Viena, 29/08/2007 – As emissões de gases causadores do efeito estufa alcançarão seu grau máximo nos próximos 10 a 15 anos e deverão diminuir pela metade a partir daí e até 2050, em relação aos valores atuais. Foi o que afirmou Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, entrevistado ontem pela IPS na capital da Áustria. Segundo de Boer, este é o único modo de evitar catástrofes ambientais e humanitárias associadas com o aquecimento global. "Os países industrializados devem reduzir entre 25% e 40% suas emissões de gases causadores do efeito estufa após 2012", afirmou. Porém, os países pobres emergentes devem aceitar que também têm um papel a cumprir na redução das emissões, acrescentou.
A Convenção
Marco, cuja sede administrativa fica na cidade alemã de Bonn, é a agência da
Organização das Nações Unidas encarregada de implementar o Protocolo de Kyoto,
que em 1997 estabeleceu uma redução nas emissões de gases que causam o efeito
estufa para as nações industrializadas. De Boer participa da nova rodada de
negociações sobre mudança climáticas em Viena, que começaram segunda-feira e
terminarão na próxima sexta-feira. Esta reunião é preparatória para a próxima
conferência das partes da Convenção Marco, que acontecerá em dezembro na ilha de
Bali, na Indonésia. Espera-se que os participantes dessa reunião avancem em um
novo plano internacional para a redução de emissões depois de 2012, quando
expirar o Protocolo de Kyoto.
As conversações na capital austríaca
proporcionarão à conferência de Bali informação sobre necessidades financeiras
para minimizar a mudança climática e suas conseqüências sociais e econômicas.
"As medidas de mitigação necessárias para a redução das emissões requerem entre
US$ 200 bilhões e US$ 210 bilhões por ano", disse de Boer. A rodada de Viena
também avalia o fundo de adaptação de Nairóbi, criado na capital do Quênia em
2006. Este fundo dará aos países em desenvolvimento financiamento adicional para
enfrentar as conseqüências da mudança climática.
Novos passos nas
políticas globais contra a mudança climática estão sendo gestionados, assegurou
de Boer à IPS. "Inclusive o presidente George W. Bush decidiu pegar o touro à
unha e apresentou uma proposta que será discutida pelos governos dos maiores
emissores de gases que provocam o efeito estufa no próximo mês em Washington",
acrescentou o especialista. As nações mais industrializadas, especialmente os
Estados Unidos, junto com China e Índia, representam 85% das emissões globais.
Estes países também representam 70% da população global e 85% do produto interno
bruto global.
Porém, o aquecimento global afeta a população do mundo
todo. Suas conseqüências são sentidas em forma de inundações, furacões, secas e
maior incidência de doenças como a malária. Monyane Moleleki, chanceler do
Lesoto, disse à IPS que a mudança climática tem profundos efeitos sobre a
agricultura. "Os agricultores sofrem porque nada acontece quando deveriam
acontecer. As estações tradicionalmente chuvosas já não são previsíveis. A
quantidade de secas duplicou desde o final dos anos 70 e as chuvas, quando
chegam, chegam em volume excessivo", afirmou o diplomata.
De Boer disse
que as conversações de Viena podem não levar a "decisões espetaculares", mas
"basicamente mostrar como podemos promover medidas políticas pra conseguir
reduções nas emissões". O granadino Leon Charles, que preside o grupo de
trabalho especial para conseguir dos países industriais signatários do Protocolo
de Kyoto um maior compromisso, afirmou que as conversas em Viena não
estabelecerão objetivos de caráter obrigatório sobre redução de emissões. Mas
esta reunião deveria enviar "um forte sinal sobre a integridade ambiental do
mundo industrializado". (IPS/Envolverde)
Crédito da imagem: Sxc.hu
(Envolverde/ IPS)