Dezenas de camponeses, operários e outros lutadores do povo prestaram homenagem ao professor Renato
Como despedir-se de alguém imprescindível? Entre os que conheceram Renato Nathan Gonçalves, o Professor Renato, ainda resistem a dor e a revolta pelo seu assassinato. Mas, o dia 30 de abril, em Jaru, foi o momento de recordá-lo como aquele que lutou em defesa dos camponeses pobres de Rondônia durante quase toda a vida.
No salão paroquial da matriz da Igreja Católica de Jaru (RO), mais de 200 pessoas se reuniram para prestar homenagem a Renato. O ato começou por volta das 10h30min e, além da família, contou com a participação de várias entidades: Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos, Movimento Estudantil Popular Revolucionário, Movimento Feminino Popular, Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina, Comissão Pastoral da Terra de Jaru e de Rondônia e União dos Caminhoneiros de Rondônia.
O ato foi iniciado ao som do hino camponês Conquistar a terra. A vida de Renato foi relembrada através de um texto, que narrou sua vida pessoal e sua luta em defesa dos camponeses. Poesias também fizeram parte da homenagem. Uma professora de Renato deu um depoimento emocionado: "No começo, eu era a professora. Mas, depois, foi ele quem passou a me ensinar".
Apesar da emoção, a palavra de ordem "Justiça" não foi esquecida, já que os que os que ali estavam para relembrar Renato também estavam exigindo investigação e punição para seus assassinos. Por volta das 13h, uma passeata percorreu as principais ruas da cidade. Até agora, a polícia não deu maiores explicações sobre o assassinato de Renato. As organizações de defesa dos direitos do povo estão preparando uma denúncia para a Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a morte de Renato e de vários camponeses no Brasil.
Execução covarde
Renato Nathan Gonçalves Pereira era conhecido entre os camponeses de Rondônia como Professor Renato. Ele ganhou o apelido de professor após ajudar a organizar várias escolas populares e alfabetizar dezenas de jovens e adultos no campo. Renato tinha 28 anos, era casado, tinha uma filha de dois anos e trabalhava como topógrafo.
Ele foi assassinado no dia 09 de abril, em Jacinópolis (RO), quando retornava de Buritis para seu sítio, em Campo Novo. Segundo moradores da região, ele teria sido parado numa blitz e covardemente assassinado por policiais civis a paisana com três disparos a queima roupa, sendo dois na nuca e um no rosto.
Após o assassinato, a imprensa de Rondônia publicou várias reportagens tentando desqualificá-lo, em especial os sítios rondoniavip e rondoniaaovivo. Nessas matérias, a polícia era parabenizada pelo "belo trabalho". O "belo trabalho" da polícia consistia em criminalizar a vítima e não o algoz. A polícia devassou a casa de Renato e tentou incriminá-lo de todas as maneiras. Para a polícia, ser chamado de professor pelos camponeses, possuir instrumentos de trabalho como trena e GPS, possuir livros e materiais de apoio à luta camponesa significava que Renato era altamente perigoso. Para qualquer pessoa sensata, significa apenas que ele era um trabalhador e apoiador da luta popular.
A imprensa e a polícia também tentaram vincular Renato à chacina ocorrida no dia 05, em Buritis, na qual seis pessoas foram assassinadas. A reportagem do rondoniaaovivo afirmava em tom categórico "foi descoberto que vizinho ao sítio de Renato morava Sebastião Cícero Sousa e Silva, vulgo Tiãozinho, que foi morto na chacina da última semana na linha C-34 em Buritis" (rondoniaaovivo.com.br, 11/04/2012).
Mas eis que alguns dias depois, a polícia de Ariquemes realizou uma coletiva de imprensa, na qual apresentou o acusado pelo crime e as armas utilizadas. A Chacina haveria acontecido por engano e a motivação seria uma vingança pessoal. O nome de Renato não foi mais citado.
Em relação ao assassinato de Renato, a polícia afirma ainda não ter pistas dos assassinos.