O uso da energia solar fotovoltaica (PV) deve crescer muito nos próximos anos, porque os preços dos equipamentos devem cair pela metade, nos próximos dois anos. Em dois anos, o custo da eletricidade solar-fotovoltaica deve se equiparar aos da eletricidade gerada por termelétrica a carvão.
Essas estimativas estão em um estudo da Bloomberg New Energy Finance.
“Nós já estamos vivendo essa mudança de fase e estamos muito próximos da paridade com a rede” disse o CEO da Canadian Solar à agência Bloomberg. “Em muitos mercados a eletricidade solar já é competitiva em relação aos preços de pico, como no Japão e na Califórnia”, completou.
Essa queda nos custos se deve, principalmente, à produção de painéis solares por empresas chinesas. A China tem agressivo programa de energia renovável, com ênfase nas fontes eólica e PV para geração de eletricidade. Outra razão são os ganhos em economia de escala advindos do crescimento do parque de sistemas PV em vários mercados mundiais. Com o aumento da escala de produção e o uso de materiais mais baratos, a indústria consegue reduzir custos e, em poucos anos, a PV competirá com as fontes convencionais, fósseis, inclusive carvão, a mais barata no EUA e na China, por exemplo.
Segundo as estimativas da New Energy Finance, a instalação de sistemas PV vai praticamente dobrar até 2013. A produção mundial de equipamentos foi multiplicada por quatro desde 2008 e este ano devem entrar na rede elétrica 12 gigawatts adicionais de eletricidade PV.
A China vai dobrar sua capacidade em PV até o final deste ano, segundo a imprensa local. A Reuters informa que segundo relatório do Instituto de Pesquisa Energética o custo dessa energia deve alcançar a paridade com a geração termelétrica com carvão até 2015 neste país.
A China, que tem potencial solar PV menor que o do Brasil e lidera este mercado. Lá o carvão é abundante e barato, mas o governo implantou o maior programa do mundo de substituição de fontes fósseis de eletricidade. No Brasil, persiste o desprezo do governo e o bloqueio dos lobbies estatais e privados contra a energia solar. A política industrial recém-lançada pelo governo brasileiro dá preferência a setores velhos e de alto carbono, em lugar de incentivar a instalação de uma indústria de filmes e placas solares, e a expansão da indústria de aerogeradores para o setor de energia eólica. A política de ciência e tecnologia deveria incentivar a pesquisa de materiais para geração PV e de aerogeradores, como está, também fazendo a China.
Mas aqui, não há qualquer estímulo à instalação de sistemas PV, nem ao uso de placas geradoras PV domésticas, menos ainda à pesquisa tecnológica nesses setores. As placas PV domésticas são importadas, custam caras e o governo nunca homologou os equipamentos que permitiriam a integração com a rede elétrica, para que o excedente da geração residencial fosse distribuído. Na Califórnia, onde 100% dos novos prédios e unidades residenciais têm placas PV e há um programa muito compensador para instalação dessas placas em unidades construídas anteriormente, uma residência recebe, em média, US$ 250,00 por ano da companhia elétrica pelo excedente transferido para a rede. A economia de eletricidade com o uso da geração própria permite mais que compensar a conta da eletricidade da rede consumida nos momentos de insolação insuficiente.
No Brasil, há mais dias com sol, em todas as regiões, e em vários locais de alto potencial eólico também é alto o potencial solar PV. Isso permitiria que o país fosse líder mundial em geração combinada eólica-solar PV, se adotasse políticas adequadas. É difícil entender, fora o bloqueio de interesses econômicos e tecnocráticos, o desprezo brasileiro por duas fontes limpas e tão abundantes em nosso território.
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** Publicado originalmente no site Ecopolítica.
(Ecopolítica)