Gerações futuras terão que lidar com bagunça deixada por governos atuais. Foto: Reprodução/Internet
Líderes mundiais que participaram da conferência no Rio concordaram solenemente em manter as coisas como estão, critica colunista do jornal ‘Guardian’.
Em matéria publicada no Guardian, o articulista George Monbiot afirma que a Rio+20 talvez tenha sido o maior fracasso da liderança coletiva desde a Primeira Guerra Mundial. Os sistemas vivos da Terra estão em colapso e os líderes de algumas das nações mais poderosas do mundo – Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Reino Unido – sequer se incomodaram em discutir o assunto. Aqueles que participaram da conferência realizada na semana passada no Rio de Janeiro concordaram solenemente em manter as coisas como estão.
Para o Guardian, os esforços dos governos não estão concentrados em defender a Terra da destruição, mas em defender a máquina que está destruindo-a. Sempre que o capitalismo sofreu com suas próprias contradições, os governos se esforçaram para consertá-lo, garantindo assim – mesmo que ele consuma as condições que sustentam nossas vidas –, que ele continue.
O pensamento de que o capitalismo pode ser a máquina errada para movimentar o mundo sequer passa pela cabeça dos políticos, que pensam apenas em enriquecer a elite econômica. Temos o nosso pão e, agora estamos vagando, em devaneio encantado, rumo ao circo.
De acordo com Monbiot, usamos nossas liberdades de forma sem precedentes – garantidas a custo dos nossos antepassados – não para promover a justiça e a defesa dos nossos interesses comuns, mas para um exercício desenfreado de comprar o que não precisamos. As mentes mais criativas do mundo são usadas não para melhorar a vida da humanidade, mas para conceber meios cada vez mais eficazes de estímulo, para neutralizar as satisfações crescentes de consumo. A dependência no consumo assegura que todos nós, inconscientemente, conspiremos para que tenhamos uma vida de buscas inatingíveis. O fracasso no Rio de Janeiro pertence a todos nós.
O fim das megaconferências?
A conferência marca o fim dos esforços multilaterais para proteger a biosfera. O único instrumento de sucesso global – o Protocolo de Montreal, relativo à emissão de substâncias que destroem a camada de ozônio – foi acordado e implantado anos antes da primeira cúpula, em 1992. Foi um dos últimos frutos de uma política diferente, em que aconteceu uma intervenção no mercado em nome de um bem maior. Tudo que tem sido discutido desde então tem levado a fracos ou a nenhum acordo.
Segundo o Guardian, falar isso não é sugerir que o sistema global e suas cada vez mais inúteis reuniões anuais vão desaparecer, ou mesmo mudar. Os governos que participaram da Rio+20 e de todos os encontros que evidenciaram a falta de responsabilidade com o assunto parecem cegos para o fato de que, se as soluções não apareceram nos últimos 20 anos, o erro está no sistema. Eles ignoram, cientes de que não haverá sanções políticas, que as gerações futuras terão que lidar com a bagunça que eles irão deixar pra trás. O colunista do Guardian não sugere o abandono do multilateralismo. Acordos sobre a biodiversidade, os oceanos e o comércio de espécies ameaçadas podem conseguir alguma redução da destruição da biosfera que a máquina do consumo desencadeou, defende Monbiot. Mas isso é tudo. A ação – se é que ela existe – deverá vir de outro lugar. Os governos que realmente têm uma preocupação com o planeta terão que trabalhar sozinhos e não haverá nenhum meio de convencer os eleitores de que suas ações serão correspondidas por outros países.
Que perdemos a chance de impedir o aumento de dois graus de aquecimento global parece óbvio, diz o colunista. Que a maioria dos outros limites planetários também será cruzado também é evidente. Então, o que vamos fazer agora?
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.
(Opinião e Notícia)