Produtoras de suco de laranja foram avaliadas quanto ao seu modelo de gestão. Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Um estudo realizado com duas empresas produtoras de suco de laranja, no Estado de São Paulo, constatou que não havia nestas indústrias a existência de um projeto de gestão que inserisse questões ambientais e sociais de forma conjunta, ainda que tenham sido detectadas políticas estruturadas, porém isoladas, de ações nestes interesses.
A pesquisa Gestão Socioambiental em empresas brasileiras do setor de suco de laranja, da administradora de empresas Elke Irene Bürgers, orientada pelo professor Isak Kruglianskas, foi apresentada na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP. O estudo foi realizado de 2009 a 2011 e seu objetivo foi buscar um modelo de gestão socioambiental em empresas consideradas de alto impacto nas sociedades.
O debate socioambiental atual aponta que as empresas tem se preocupado com a influência das suas atividades nas sociedades e comunidades em que se estabelecem. Para isso, procuram desenvolver projetos sociais e medir os efeitos das suas intervenções no meio ambiente, de forma a reduzir os aspectos negativos da sua produção.
Preocupação socioambiental
Elke escolheu duas empresas produtoras de suco de laranja no interior do Estado de São Paulo para averiguar se essa preocupação resultava na implantação de um modelo de gestão voltado às temáticas sociais e ambientais. A pesquisadora considerou importante especializar a pesquisa em empresas de um mesmo setor, o produtor de suco de laranja, devido às características econômicas e aos impactos sociais e ambientais deste segmento. A indústria produtora de sucos cítricos é um dos setores mais expressivos do agronegócio no Brasil, que é responsável por 60% da produção mundial de suco de laranja, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Os dados referentes à produção e venda de laranjas e suco foram coletados de sites institucionais do setor, como a United States Department of Agriculture (USDA). Elke também procurou entrevistar os representantes das políticas socioambientais nessas empresas. Eles responderam a um questionário que levantava assuntos ligados à gestão de pessoas, como existência de programas de capacitação e treinamento, contratação de deficientes físicos, oferecimento de creches e assistência psicológica, além de políticas de educação ambiental, monitoramento de resíduos e redução de uso de água e energia elétrica, entre outros.
Observou-se que essas empresas não reconhecem como gestão social as ações direcionadas ao seu quadro de funcionários, ainda que anunciem ações bem desenvolvidas deste tipo tanto para o público externo como interno. No entanto, as ações ambientais estão mais presentes, principalmente, para Elke, “devido a forte regulamentação nacional e do Estado, e a exigência do mercado internacional em relação ao tema”.
Segundo a pesquisadora, “esse modelo de gestão pode auxiliar e até direcionar o desenvolvimento de políticas públicas que validem o processo das organizações com as comunidades afetadas”. E completa, dizendo que seu estudo pode ser aplicado a indústrias de alto impacto ambiental. “Setores como siderurgia, pecuária, papel e celulose podem gerar informações relevantes para a elaboração de um modelo de gestão socioambiental, principalmente social.”
* Publicado originalmente no site Agência USP.