Muitas vezes qualificada como "mistério", a grande mortalidade de abelhas, que pode chegar a 90% em algumas colônias, mobiliza um grande número de cientistas. Os resultados de suas pesquisas exclui, na maioria dos casos, uma única causa e apontam para uma multiplicidade de fatores: as monoculturas, os OGM (organismos geneticamente modificados), os vírus, os fungos, a invasão de vespas, o aquecimento global e os pesticidas, é claro.
Estes últimos são muitas vezes os primeiros acusados. Seus números e suas múltiplas interações possíveis abrem um imenso campo de investigação: por exemplo, mais de 120 produtos diferentes foram encontrados nas colmeias dos EUA.
No entanto, o estudo recém-publicado pela revista on-line Plos One acrescenta um nome à lista de nomes das ameaças às abelhas domésticas: a oxitetraciclina. Este antibiótico não protege as abelhas, mas, ao contrário, parece o bastante para torná-las mais suscetíveis aos efeitos nocivos dos pesticidas. Daí o título paradoxal do estudo: "Matá-las com bondade?"
Nos Estados Unidos, no final do inverno, os apicultores utilizam rotineiramente a oxitetraciclina como uma medida preventiva para tentar superar as significativas perdas que ocorrem nas colônias naquela temporada. Esta droga é misturada com nutrientes doces e espalhado na colméia. Esta prática é atualmente proibida na União Europeia, mas ainda é praticada na França há cerca de 20 anos.
Para sua pesquisa, a equipe liderada por David J. Hawthorne, professor de entomologia na Universidade de Maryland, examinou a interação da oxitetraciclina com dois medicamentos comuns aos apicultores nos EUA, o coumaphos e o tau-fluvalinato.
Ambos são usados nas colmeias para combater o ácaro Varroa, conhecido por enfraquecer o sistema imunológico dos insetos. Ambos os produtos são aplicados "rotineiramente", observam os cientistas. No entanto, quando as abelhas são previamente tratadas com a oxitetraciclina, os pesquisadores descobriram que o "cocktail" de substâncias aumentou sua taxa de mortalidade.
Mesmo em pequenas doses
Os pesquisadores se concentraram especificamente na ação da oxitetraciclina sobre algumas proteínas das abelhas, chamadas Transportadores de Mulit-Drug Resistance (MDR). Estes vetores de resistência a muitas substâncias tinham sido pouco estudados nos insetos e negligenciadas na toxicologia das abelhas domésticas até agora, observou David J. Hawthorne. Ele informa que a inibição destes MDR leva o antibiótico a amplificar o impacto negativo crônico dos inseticidas, mesmo quando a contaminação ocorre em doses baixas.
Neste estudo, o Sr. Hawthorne e sua equipe também trataram as abelhas com Verapamil, uma droga contra a vasoconstrição conhecida por inibir certas proteínas MDR.
Sob essas condições, as cobaias mostraram-se muito mais sensíveis do que os insetos testemunhas a cinco pesticidas diferentes. Três neonicotinóides foram particularmente testados. Este grupo de produtos, do qual o Gaucho é derivado, é conhecido por afetar a orientação e a capacidade das abelhas para retornarem à colmeia.
De acordo com os autores, o envolvimento direto dos neonicotinóides no colapso das colônias não foi comprovado por estudos recentes, mas a abundância destes pesticidas (encontrados na cera e pólen das abelhas) e o fato de que sua nocividade aumenta com a inibição das proteínas MDR poderia envolvê-los em todos os casos de grande mortalidade explicados por uma contaminação multifatorial.
Tradução: Argemiro Pertence