Com os químicos não se brinca

Enquanto a maior fabricante de brinquedos do mundo, a Mattel, se vê obrigada a retirar do mercado milhares de produtos contaminados com chumbo, Mark Sommer alerta, neste artigo exclusivo, para o perigo oculto em substâncias de uso cotidiano.


ARCATA, Califórnia, Estados Unidos, 20 de agosto (Terramérica).- "Um mundo melhor graças à química" era o slogan da Dow Chemical nos anos 50, alvorecer da introdução maciça de substâncias sintéticas nos bens de consumo, na agricultura e em quase qualquer área da vida moderna. A frase ficou carregada de ironia dezenas de milhares de substâncias químicas depois, quando as pesquisas em saúde ambiental mostraram as provas dos persistentes efeitos negativos de algumas delas, as quais acreditávamos serem resultado benigno da tecnologia.

Em nosso avançado mundo industrial, estamos imersos em um mar de químicos sintéticos. A maioria nunca foi submetida a estudos sobre seu impacto acumulativo na saúde humana. Milhares de substâncias contribuem para o conforto de nossa vida e o sabor de nossos alimentos. Entretanto, desde sua elaboração até sua disposição final, ao consumi-las e usá-las, em ambientes internos e externos, acumulam-se em nossos corpos com efeitos desconhecidos.

Para as pessoas em geral pobres, que vivem perto das fábricas desses produtos químicos, as conseqüências sanitárias costumam ser graves. Os vizinhos dessas instalações têm muitas histórias de câncer e males respiratórios em seus bairros e suas famílias. Os que vivem em locais mais privilegiados, comem alimentos, usam cosméticos e aparelhos eletrônicos, dormem em camas e descansam em poltronas que contêm uma mistura de substâncias de efeitos desconhecidos.

Algumas substâncias químicas muito usadas, como os ftalatos, que tornam mais flexíveis e suaves os brinquedos infantis de plástico, apresentaram resultados preocupantes em estudos de laboratório: podem desencadear câncer de mama, puberdade precoce nas meninas, reduzem os níveis de testosterona e a concentração de espermatozóides, causam defeitos genitais nos homens e tumores nos testículos.

As taxas crescentes de algumas doenças, de asma a câncer de mama e infertilidade, expõem questões preocupantes. Diante do amplo arco de variáveis que influem na manifestação de uma enfermidade pessoal - incluindo a predisposição genética, hábitos como o de fumar ou beber álcool, os fatores psicosociais e a freqüência à exposição –, é quase impossível demonstrar uma relação causal direta entre as toxinas ambientais perigosas e as enfermidades pessoais. Entretanto, as evidências circunstanciais costumam ser convincentes.

Até há pouco tempo, os cientistas tinham poucos instrumentos para medir esses impactos. Agora estão melhor equipados. O biomonitoramento se aplica a técnicas de análises do sangue, da urina, do leite materno e de outros tecidos, para medir a exposição humana a químicos sintéticos e naturais. Mas o seu custo ainda o deixa longe do alcance de toda a população. Nos Estados Unidos, as agências federais e estaduais e os fabricantes pouco fazem para analisar os químicos que se introduzem em nossa corrente sangüínea, ao ritmo de mil novos por ano. De fato, existe uma firme resistência a tais estudos, bem apoiada pelo opulento setor industrial.

A União Européia, por outro lado, adotou um regime de longo alívio, conhecido pela sigla em inglês Reach (Registro, Avaliação e Autorização de Químicos), destinado a controlar a proliferação de produtos sintéticos não testados mediante a aplicação do princípio de precaução: melhor prevenir do que curar. O Reach, em vigor desde 1º de junho, exige que os fabricantes de produtos químicos apresentem informação básica sobre segurança sanitária de todas as substâncias que produzem, e estabelecerá uma lista especial de aproximadamente duas mil, consideradas "muito preocupantes", com o objetivo de substituí-las por outras mais seguras.

Claro, encontrar essas alternativas é um desafio maior para os pesquisadores, sobretudo porque podem conter impactos sanitários negativos a longo prazo que não sejam evidentes no momento de adotá-las. A noção de "carga corporal" (o total de substâncias químicas tóxicas presentes no corpo em um determinado momento) torna mais pesada nossa preocupação individual como partícipes da civilização industrial. Não se deve ficar obcecado com esses riscos para não acabar contraindo uma paranóia ambiental. Mas é vital ter idéia do que introduzimos em nosso organismo e quais efeitos pode ter em nossa saúde.

Quantos tipos de químicos sintéticos podemos absorver sem adoecermos? De quem é a responsabilidade de estudar e quem deve pagar os estudos de milhares de substâncias em uso e das milhares que aparecem a cada ano? Os custos de analisar esses vastos estoques de químicos são enormes e, de um modo ou de outro, serão transferidos para os consumidores. Porém, o preço de continuar ignorando o problema será, sem dúvida, muito maior.

* O autor é colunista e diretor do premiado programa de rádio A World of Possibilities. Direitos reservados IPS.

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