Tóquio, 17/07/2007 – Normas de reflorestamento mais severas e o crescente consumo de madeira em escala mundial obrigam o Japão a se concentrar em uma produção local sustentável e depender menos das importações, uma mudança muito aguardada por especialistas locais. “A velha imagem do país de grande depredador de florestas agora vai mudar. Ironicamente. O crescente apetite por madeira em outras partes do mundo é o que impulsiona esta importante redução”, afirmou Takahashi Fujiwara, porta-voz da Organização de Fornecedores de Madeira do Japão, dedicada ao comércio desse recurso.
Fujiwara explicou que o vertiginoso avanço do
desenvolvimento econômico em países como China, Índia e Rússia deu vantagens às
nações exportadoras de madeira e mudou o panorama dos ricos conglomerados
japoneses da construção. “Até há poucos anos, o mercado de madeira japonesa era
o mais lucrativo do mundo. Mas, na medida em que aumentou sua demanda, os
exportadores aumentaram os preços, uma situação que esfriou o entusiasmo do
Japão para manter suas compras externas”, afirmou o especialista. As
estatísticas apóiam esse desenvolvimento. A madeira, processada ou não, de
procedência estrangeira agora cobre menos de 80% do mercado interno, enquanto o
fornecimento interno chegou a quase 21%, partindo do zero há uma
década.
“Os artigos de cedro e cipreste ficam mais populares entre as
construtoras, um sinal de que a demanda por madeira barata do estrangeiro pode
estar diminuindo”, disse Makoto Ozawa, da Agência Florestal. O último golpe
desferido contra o Japão foi o anúncio da Rússia de que aumentará suas tarifas
alfandegárias para a exportação de madeira, dos atuais 60% para 80% em 2009,
devido ao esgotamento desse recurso natural. O Japão compra mais de 40% da
madeira russa, incluídos insumos que depois são processados por empresas
japonesas. Não se considera a alternativa de importar mais madeira maciça dos
Estados Unidos, outro importante fornecedor, devido aos altos custos dos
fretes.
Na década de 80, quando as florestas tropicais de Ásia eram a
principal fonte de madeira, a pressão sobre o Japão devido à rápida perda de
árvores no sudeste da Ásia o obrigou a utilizar madeira compensada em lugar de
madeira maciça. Neste contexto, há alguns meses houve outra crise pela decisão
de exportadores chineses de impor uma tarifa aos palitos de madeira, o que gerou
certo nervosismo na indústria madeireira por colocar em risco a prática de
oferecê-los gratuitamente aos clientes.
O gerente florestal japonês
Toshihige Nakagochi, proprietário de 18 mil hectares das florestas de
Yuzahara-cho, diz que a madeira importada continua sendo atraente para as
companhias deste país por sua rentabilidade e confiabilidade. “As décadas de
descuido com as florestas deixaram uma situação patética, com a indústria
florestal tendo de lidar com pessoal de idade avançada, altos custos e falta de
recursos financeiros. Enquanto a diferença de preços entre a madeira local e a
importada não for bem grande, o Japão não pode se abastecer no mercado local”,
disse à IPS.
Nakagochi dirige um projeto florestal na área, localizada na
ilha de Shikoku, que se baseia nas pautas do conselho de administração de
florestas dispostas na Alemanha para fazer um uso sustentável da madeira. Sob o
atento olhar do capítulo japonês do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), o
empório florestal pretende desenvolver um comércio de madeira viável do ponto de
vista ecológico, que se converterá em um exemplo. Com essa idéia em mente, o
empresário e sua equipe desenvolveram uma cuidadosa estratégia de
corte.
Eles promovem a madeira como um produto que enfatiza um equilíbrio
entre o negócio e a preservação dos recursos naturais. Essa prática pouco a
pouco atrai a atenção do público agora que o comércio de madeira local
certificada pertence à agência florestal local e a cerca de 10 companhias de
construção japonesas. Outra medida interessante é um novo imposto para proteger
as florestas, introduzido em alguns municípios para proteger o meio ambiente de
forma sustentável. O governo também lançou um programa para aumentar os impostos
trabalhistas no setor e contratar mais de cinco mil novos
trabalhadores.
Algumas empresas japonesas também começaram a estabelecer
objetivos para o consumo de madeira interna. Chugoku Lumber, com sede na cidade
de Hiroxima, decidiu aumentar o consumo para 600 mil metros cúbicos contra os
atuais 170 m³. As empresas do Japão também começaram a cultivar árvores em
países que esgotaram suas florestas, como Indonésia e Papua Nova Guiné. Na
Indonésia, Sumitomo Forestry, um importador líder e outrora questionado por
ambientalistas, iniciou um programa que fornece árvores jovens aos agricultores
e depois as compra quando estão maduras. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/
IPS)