Tailândia: contra desemprego, tomar as terras do latifúndio

Governo federal coloca Força Nacional de Segurança para reprimir tomadas de terras no Pará

O governo federal voltou a deslocar 150 soldados Força Nacional de Segurança para Tailândia, cidade do nordeste paraense, mas agora para reprimir uma onda de tomadas de terras na região que já soma mais de 20. Esta é a única alternativa para os milhares de trabalhadores que perderam o emprego com a chamada operação "Arco de Fogo" que fechou dezenas de serrarias e madeireiras. Esta operação "Arco de Fogo" foi executada pelo Ibama e respaldada por um grande efetivo da Força Nacional de Segurança enviada pelo governo federal para substituir a PM paraense após os violentos confrontos ocorridos no dia 19 de fevereiro e exibidos para todo Brasil, quando os trabalhadores da cidade enfrentaram por mais de 12 horas a repressão promovida pela tropa de choque da Policia Militar. O número de trabalhadores do setor que foram demitidos ultrapassou 8 mil, em uma população de 60 mil habitantes. Isto sem falar nos milhares de empregos indiretos que também foram extintos, uma vez que a economia da cidade girava em torno da exploração da madeira. O comércio teve queda de 80% no faturamento e muitos moradores da região estão desiludidos com esta situação e já falam em vender tudo e ir embora porque não é mais possível trabalhar.

Esta situação também vem ocorrendo em outras cidades da região como Paragominas, Ulianópolis, Rondon do Pará, Abel Figueiredo, Bom Jesus do Tocantins, Goianésia, Breu Branco e Jacundá. O governo de Estado que reprimiu violentamente a população prometeu mundos e fundos, anunciou muitos investimentos na cidade, a prefeitura abriu frentes de trabalho mas o que aconteceu foram meros paliativos e esmolas de algumas "cestas básicas" que não resolvem nada. Mas isto não enganou a população, nem aplacou sua revolta. Todos dizem, por uma boca só, que são medidas para tentar tapear e esconder o golpe desferido contra a economia da região e contra os que vivem do próprio trabalho. Medidas como estas se tornaram marca registrada das administrações petistas: dar esmolas e pequenos presentes enquanto persegue os pequenos, fazendo o jogo dos grandes não permitindo que se desenvolva a pequena e média produção ou que se possa trabalhar com honestidade.

Governo quer expulsar camponeses para acabar de entregar a Amazônia

As ações em Tailândia têm um objetivo maior e se relacionam com a situação vivida por toda a população da região amazônica, vítimas de uma política de perseguição que visa esvaziar toda a região. Sob acusação pela imprensa do latifúndio e pelo governo de "bandidos", "guerrilheiros", "terroristas", os movimentos de luta pela terra estão sendo tratados como organizações criminosas, justificando todo tipo de ataque e perseguição.

Em novembro de 2007, fizeram uma verdadeira operação de guerra contra 1100 famílias camponesas que tomaram a fazenda Forkilha, em Redenção; foi uma operação envolvendo PM, Polícia Civil, Ibama e com apoio do Exército que, sob o pretexto de busca e apreensão de armas, expulsou da terra, prendeu, e torturou centenas de homens, mulheres e crianças. Este ano, em fevereiro fizeram o que fizeram contra o povo de Tailândia e desde março se abriu uma gritaria na imprensa do latifúndio de Rondônia para justificar a expulsão de milhares de famílias de camponeses que vivem e trabalham na região de Buritis.

O objetivo destas ações repressivas está longe de ser por badalados motivos "ecológicos e ambientais" ou para "desmantelar campos de treinamento de guerrilha" que não existem e nunca existiram. Os governos estaduais e federal, através de sua odiada polícia e política ambiental, querem impedir que os pequenos possam explorar a floresta. Matar um bicho é crime, tirar uma árvore é crime que o camponês, que não tem dinheiro para pagar as pesadas multas, acaba na cadeia.

Enquanto isto a destruição da floresta bate recordes a cada ano, derrubada pelo correntão do latifúndio para abrir novas áreas de pastagem e de plantio de soja e cana. E quem promove a destruição não é os pequenos e médios camponeses. Quem destrói o meio natural, quem ameaça a floresta amazônica são os grandes empresários, os latifundiários, as mineradoras. Tudo incentivado e apoiado pelo governo para exportar, exportar, exportar.

É isto que dilapida nosso patrimônio e ameaça nosso meio natural. Querem expulsar os pequenos e médios da região amazônica e entregar a exploração da floresta amazônica à sanha de grandes empresários nacionais e estrangeiros sob a forma de aluguel por 60 anos, renováveis, conforme já estabelecido pelo governo Lula/FMI. O primeiro leilão de floresta já foi realizado em Rondônia e o objetivo e fazer isto em toda Amazônia.

Vale faz sangria dos recursos minerais do País

Recentemente a mineradora VALE, antiga Companhia Vale do Rio Doce, anunciou que pretende construir mais uma ferrovia ligando sua principal mina de exploração de minério de ferro, a mina de Carajás, ao porto de Itaqui, no Maranhão. Segundo denúncias de entidades ligadas a luta dos camponeses na região a Vale teria adquirindo terras de assentamento nas cidades de Tucumã e Ourilândia do Norte para abrir novas minas.

O Pará é refém desta empresa que manda e desmanda e compra o que for preciso para garantir que seus interesses não sejam prejudicados. Durante o governo Lula/FMI a Vale, referida como "maior empresa nacional", teve um aumento vertiginoso no seu faturamento, bateu recordes da quantidade de minerais transferidos ao exterior, abriu outras minas no Estado, extraindo e exportando diversos tipos de minerais e recebendo vantagens fiscais e investimentos públicos dignos de presentes dados de um pai para um filho querido.

O poder desta empresa é tão grande que a Governadora Ana Julia (PT) deslocou recentemente 350 soldados da PM para impedir que camponeses fechem a ferrovia por onde a Vale transporta as riquezas que rouba do país, em protesto pelos 12 anos do trágico e covarde massacre de Eldorado dos Carajás.

Só a pequena e média produção podem defender e trazer o progresso para Amazônia

Convocamos todos os brasileiros que têm compromisso com nosso País, com os interesses de nosso povo, a se levantar em defesa das riquezas da Amazônia. Ela nos pertence e não podemos deixar que nos tomem e a destruam. Primeiro os portugueses levaram nosso ouro e nossa madeira, depois fomos transformados e um grande canavial, nos tornamos um mercado consumidor dos produtos ingleses e fornecedores de matéria-prima e de mão de obra barata.

Hoje os Estados Unidos, principalmente, é que mandam e decidem o que vai ser produzido e a que preço. Como antigamente continuamos a fornecer o ouro, agora acrescido do minério de ferro, alumínio, níquel, urânio e muitos outros minerais estratégicos que não vão dar outra safra. Com a pressão para produzir etanol para abastecer o mundo caminhamos a passos largos para voltar a ser um imenso canavial. Sobre toda esta quantidade colossal de riquezas que se envia ao exterior não se paga um único centavo de imposto que possa ser usado em beneficio do povo brasileiro. É isto que o governo e sua imprensa antipovo e entreguista chamam de "progresso" e "crescimento".

Nós camponeses que povoamos, trabalhamos, produzimos os alimentos e construímos a riqueza da nação; nós camponeses que enfrentamos a malaria e toda sorte de doenças, sem atendimento público de saúde, que não temos escolas para nossos filhos; nós camponeses que enfrentamos a falta de estradas, não recebemos incentivos e qualquer apoio das ditas autoridades e somos diariamente acossados pela violência dos latifundiários, que agem impunemente na região. Nós viemos para cá de várias partes do País a busca de trabalho e, apesar de toda esta repressão e perseguição, iremos continuar trabalhando a terra e nos somando à defesa da Amazônia que pertence ao povo brasileiro. Não aceitamos que nos expulsem do campo para ir engrossar o cinturão de fome e miséria na cidade.

A Liga dos Camponeses Pobres do Pará e Tocantins convoca a todos os camponeses, democratas, professores, estudantes, advogados, mulheres, pequenos e médios comerciantes, jovens, pequenos e médios madeireiros, profissionais liberais, e todos os patriotas a resistir a todos estes ataques e se levantar contra este roubo descarado e de proporções gigantescas de nossas riquezas.

Terra a que nela trabalha!
Abaixo a entrega de nossas riquezas!
Abaixo a repressão contra o povo amazônico!
A Amazônia é nossa!

Conceição do Araguaia, 16 de abril de 2008

Liga dos Camponeses Pobres do Pará 

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