Sempre tive dentro de mim a noção de que deveríamos ter uma certa gratidão pelos lugares onde nascemos. Essa gratidão era demonstrada nos relatos de escritores onde deixavam claro que daquela terra nasceram e que à ela retornariam, não sem antes alardear para todos os cantos, o fascínio e o respeito que sentiam pelas suas cidades de nascimento.
Esse vínculo fazia-se presente como se, o fato de ter nascido no local aqui ou acolá, os tornasse mais respeitados, mais humanos, mais inteligentes, mais reconhecidos.
'Esse é um filho da terra' ...
Não nasci em Macaé/RJ, mas passei nela a parte mais importante da minha vida, onde o crescimento, o conhecimento, o relacionamento com pessoas do bem, fizeram de mim, u'a macaense nata. Por ela briguei, por ela defendi, e, por vezes surpreendi-me à procura do tal nascimento sobre aquela terra, já que em todos os livros, em todas as biografias, constava sempre a tal relação fundamentada na 'luz' do nascimento de fulano por este solo.
Seria eu uma filha bastarda dessa terra macaense!?!?! Seria eu uma filha que fui escondida durante uma parte da infância em outras terras, para ser apresentada à minha terra macaense, por volta da minha idade de 9 anos!?! Admito que foi uma profusão de sentimentos muito grande. E o mar? e a areia branca? E a vegetação rasteira que se alastrava por sobre os morrinhos de areias numa tentativa de escondê-los ? E as ondas ? E as conchas ?
Não muito silenciosamente o carro do meu pai seguia pela estrada, com a gente dentro, numa enxurrada de paisagens maravilhosas, o vento e seu furor entravam pela imensa janela e deixava-nos surdos. Mas, os olhos, rapidamente faziam as contas do que estávamos deixando para trás.
Eu cresci em você Macaé. E, saliento que, a maior estrutura do meu ser humano, foi desenvolvida em teu solo, na convivência com outros macaenses natos e também bastardos como eu. Por isso, dou-me o direito de dizer que a mãe verdadeira não precisa de gestações, de cicatrizes, para dar um filho à luz, e muito menos uma grande terra natal, também precisa de colocar um solo debaixo dos pés de seus filhos bastardos para que se tornem verdadeiros: basta que eles sofram com os seus rumos citadinos, basta que eles se emocionem com as suas vitórias, basta que os grão do seu solo grudem em suas solas dos pés e nas palmas de suas mãos. Essa é a maior comunhão que pode existir entre o homem e a santa terra natal. Isso é ser telúrico, isso é acreditar no telurismo (influência do solo de uma região nos costumes, caráter, etc., dos habitantes - Aurélio Buarque de Holanda Ferreira).
"Macaé, minha terra querida !!! Que os anos te façam crescer ..."
Marilu Parreiras - 01/JUL/2013