Cidade do México, México, 13/12/2011 – Há muita desilusão com as reuniões de cúpula mundiais, “que mobilizam milhares de pessoas e não conseguem um avanço global” na redução de emissões de gases-estufa, lamentou Boris Graizbord, responsável pelo programa de estudos em desenvolvimento sustentável do Colégio do México.
O Programa de Estudos Avançados em Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Lead), do estatal Colégio do México, completará 20 anos, coincidindo com a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá no Rio de Janeiro em junho do ano que vem.
O Lead, surgido graças ao financiamento da Fundação Rockefeller (Estados Unidos) e com presença em vários países americanos, formou 240 especialistas desde 1992 no México e atualmente pertence a uma rede internacional não lucrativa que aglutina 2.200 integrantes em 90 nações. O diretor do Lead-México, Boris Graizbord, conversou com a IPS sobre êxitos e perspectivas do programa e o futuro destas conferências sobre clima, cuja 17ª edição terminou no dia 11, na cidade sul-africana de Durban.
IPS: Que panorama se vislumbra após Durban?
BORIS GRAIZBORD: Há muita desilusão com estas cúpulas, que mobilizam milhares de pessoas e não conseguem um avanço global. A resistência de Estados Unidos e da China em aceitar as coisas contagia outros países. Inclusive, os europeus agora propõem não se comprometer, não apoiar um acordo vinculante, outra coisa que não seja o Protocolo de Kyoto.
IPS: O que o México deve fazer?
BG: É absolutamente fundamental que todos tomem medidas, que se conscientizem para a adaptação à mudança climática. A variabilidade do clima vai castigar, agora e mais tarde. E como não se poderá cumprir a meta de evitar que a temperatura global aumente mais de dois graus, haverá eventos que não estão assimilados pelas pessoas, como secas e inundações. Os extremos estarão pegando duro em todo o mundo, e os que sofrem mais são os que têm menos recursos. No México, não se sabe bem o que está sendo feito. O Programa Especial de Mudança Climática é muito geral, sem se dar conta de que não é o mesmo na costa do Golfo do México, no Oceano Pacífico, nos Estados de Chiapas e Taualipas. É preciso chegar às escalas micro.
IPS: Em que o Lead pode ajudar?
BG: Mantemos um modelo original, que tem a ver com a formação de indivíduos de grande capacidade e avançados em suas carreiras profissionais. É preciso especializar capital humano no Sul para entrar na discussão em que estamos metidos, e formar líderes que possam tomar decisões nos níveis nacional, regional e internacional. Precisamos ser mais seletivos, mais estratégicos na formação de pessoal. O programa busca atrair indivíduos que avançaram em sua posição profissional e não buscam um mestrado ou doutorado, mas espaços onde possam revisar sua forma de pensar sobre o desenvolvimento sustentável, o meio ambiente e a mudança climática. Levamos os alunos a um contexto onde enfrentam uma discussão diretamente onde estão os problemas. Isto permite não falar em teoria, mas em como são os processos. Estamos expondo situações reais, aprendendo fazendo, experimentando, falhando. Um pouco como acerto e erro. Se vamos à floresta, falamos com todos os atores, os donos da terra, as organizações não governamentais, as autoridades. Assim armamos nossas sessões.
IPS: O aniversário do Lead coincide com a Cúpula Rio+20. Como vão promover o desenvolvimento sustentável?
BG: Consideramos que teremos uma presença interessante. O Lead International estará presente de maneira importante, além de no Brasil haver um programa local. Tenho a impressão de que o desenvolvimento sustentável é usado gratuitamente e muitas vezes não sabemos o que é, nem o governo e nem as empresas. É preciso trabalhar sobre isso e não desgastar o termo. Em lugar de responsabilidade social corporativa, por exemplo, pode-se usar o compromisso social corporativo, que é muito diferente.
IPS: O que o programa conseguiu nestes 20 anos?
BG: Formamos 240 especialistas, que agora ocupam postos de importância, e fizemos boas pesquisas. Com nosso apoio, a Comissão Ambiental Metropolitana e o governo da Cidade do México delinearam a agenda ambiental metropolitana. Também avaliamos e recomendamos as regras de operação do Fundo Nacional de Desastres Naturais e analisamos a vulnerabilidade e o risco no distrito da capital do país. Contudo, não tivemos êxito suficiente com a iniciativa privada. Os empresários pensam em como vão deixar que seus empregados usem 40 ou 50 dias do ano sem trabalhar, estamos empurrando muito forte com alguns contatos em firmas grandes, conseguindo assim que mandem funcionários para nosso programa. Entretanto, já não temos financiamento direto, por isso precisamos cobrar pelos cursos.
IPS: Quais são as prioridades agora?
BG: Queremos ampliar o programa para outras partes da América Latina. Já temos formados na Guatemala e em Cuba, embora sejam poucos, e fizemos um acordo com a estatal Universidade Nacional de Lanús, da Argentina, que nos enviará um candidato durante os próximos três a cinco anos. Procuramos nos associar com o programa Lead do Brasil e analisamos a possibilidade de conseguir fundos de organismos internacionais que se interessem em reforçar alguns projetos desse tipo na América Latina. Em pesquisas, iniciamos um projeto sobre os custos econômicos da adaptação à mudança climática na área metropolitana da capital mexicana durante oito meses. Nos convidaram para fazer projetos com o Ministério de Desenvolvimento Social para os próximos seis meses, sobre desenvolvimento urbano regional e aspectos locais. Queremos influir nos governos estatais e locais para dar atenção à questão da eficiência, da economia de energia, sistemas de transporte, para não construir mais infraestrutura para ter mais água potável, mas ver como se economiza e se renova esse recurso, analisar o modelo da interrelação entre diferentes aspectos do meio físico. Envolverde/IPS