O parque marinho e costeiro Patagônia Austral da Argentina protegerá riquezas biológicas e econômicas, mas não impedirá completamente sua exploração.
BUENOS AIRES, 3 de setembro (Terramérica).- O primeiro parque
marinho e costeiro da Argentina, destinado a proteger uma rica diversidade
biológica na austral província de Chubut, espera aprovação legislativa. O Parque
Interjurisdicional Marinho Costeiro Patagônia Austral, de 600 quilômetros
quadrados de mar e 200 de terra, em uma faixa costeira de cem quilômetros ao
norte do Golfo de São Jorge, em Chubut, incluirá 40 ilhas do Oceano Atlântico.
"Será difícil em termos logísticos e orçamentários, mas isto não deve ser um
impedimento", disse ao Terramérica Pablo Yorio, biólogo do Centro Nacional
Patagônio em Chubut e autor do estudo que serviu de base para a criação da área
protegida.
O presidente Néstor Kirchner e o governador de Chubut, Mario
das Neves, assinaram, em agosto, o tratado de criação do Parque. "Tudo dependerá
da vontade política e das possibilidades administrativas das autoridades em sua
aplicação. Não há muita experiência com áreas marinhas, mas existe capacidade
técnica e uma longa experiência em áreas terrestres, tanto em Chubut quanto na
Administração de Parques Nacionais", assegurou o especialista. Enquanto se
aguarda a aprovação pelos parlamentos nacional e provincial, a não-governamental
Fundação Patagônia Natural trabalha junto com autoridades de Chubut e setores da
pesca e do turismo para demarcar as áreas que exigem diferentes graus de
proteção, disse ao Terramérica um de seus integrantes, o biólogo Ricardo
Delfino.
O custo de funcionamento do parque será de aproximadamente US$
320 mil por ano, fornecidos pelo governo de Chubut e Buenos Aires em partes
iguais, acrescentou. Pingüins (Familia Spheniscidae), orcas (Orcinus orca),
golfinhos (Delphinus delphis), baleias (Balaenidae), elefantes marinhos
(Mirounga leonina), lobos marinhos (Otaria flavescens) e outras dezenas de
espécies de relevância biológica e econômica, a partir de agora, terão seus
guarda-parques, em favor de um maior equilíbrio entre desenvolvimento e
preservação.
A área escolhida é um dos setores costeiros mais importantes
pela diversidade biológica e produtividade, explicou Yorio. Sua proteção
permitirá definir objetivos de conservação e uso sustentável com algumas áreas
restritas e outras onde se permitiria o desenvolvimento da pesca e do turismo.
"A proteção não implica intangibilidade", destacou o especialista, embora
advertindo que será preciso cuidado com a indústria do petróleo, responsável
pela passagem de centenas de navios-tanque por ano por suas costas, e também com
a pesca em excesso e seus danos colaterais, como o descarte e as capturas
incidentais de aves e mamíferos.
Ao norte do Golfo de São Jorge, aves e
mamíferos marinhos de grande interesse econômico, como o pingüim de Magalhães
(Spheniscus magellanicus) e os lobos marinhos, se reproduzem e suas colônias
atraem milhares de turistas a cada ano. O cormorão imperial (Phalacrocorax
atriceps) é a base da indústria do guano, excremento usado como fertilizante.
Além disso, nessa região desovam e se criam peixes e invertebrados de grande
importância para as indústrias nacional e internacional, como camarões e
merluzas, além de outras espécies que são alvo da pesca artesanal e esportiva,
como peixe-rei, robalo, salmão e polvo.
Destaca-se a presença de bivalvos
e pradarias de microalgas, bem com as funções de descanso, reprodução e
alimentação de espécies migratórias, e de outras ameaçadas como o pato-vapor
cabeça branca (Tachyeres leucocephalus) e a gaivota-de-rabo-preto (Larus
atlanticus). Toda esta riqueza biológica e econômica estará protegida, afirmou
Yorio. O Parque foi iniciativa da Fundação e da Wildlife Conservation Society e
estará sob jurisdição do governo de Chubut eda Administração de Parques
Nacionais.
"Na Argentina não temos experiência de uma área marinha
protegida, está tudo por definir. Ainda não estão delineadas as características
do Parque nem seu plano de manejo. Temos a letra grossa, falta trabalhar com
maior precisão", disse ao Terramérica Marcelo Cora, da Administração. Além
disso, esta será a primeira vez que a entidade custodiará águas protegidas junto
com um governo provincial. Porém, a Fundação Patagônia Natural e o governo de
Chubut têm bons antecedentes em planos de manejo de áreas protegidas e o Estado
possui dois parques nacionais com litoral, em Santa Cruz e na Terra do Fogo,
disse Cora.
A Fundação trabalha desde 2001 para criar uma área protegida
no norte do Golfo de São Jorge, com a idéia inicial de que tivesse jurisdição
provincial. Porém, a jurisdição compartilhada "dá maior visibilidade e
hierarquia ao Parque sem que a província tenha de ceder domínio sobre seu
território", o que é um bom exemplo para outras regiões do país que necessitam
de proteção, afirmou Delfino. Além disso, "permitirá ao Estado cumprir um dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, que obriga o país a aumentar suas áreas
protegidas", concluiu.
* A autora é correspondente da IPS.
LINKS
EXTERNOS
+Administração de Parques Nacionais
http://www.parquesnacionales.gov.ar/
+Governo de
Chubut
http://www.chubut.gov.ar
+Centro Nacional
Patagónio
http://www.cenpat.edu.ar
+Fundação Patagônia
Natural
http://www.patagonianatural.org
Legenda:
Pingüins Magalhães na Patagônia.
Crédito: Photo Stock
Artigo
produzido para o Terramérica, projeto de comunicação dos Programas das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e para o Desenvolvimento (Pnud), realizado
pela Inter Press Service (IPS) e distribuído pela Agência
Envolverde.
(Envolverde/Terramérica)