Quem é Ruço?
Ruço chegou a Rondônia com seu pai no início dos anos 90. “Seu” Odiel veio de Belo Horizonte, onde chegou expulso pela miséria de uma das regiões mais pobres do mundo, o Vale do Jequitinhonha.
As dificuldades da cidade fizeram a família de Ruço empreender o caminho de volta para o campo, e foram para Rondônia. Conseguiram um lote, plantaram café. No final dos anos 90, crise. No Brasil, latifundiários conseguem repetidos perdões de suas milionárias dívidas com os bancos oficiais, enquanto circulam com carros do ano e roupas de grife. Os camponeses pobres preferem honrar o nome. O pai de Ruço, “seu” Odiel, vendeu seu lote.
Os filhos, ainda jovens, vendo as agruras do pai, decidiram lutar pela terra junto com a Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia, cuja origem remete às famílias que resistiram ao bárbaro, cruel e covarde ataque das forças policiais do Estado na Fazenda Santa Elina, Corumbiara, sul de Rondônia, 1995, cujas cenas de torturas e execuções sumárias chocaram a nação, e até hoje, passados mais de 10 anos, estão impunes.
Ao contrário de todas as expectativas alardeadas após o resultado do processo eleitoral de 2002, aumentam as mortes de camponeses assassinados por pistoleiros a mando de latifundiários.
É neste cenário que em Jaru, na região de Seringal, o latifundiário Antônio Martins dos Santos, conhecido na região por “Galo Velho”, dono da Leme Empreendimentos, citado no “Livro Branco da Grilagem de Terras” (Ministério do Desenvolvimento Agrário, 1999-2002) como um dos maiores grileiros do país, espalha o terror na região.
Camponeses acampados procuraram a justiça, pelo seu advogado peticionaram solicitando a inclusão da área como “área de conflito agrário”, tentaram acionar o próprio Incra, mas nada, as autoridades fizeram ouvidos de mercador.
Em circunstâncias no mínimo estranhas, um dos pistoleiros de “galo velho” aparece morto, e aí então surgem do nada as autoridades do Estado.
Começa o calvário de Ruço. Junto com outros dois camponeses ativistas da Liga dos Camponeses Pobres é preso.
Se os outros dois camponeses foram liberados por insuficiência absoluta de motivos para que permanecessem detidos, foi desencravado contra Ruço um processo antigo por um conflito em um bar, transformada a acusação em tentativa de homicídio, e Ruço condenado.
Desde então, Ruço, passou a ser um refém do latifúndio contra o movimento camponês combativo. Só escapou da morte na cadeia de Jaru pela intervenção firme dos outros presos, quando pistoleiros conhecidos na cidade e ligados a “galo velho”, foram detidos por crimes diversos (todos foram soltos posteriormente), e urdiram uma intriga para assassiná-lo.
Quando, enfim, já cumprira parte da pena a que fora condenado e teria direito a liberdade, mesmo diante da manifestação do Ministério Público a seu favor, Ruço foi mantido preso, conforme reconheceu a própria autoridade, por ser “membro da Liga dos Camponeses Pobres”.
Após manifestação pacífica de camponeses em Jaru pedindo sua libertação, Ruço foi ilegalmente transferido para a famigerada penitenciária de Urso Branco, em Porto Velho (repetidamente condenada, por organismos da própria OEA, pela violação dos direitos humanos), sob a alegação de que os camponeses pretendiam invadir a delegacia de Jaru para retirá-lo à força.
No final do ano de 2006, devido à grande pressão feita pelos movimentos populares e apoiadores, foi conquistada a transferência para a Cadeia Pública de Ariquemes, onde ele ficou mais próximo de sua família e sem o risco de morte que corria em Urso Branco.
CAMPANHA PELA LIBERDADE DO CAMPONÊS
WENDERSON DOS SANTOS
Nos próximos dias 03 e 04 de abril estarão indo a júri popular, em Jarú-Rondônia, os camponeses pobres Wenderson Francisco dos Santos, Edilberto Resende da Silva e Joel Gomes da Silva.
Trata-se de um Processo-farsa que vem se arrastando desde de 2003 e reflete a atual situação dos conflitos agrários coletivos, ou seja, a total criminalização da luta pela terra e a tentativa de “pacificar” conflitos sociais através do Direito Penal.
A afirmação Processo-farsa se baseia nos seguintes fatos:
• São acusados de praticarem homicídio contra conhecido pistoleiro da região, que trabalhava para o latifundiário Galo Velho, proprietário da Leme Empreendimentos SA, empresa fantasma, que grila terras públicas. Foi denunciada em relatório da CPI de grilagem de terras do governo federal.
• Uma testemunha, também conhecido pistoleiro de Galo Velho, afirma ter reconhecido o camponês Wenderson, de máscara a uma distância de 100 metros .
• A juíza é filha de latifundiários e já demonstrou sua perseguição política. Justificou a transferência de Wenderson para presídio Urso Branco afirmando que o mesmo era membro da Liga de Camponeses Pobres e que sua organização estava realizando manifestações contra sua prisão, sendo assim uma ameaça para ordem pública. OBS: A transferência de Wenderson foi após uma vigília pacífica.
• Este ano a humilde família do pistoleiro morto contratou escritório de advocacia para ser assistente de acusação do Ministério Público. Tudo normal se não fosse o fato de tal escritório normalmente cobrar altos honorários. Quem então pagaria a conta? A família ou os latifundiários? E mais, o proprietário deste escritório é um ex-militar conhecido torturador do regime militar (conforme noticiou a Revista Veja de 09/12/1998, pp. 50/51).
CAMPANHA PELA LIBERTAÇÃO E CONTRA A PERSEGUIÇÃO AOS CAMPONESES
Diante de tantos abusos e arbitrariedades a Liga dos Camponeses Pobres, a Liga Operária, o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e o Núcleo dos Advogados do Povo realizaram intensa campanha de denúncia e apoio.
Em agosto de 2006 foi produzida uma Carta Aberta em apoio aos camponeses e exigindo a imediata libertação de Wenderson. Tal Carta atingiu cerca de mil assinaturas sendo subscritores entidades nacionais e internacionais e diversas peronalidades democráticas de nosso país. Entres estas estão Associação Internacional dos Advogados do Povo, Grupo Tortura Nunca Mais, Oscar Niemeyer, Ennio Candotti (Presidente da SBPC), o criminalista Nilo Batista entre tantos outros.
O júri estava marcado para o dia 13 de setembro passado, mas, devido ao estrondoso êxito da campanha de denúncia e solidariedade, a própria juíza que em todos os momentos decidiu em desfavor de Wenderson suspendeu o júri e pediu o desaforamento (transferência para a Comarca de Porto Velho), uma vez que a campanha em defesa do camponês havia frustrado a farsa para condená-lo. O pedido da juíza foi negado no Tribunal. A prisão ilegal de Ruço se prolongou por todos esses meses até hoje.
Ações de solidariedade
ABI
A Associação Brasileira de Imprensa aderiu à campanha desencadeada pelo
Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos (Cebraspo), pela
libertação do camponês Wenderson Francisco dos Santos, o Russo, que foi
preso em Rondônia em 2003, em regime fechado, e deverá ser julgado até
o fim do mês. O manifesto do Cebraspo
conta também como o apoio da Liga Operária de Rondônia, do Sindicato
dos Trabalhadores na Indústria da Construção de Belo Horizonte e Região
Metropolitana, do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário
de Belo Horizonte e de mais 88 organizações de diversos setores.
( www.abi.org.br )
UNIR E ENTIDADES DISCUTEM CONFLITOS AGRÁRIOS
“O presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência SBPC,
Prof. Ennio Candotti, estará em Porto Velho no dia 04 de Setembro
participando de eventos de apoio a Wenderson Francisco dos Santos, o
Ruço, membro da Liga dos Camponeses Pobres de Rondônia (LCP), preso a
quase um ano no presídio Urso Branco. Ennio Candotti estará na UNIR
debatendo com pesquisadores, no Conselho Superior da UNIR e em Ato com
a Imprensa para divulgar uma campanha organizada a nível nacional em
defesa de Ruço.”
(www.adunir.org.br)
Nós, estudantes reunidos no II EGEPE – Encontro Goiano dos Estudantes de Pedagogia, nos dias 24 e 25 de março de 2007, nos tornamos cientes das arbitrariedades que vêm ocorrendo contra o movimento camponês no Estado de Rondônia e diante delas declaramos publicamente total repúdio.
Estamos denunciando a todo vapor a investidas de repressão contra o acampamento Jacinópolis II, repressão esta que está intimamente ligada ao aproximar da data do julgamento de Wenderson dos Santos (Ruço), preso injustamente há quase quatro anos.
Já bastam os inúmeros assassinatos de camponeses na região.
Repudiamos a campanha de imprensa destinada a expor os trabalhadores, homens, mulheres, crianças e idosos, defensores do seu pedaço de terra, como criminosos e bandidos.
Saudamos as conquistas que o Movimento Camponês de Rondônia tem tido nos últimos anos, como a construção de estradas e pontes, o sucesso da produção, enfim o próprio povo construindo seu destino, exemplo de um futuro melhor para o país.
Exigimos a imediata libertação de Ruço e de Dercy, este último preso e brutalmente torturado no último dia 21 de março.
Assine a Carta Aberta “Contra a criminalização e perseguição ao Movimento Camponês de Rondônia” mandando e-mail para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Acesse-a em
Jaru, 21 de março de 2007
Denúncia grave!
Na madrugada de hoje houve mais um crime contra camponeses pobres em luta pelo sagrado direito à terra. Aproximadamente 12 caminhonetes cheias de policiais civis e militares invadiram o distrito de Jacinópolis, no município de Nova Mamoré, noroeste de Rondônia promovendo verdadeiro terror. Policiais de Porto Velho fortemente armados invadiram brutalmente as casas de três camponeses no projeto e nas linhas Eletrônica e 05. Os policiais sem mandado de prisão, invadiram a casa do administrador do distrito que foi preso e algemado, estouraram com uma bomba a porta da casa do camponês Sebastião, ambos são moradores da área desde o início da colonização em 2000. O camponês Delci Francisco Sales também teve sua casa invadida, foi arrastado por policiais para um córrego próximo onde foi espancado e torturado com afogamento durante horas.
Logo depois a polícia também atacou o acampamento José e Nélio, que fica na fazenda Condor, na linha 03, latifúndio de 45 mil alqueires.
O camponês Delci foi levado para a cidade de Buritis onde continuou sendo humilhado, a polícia desfilou pelas ruas com ele preso numa caminhonete como se fosse um animal.
Segundo informações, vários camponeses podem ter sido presos e encaminhados para o Urso Branco, presídio famigerado, condenado por organismos nacionais e internacionais por constantes violações dos direitos humanos.
Esta operação em Jacinópolis já estava sendo maquinada pelo latifúndio e seus agentes. Em fevereiro deste ano a imprensa marrom lançou matérias caluniosas onde atacavam a LCP – Liga dos Camponeses Pobres como responsável por crimes ambientais, grilagem de terras e assassinatos. Estas matérias não foram por acaso, elas tinham o objetivo de colocar a opinião pública contra os camponeses que lutam pela regularização das terras ocupadas há mias de oito anos e pelo direito de viver e trabalhar nelas.
Toda esta campanha de criminalização do movimento camponês tem o objetivo de combater o crescimento das tomadas de terras e da organização dos camponeses em todo o estado, especialmente na região em torno de Jacinópolis. Os latifundiários estão se sentindo ameaçados em seus negócios escusos de grilagem de terras, trabalho escravo e tráfico de drogas.
Conclamamos a todos repudiarem mais esta ação do Estado genocida e sua polícia assassina.
Basta de tanta miséria e opressão!
Toda a terra pra quem nela vive e trabalha!
Liga dos Camponeses Pobres