Apenas entre 2001 e 2006, o nível do mar na cidade - a 182 km do Rio - aumentou 15 cm
Rio - A elevação do nível do mar na cidade de Macaé, no Norte Fluminense, foi dez vezes superior à média global de elevação, registrada pelo Painel da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Essa é a principal conclusão do estudo sobre as marés da região, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografica e Estatística(IBGE), divulgado nesta terça-feira.
Os dados colhidos pelo IBGE mostram que, entre 1994 e 2006, o nível do mar aumentou em média 37mm no Norte Fluminense - ou dez vezes mais que a média apontada apontada pelo IPCC, de 3,1 mm (entre 1993 e 2003). Apenas entre 2001 e 2006, o nível do mar em Macaé - a 182 quilômetros do Rio - aumentou 15 cm.
O monitoramento em Macaé começou em novembro de 1994, quando o IBGE instalou um centro de operações no Porto de Imbetiba, em parceria com a Petrobras. Em outro ponto de observação, na cidade de Imbituba, em Santa Catarina, a elevação anual registrada pelo IBGE foi de 2,5 mm por ano. O ritmo de elevação no litoral catarinense no entanto aumentou entre entre 2001 e 2006, atingindo a média de 1 cm.
O número também é maior que o registrado na terceira parte do quarto relatório da ONU sobre o clima, do dia 4 de maio. O IPCC mostrou que a média mundial de elevação dos mares era de 1,8 mm por ano, no período entre 1961 a 2003. A média global subiu para 3,1 mm por ano, entre 1993 e 2003 .
"A elevação não está de acordo com os estudos globais. Os efeitos são locais, talvez por questões geológicas, mas não sabe se há rebaixamento da cidade", afirmou a pesquisadora Claudia Léllis.
De acordo com o pesquisador Luis Paulo Solto Fortes, não se pode dizer ainda quais são as causas da elevação do nível do mar. A princípio, as conclusões dependem de novos estudos nos próximos dois anos e meio, que serão realizados com GPS.
Na primeira parte do mesmo relatório, a ONU afirmou que até o fim deste século, a temperatura da Terra pode subir de 1,8ºC, na melhor das hipóteses, a até 4ºC, provocando um aumento do nível dos oceanos de 18 a 59 cm, além de inundações e ondas de calor mais freqüentes. Mas projetando os valores encontrados pelo IBGE em Macaé, em 100 anos, com elevação de 15 cm por ano, a praia de Imbetiba estaria com mais três metros sobre sua zona costeira.
"Ainda não há previsão de impactos. Mas seria interessante um contato com a Prefeitura, para que houvesse um alerta", explica Cláudia.
Problema generalizado
As áreas ameaçadas pelo fenômeno atribuído ao aquecimento do planeta abrigam cerca de 2% da superfície terrestre e aproximadamente 10% da população. Mais de 1 bilhão de pessoas que vivem em áreas abaixo do nível do mar poderiam sofrer as conseqüências de um desastre natural, segundo alertou um estudo recente do Observatório Geológico dos Estados Unidos.
Outro estudo, dessa vez elaborado pelo Instituto Internacional para o Meio Ambiente e Desenvolvimento e divulgado em abril, reiterou que uma em cada dez pessoas no mundo vivem em áreas costeiras com risco de inundações caso haja avanço do oceano. Segundo um dos cientistas que elaboraram o documento, de 180 países com áreas em situações de risco, 130 tem sua concentração urbana no litoral, mais de dois terços das cidades.