterói a Guaxindiba, em São Gonçalo. Ou seja: Itaboraí , cidade valorizada com o início da construção de um pólo petroquímico, ficaria de fora do projeto, pelo menos por enquanto. Abre o olho , governador!
Recentemente, li um texto do deputado carioca Chico Alencar (PSOL-RJ). Nele, o ex-petista (o deputado deixou o PT após os escândalos envolvendo o partido e o Governo) dizia que um amigo sonhara que um homem-bomba invadia o Congresso Nacional e se suicidava em meio aos deputados . O tal amigo teria dito que acordou assustado e preocupado com Chico e outros gatos pingados , não importando os demais, todos corruptos , segundo ele.
Ainda sobre o tal sonho, o correligionário da ex-senadora Heloísa Helena (PSOL) ressaltava o quanto um pensamento destes - ainda que apenas na fantasia subconsciente dos sonhos – reflete a descrença que temos hoje em dia da política. De fato: garanto que como eu, você ficou revoltado ao saber que os deputados da última legislatura – muitos deles infelizmente conseguiram se reeleger... – tentaram “no grito” dobrar o próprio salário , enquanto o trabalhador de verdade e os aposentados ganham míseros trocados apenas para corrigir a inflação .
E é essa descrença e esse pensamento de que “ político é tudo igual , só muda o nome e o partido” prejudica e muito o desenvolvimento de nosso país. Agora, que eles já assumiram, é tarde para chorar o leite derramado. Mas é hora de cobrar deles o tal “decoro parlamentar” que eles devem seguir. Se não o fazem, o que se tem a fazer é levar as reivindicações à imprensa e ao Ministério Público , para que então a Justiça se encarregue de punir os ladrões de terno e gravata .
Em resumo: de onde se esperavam piadas e arrependimento da população por eleger candidatos considerados “folclóricos”, os risos que não vieram deram lugar à ação ; e de onde se esperava muito, apenas decepções . Aí estão os erros que ainda podem ser corrigidos, se os homens e mulheres em dívida com o Povo honrarem suas palavras e trabalharem pelo País. Estamos de olho...
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