O BRASIL FICARÁ MAIS E MAIS DEPENDENTE DA USA

O eixo Bush-Lula e a guerra do etanol

 

Caracas, julho/2007 – Para o Brasil, o desenvolvimento da produção de etanol significa a possibilidade de se projetar, a médio prazo, como a nova potência energética mundial do biocombustível mais promissor. Os Estados Unidos são o consumidor que espera ser beneficiado com o desenvolvimento do etanol em nível mundial. A aliança estratégica Estados Unidos-Brasil, ratificada com os acordos de Camp David assinados entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e George W. Bush, obedece aos interesses estratégicos dos dois países, que se propuseram marchar juntos para consolidar um "Eixo do Etanol" que possa estimular e controlar a produção do biocombustível em nível mundial. A aspiração de Bush é criar, de mãos dadas com Lula, uma "Opep do Etanol" que possa competir com a Opep do petróleo e a futura Opep do gás defendida pela Rússia.

 

Brasília e Washington teceram silenciosamente a aliança do etanol desde 2005. A escolha como presidente do Banco Mundial de Paul Wolfowitz, hoje fora do cargo, foi parte dos acordos entre os dois governos. O plano do etanol foi complementado com a designação para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) de Luis Alberto Moreno, ex-embaixador da Colômbia nos Estados Unidos.

Wolfowitz, um especialista em questões de segurança a quem se atribui, junto com o vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, o papel de ideólogo da ocupação do Iraque com a finalidade estratégica de assegurar para os Estados Unidos as reservas de petróleo do Oriente Médio, tão logo tomou posse de seu cargo viajou ao Brasil. Desde o início de 2005 Bush havia feito lobby para colocar Wolfowitz no Banco Mundial. Os falcões de Washington haviam concluído que o desastre militar no Iraque paralisava o plano energético norte-americano e, então, era necessário desenvolver o etanol urgentemente.

Bush espera que graças ao etanol seu país reduza em 20% o consumo de gasolina nos próximos 10 anos. Brasil e Estados Unidos produzem atualmente 70% do etanol em todo o mundo, cerca de 34 bilhões de litros por ano. No Brasil, aproximadamente 40% da frota de veículos consomem etanol e utilizam motores flex-fuel, que funcionam tanto com etanol quanto com gasolina. Para o etanol brasileiro é utilizada a cana-de-açúcar, enquanto para produzir o norte-americano usa-se o milho. O etanol produzido com cana é mais rentável. Os especialistas consideram que o etanol começou a ficar atraente como combustível complementar da gasolina quando o preço do barril de petróleo passou dos US$ 30.

Wolfowitz assumiu a presidência do Banco Mundial em junho de 2005. Em dezembro se reuniu com o Presidente Lula no Brasil e visitou, acompanhado de empresários do etanol, a selva amazônica e as áreas desérticas do Nordeste. Finalizou sua viagem dizendo que o Banco apoiaria o Brasil no desenvolvimento do biocombustível e que era preciso estender sua produção à África.

Um ano mais tarde, foi criado no Estado da Flórida a Comissão Interamericana do Etanol, sob a presidência de Jeb Bush, irmão do Presidente norte-americano. Luis Alberto Moreno e Roberto Rodriguez, ex-ministro da Agricultura do Brasil, e empresários brasileiros e norte-americanos assistiram em Miami ao lançamento da "Era do Etanol". Enquanto era anunciado que a Comissão dispunha de US$ 100 bilhões provenientes da empresa privada para investir no desenvolvimento do etanol nos próximos cinco anos, Moreno dizia que o BID destinaria US$ 3 bilhões para estabelecer o etanol na América Latina e no Caribe.

O BID também pediu à firma Garten Rothkopf um relatório sobre as perspectivas do etanol como combustível alternativo. Rothkopf conclui que seria necessário um investimento de US$ 200 bilhões para cobrir 5% do consumo mundial de combustíveis em 2020. Paralelamente, Bush solicitou ao Congresso de seu país US$ 2,7 bilhões no orçamento de 2008 "para pesquisa energética alternativa", que compreendia etanol, biodiesel, baterias íon-lítio e células de combustível de hidrogênio.

A chuva de dólares será muito maior no futuro próximo. Multinacionais de natureza agora diversa (agronegócios, petróleo, automotivas, informática, entre outras) estão criando o que Miguel Altieri, um professor da Universidade da Califórnia, e Eric Holt Gimenez, diretor-executivo da Food First, definem como "um fenômeno sem precedentes de alinhamento global corporativo". Desde ADM, Cargill e Bunge, passando por Bayer e Dupont, até British Petroleum, Total, Shell, Peugeot, Renault e Citröen, buscam acordos para controlar o mercado dos biocombustíveis.

O Brasil, rei do etanol barato, será o principal beneficiado com o boom do etanol. Mas a aliança estratégica com os Estados Unidos também tem seus passivos. O Brasil se projetará mundialmente como potência com o etanol como arma geopolítica, geoeconômica e energética. Mas somente poderá fazê-lo de mãos dadas com Washington, o grande consumidor. A potencialidade política do eixo estratégico Brasília-Washington mandará cada vez mais sobre a política externa brasileira.

Lula também verá, antes de terminar seu mandato, como seus antigos amigos da esquerda, liderados por Fidel Castro e Hugo Chávez, passarão rapidamente da crítica ética contra a geopolitica do etanol para a ação. E Chávez (esgrimindo uma agressiva geopolítica petrolífera através da Petroamérica) já demonstrou isso ao se distanciar do Mercosul. Independentemente de a Venezuela ingressar ou não neste bloco de integração econômica liderado pelo Brasil, o eixo político Brasília-Caracas, que em algum momento serviu para deter o Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e para que Chávez culminasse o projeto da Pátria Grande de Bolívar, rachou. O conflito geopolítico estratégico entre a petropolítica e a alcopolítica é questão de curto tempo. (IPS/Envolverde)

(*) Alberto Garrido é jornalista e professor de Teoria e História do Sindicalismo na Universidade de Los Andes.

Crédito da imagem:Ricardo Stuckert-PR/Agência Brasil
(Envolverde/ IPS)

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