Depois de mais um mês inteiro debruçado sobre mapas, imagens de satélite e equações matemáticas, o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) divulgou hoje os novos números do SAD, o Sistema de Alerta de Desmatamento, que monitora de forma independente a derrubada e a degradação da floresta. Agora, quem se apoia sobre os dados é o Greenpeace, que vai sobrevoar algumas áreas para conferir se os satélites estavam certos ao apontar mais de 300 quilômetros quadrados de derrubadas na Amazônia no último mês de julho.
A parceria entre as duas organizações promete refinar ainda mais o monitoramento da floresta amazônica. No próximo mês, o Greenpeace fará o terceiro sobrevoo de verificação dos dados do SAD. A previsão é que ela ocorra a cada três meses.
Em maio de 2010, uma equipe decolou com GPS e mapas do Imazon para confirmação de 108 polígonos de desmatamento e degradação indicados pelo sistema, entre os meses de janeiro e março deste ano. O sobrevôo indicou que 93% dos alertas estavam certos.
“Essa verificação é fundamental para sistemas de monitoramento como o SAD, pois as informações são baseadas em interpretação de imagens de satélite”, explica Edwin Keizer, coordenador do laboratório de Geoprocessamento (LabGeo) do Greenpeace. “Os dados reais, de campo, são complementares e confirmam se os alertas são verdadeiros.”
Além de tornar mais precisos os dados sobre a Amazônia, a ideia é que, aos poucos, esse monitoramento se torne mais abrangente e envolva mais atores. “O Greenpeace está na Amazônia, conhece a realidade da região e tem parceiros locais. Aos poucos, pretendemos envolver associações e pessoas daqui, formando uma rede de parceiros que vai tornar esse monitoramento ainda mais transparente”, diz Keizer.
Usado como alerta para os órgãos de fiscalização e a sociedade civil, o SAD cumpre função semelhante ao do Deter, o sistema de detecção de desmatamento em tempo real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Os alertas, porém, estão cada vez mais difíceis de serem emitidos, já que a dinâmica do desmatamento mudou de alguns anos para cá. Hoje, quase 60% das derrubadas são menores do que 25 hectares, área mínima que os dois sistemas conseguem enxergar.
Daí a importância de se ter cada vez mais olhos voltados para o solo. “Uma pessoa que more numa região remota da Amazônia talvez não entenda de mapas, mas pode ser um importante agente para denunciar um desmatamento que está acontecendo ali, ao seu lado”, afirma o coordenador do LabGeo do Greenpeace. “É essa associação que vai tornar o monitoramento mais eficaz daqui para frente: um olho na tecnologia e outro no ‘mundo real’.”