O lado perigoso do avanço dos computadores

No ano que vem, o número de computadores pessoais (PCs) em funcionamento no mundo deve atingir a astronômica cifra de um bilhão. Desde o seu surgimento nos anos 1970, até chegar a essa marca, passaram-se um pouco mais de três décadas. Porém, para dobrar esse número serão necessários apenas sete anos. De acordo com estimativa divulgada pela consultoria Forrester Research, em 2015 haverá dois bilhões de PCs espalhados pelo mundo.

 

A princípio, esse “boom” no consumo de PCs pode significar o acesso de mais pessoas à tecnologia, o que, sem dúvida, é um avanço positivo. Mas essa expansão tem alguns aspectos preocupantes. O primeiro é que a indústria de computadores e seus periféricos é uma das que, proporcionalmente ao peso dos seus produtos, mais consome recursos naturais, tanto na forma de matéria-prima, como em termos de água e energia.

Segundo a Universidade das Nações Unidas (UNU), um computador comum (24 quilos, em média) emprega ao menos dez vezes o seu peso em combustíveis fósseis (contribuindo para o aquecimento global) e 1.500 litros de água em seu processo de fabricação. Esta relação supera, por exemplo, a dos automóveis, que utilizam, no máximo, duas vezes o seu peso em matéria-prima e insumos. Um único chip de memória RAM consome 1,7 quilos de combustíveis fósseis e substâncias químicas para ser produzido, o que corresponde a cerca de 400 vezes o seu peso.

A ONG ambientalista Greenpeace possui um “Guia dos Eletrônicos Verdes”, onde apresenta as principais empresas de informática americanas em um ranking baseado na “limpeza” de seus processos produtivos. Os critérios utilizados são a quantidade de substâncias nocivas presentes nos produtos e a responsabilidade da empresa sobre seus resíduos. Também considera se a empresa está preparada para receber de volta os computadores usados assim como a existência de programas de reciclagem de equipamentos obsoletos. Você pode encontrar a relação aqui: www.greenpeace.org

Comparando o ranking atual com os anteriores, é possível notar uma mudança nos procedimentos das empresas no sentido de tornar seus produtos mais “verdes”, por meio da redução – e até eliminação – do emprego de substâncias químicas perigosas, certamente buscando atender à demanda de clientes preocupados com os impactos de suas escolhas sobre o meio ambiente. Após analisar a sua real necessidade de comprar um dos equipamentos, o consumidor pode consultar essa lista, que é atualizada a cada três meses. Lá ele encontrará informações sobre a origem dos produtos que pretende adquirir, dando preferência às empresas que demonstram maior preocupação com os impactos dos resíduos da produção sobre o meio ambiente. Assim, o consumidor valorizará boas práticas, estimulando as empresas a manterem essa conduta e incentivando outras a fazerem o mesmo.

De qualquer forma, é bom lembrar que os processos de fabricação podem variar de país para país, bem como os programas de gerenciamento de resíduos. Por isso, em caso de dúvida, é importante checar as informações junto à filial brasileira, por meio dos canais de comunicação com o consumidor.

Alta demanda de matéria-prima


Na outra ponta, a indústria de computadores também apresenta um problema muito sério: o descarte desses equipamentos resulta na geração 50 milhões de toneladas de lixo todos os anos, segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. É uma montanha com mais de 200 milhões de PCs completos, que tende a saturar aterros e depósitos, complicando ainda mais a gestão de resíduos.

Para agravar a situação, algumas peças de computadores contêm metais pesados como mercúrio, cádmio, chumbo e cromo, transformando-as em um risco à saúde pública, quando descartados de forma inadequada. Segundo Fátima Santos, gerente técnica da empresa de reciclagem de resíduos químicos Suzaquim, “na infinidade de produtos utilizados no processo de fabricação dos equipamentos eletrônicos, os metais pesados são os mais danosos, pois são acumulativos no organismo e podem causar doenças fatais”. Em geral, os primeiros prejudicados por esses elementos são os próprios funcionários das empresas de informática. No entanto, quando entram em contato com o solo, esses componentes tóxicos podem contaminar os lençóis freáticos, atingindo, por conseqüência, a população abastecida por essa água.

De acordo com o e-Waste Guide, os monitores de tubo mais antigos contêm várias substâncias (como chumbo, bário e fósforo) que podem provocar câncer quando descartadas de forma inadequada no meio ambiente. O PVC, utilizado como isolante em fios elétricos, quando incinerado e inalado provoca problemas respiratórios. O cobre, também presente em cabos, placas e circuitos, durante a incineração, também catalisa o processo de formação de dioxinas e furanos, substâncias que afetam a reprodução humana e são acumulativos nos animais em geral, permanecendo na cadeia alimentar. Já os BRTs (retardantes de chamas), substâncias que são utilizadas nas peças de plástico e outros componentes do sistema para evitar incêndios, causam desordens hormonais e reprodutivas. Atualmente, as empresas têm procurado alternativas para os BRTs.

Consumo consciente


Todos sabemos que, hoje em dia, é praticamente inviável prescindir dos computadores. Mas, tomando consciência dos impactos que o seu uso causa, o consumidor pode contribuir para que os reflexos positivos dessa tecnologia sejam maiores que os danos ao meio ambiente.

A primeira coisa a ser avaliada pelo consumidor é se há mesmo necessidade de comprar um novo computador. Algumas vezes, um “upgrade” (troca de peças específicas, mantendo a “carcaça”) basta para atender às necessidades do momento. Outro procedimento que deve sempre ser adotado é o de tentar consertar o computador, em vez de aproveitar o primeiro problema para trocar a máquina por outra nova. A tendência é que esse tipo de serviço se torne cada vez mais comum. Outras vezes, as pessoas trocam de equipamento apenas por comodidade ou por estética. Será que é mesmo fundamental trocar um monitor de 14 polegadas por um maior? É sempre bom gastar alguns minutinhos ponderando se é possível adiar a compra de um novo equipamento e, caso não seja possível, refletir sobre as reais necessidades que devem ser atendidas por este novo equipamento.

Uma outra questão a ser considerada na hora de trocar de computador é o que fazer com o velho. Uma alternativa é procurar alguma empresa que faça a reciclagem dos equipamentos. Para Fátima Santos, uma grande vantagem da reciclagem é que permite não consumir recursos naturais não-renováveis, além de prolongar a vida útil dos materiais. “O plástico de um componente passa a ser matéria-prima para outro produto”. Além disso, completa ela, a reciclagem “libera os aterros para o que é mesmo lixo e os aterros controlados para outros produtos que ainda não têm tecnologia viável [de tratamento]”.

Outra possibilidade é doar o computador antigo. Pode ser para algum conhecido ou para entidades que utilizam o computador como está ou comercializam sua sucata com empresas recicladoras.

Alguns exemplos são:
Associação Brasileira de Redistribuição de Excedentes
www.abre-excedente.org.br
Casas André Luiz
www.andreluiz.org.br
Comitê pela Democratização da Informática
www.cdi.org.br
Museu do Computador
www.museudocomputador.com.br

Além dessas entidades, algumas empresas brasileiras de informática também recebem computadores de quaisquer marcas.

Crédito da imagem: Sxc.hu
(Envolverde/Instituto Akatu) 

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