Dia Internacional da Biodiversidade - ou mais um dia em que desaparecem 9 espécies animais ou vegetais

No dia 22 de maio, Dia Internacional da Biodiversidade, tivemos pouco a comemorar. Biodiversidade é um conceito que resume o patrimônio genético que temos no Planeta. E não se trata apenas da diversidade de espécies que habitam os inúmeros ecossistemas, e com eles criam teias complexas e equilibradas, mas, pragmaticamente falando, também do potencial farmacêutico de novas substâncias biodinâmicas descobertas nas pesquisas com essas espécies.

Ou seja, a perda de biodiversidade é uma tragédia para a Natureza e um tiro no pé da humanidade.

Em outubro desse Ano da Biodiversidade, 193 nações signatárias da Convenção de Diversidade Biológica (CDB), reunidas na conferência das Nações Unidas COP10 (Conference of the Parties 2010), tentarão estabelecer metas de preservação para os próximos dez anos. No entanto, devemos lembrar que dez anos atrás, quando todos esses temas já eram alardeados, a mesma Conferência das Partes estabeleceu que em 2010 o mundo já deveria perceber uma melhora na proteção dos ecossistemas. Pois bem, passados 10 anos, as notícias não são nada boas.

Em um ritmo alucinante, a cada um desses 10 anos, o Planeta perdeu cerca de 3 mil espécies animais ou vegetais sem que a ciência tivesse tempo de estudá-las ou mesmo catalogá-las. Uma espécie desapareceu a cada 3 horas e, com ela, sabemos que perdemos biodiversidade, mas não sabemos exatamente o que perdemos de conhecimentos.

Sabemos também que essa extinção em massa tem sido provocada pela conjunção fatal entre destruição dos mais variados habitats naturais, florestas devastadas ao ritmo de 8.000 campos de futebol a cada 2 horas, incessante poluição ambiental e o famoso (e atualmente culpado por tudo) aquecimento global. Mas não pense que essas causas estão longe do seu quintal. Algumas delas estão diretamente relacionadas às nossas próprias atividades, muitas inevitáveis, é claro, que proporcionam a todos nós prazer e conforto. E, apesar das notícias continuarem não sendo boas, poucos de nós fazem algo em favor da preservação. Muitos verbalizam suas preocupações, mas poucos estão dispostos a abrir mão de parte do consumo exagerado ou colocar a mão no bolso em favor das causas ambientais.

Em janeiro desse ano, o World Wildlife Fund (WWF) divulgou uma lista com os 10 principais animais ameaçados de extinção (veja ao final). Em abril, as Nações Unidas divulgaram um grande estudo sobre biodiversidade que nos informa que um terço dos anfíbios, um quinto dos mamíferos e um décimo dos pássaros do planeta estão ameaçados de extinção. As populações animais sofreram 30% de redução, as áreas de mangue foram reduzidas em 20% e a cobertura de corais vivos em 40%. E foi exatamente para chamar a atenção sobre a necessidade de preservação da vida no Planeta que a ONU elegeu 2010 o Ano da Biodiversidade.

Mas as notícias continuam a calar as comemorações. Pesquisadores ligados às universidades federais da Paraíba e do Mato Grosso do Sul, à Conservação Internacional (CI) e à Fundação SOS Mata Atlântica, divulgaram no dia 22 de maio um estudo sobre a preservação da biodiversidade marinha no litoral brasileiro, dividido em oito regiões. Através de informações disponibilizadas pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), pelo Ministério do Meio Ambiente e pelos Estados, os pesquisadores constataram que 59 espécies de peixes, raias e tubarões estão em risco de extinção. Em primeiro lugar está o Sudeste (RJ e SP) com 47 espécies, em segundo a região Sul (RS e SC) com 32 espécies e em terceiro aparece a região Leste (ES e BA) com 30 espécies.

No Norte e no Nordeste, segundo o estudo, a situação é melhor. No entanto, como sempre, faltam pesquisas e informações confiáveis sobre como estão as populações das espécies de peixes marinhos. De acordo com os próprios pesquisadores, ainda não foram avaliadas nem 200 espécies. Como as estimativas indicam potencialmente cerca de 1,5 mil espécies de peixes ocorrentes em nossas águas, mais uma vez temos a percepção de que muitas já desapareceram sem que pudéssemos estudá-las. Mais perda de biodiversidade, desta vez provocada pela combinação da pesca exagerada com a pesca predatória.

Voltando ao tema da COP10, um dos principais tópicos de discussão da conferência será a criação de novos santuários de espécies ameaçadas __ a meta do Brasil na Convenção de Diversidade Biológica é ter 10% dos mares brasileiros protegidos (hoje só temos 1%). Além da inclusão da assustadora velocidade com que o Planeta está sendo impactado pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas, variáveis que há dez anos não eram tão reais e perceptíveis, temos uma questão de credibilidade do anfitrião. O palco esse ano será Nagoya, no Japão. E o Japão, como todos sabemos, insiste na caça às baleias e golfinhos e se recusa a aceitar a proibição da pesca e comércio do atum-azul. Atitudes incompatíveis para um país que pretende ser líder de uma conferência que tem como meta aumentar a proteção dessas e de outras espécies ameaçadas de extinção.

Ainda acho que a conferência deveria dar tratamento especial a algumas espécies de tubarões vulneráveis e em perigo de extinção, como o tubarão-branco e os tubarões-martelo, mas talvez seja ainda mais importante levantar a bandeira contra a cruel perseguição de algumas espécies para a extração de partes de seu corpo para obtenção de produtos supérfluos cujos benefícios apregoados não têm nenhuma base científica comprovada.

Aproveitando que a conferência será no Oriente, as Nações Unidas deveriam lançar uma campanha contra a ultrapassada e absurda crendice popular, comum nessas bandas, de que partes de animais, como o chifre do rinoceronte, o pênis do tigre, as patas de ursos e gorilas ou as barbatanas dos tubarões, têm propriedades afrodisíacas ou medicinais.

A arrogante pretensão do ser humano de se achar mais evoluído e mais importante do que os outros seres e a ganância humana continuam sendo grandes incentivadores da perda de biodiversidade no Planeta.

Os 10 principais animais ameaçados de extinção


1 - Tigre: novos levantamentos indicam que existem menos de 3,2 mil tigres na natureza. Hoje, só restam apenas 7% do habitat natural destes animais. O extermínio dos tigres também está ligado à falta de informação. Em muitas partes da Ásia, os tigres são caçados porque partes do seu corpo são consideradas medicinais.

2 - Urso polar: o urso polar se tornou o principal símbolo dos animais que perdem seu habitat natural devido ao aquecimento global. A elevação da temperatura no Ártico é uma das principais ameaças aos ursos, assim como os petroleiros e os derramamentos de óleo na região.

3 - Morsa: os mais novos animais a entrarem para a lista dos ameaçados, as morsas também são diretamente afetadas pelo aquecimento global. Em setembro, 200 morsas foram encontradas mortas nas praias do Alasca. Com o derretimento das geleiras, os animais estão ficando sem comida.

4 - Pinguim de Magalhães: o aquecimento das correntes marítimas tem forçado os pinguins a nadarem cada vez mais longe para achar comida. Não à toa, eles têm aparecido nas praias brasileiras, muitas vezes magros demais ou muito doentes. Das 17 espécies de pinguins, 12 estão ameaçadas pelo aquecimento global.

5 - Tartaruga-gigante: também conhecida tartaruga-de-couro, são um dos maiores répteis do planeta e chegam a pesar 700 quilos. Estimativas mostram que há apenas 2,3 mil fêmeas no Oceano Pacífico, seu habitat natural. O aumento das temperaturas, a pesca e a poluição têm ameaçado sua procriação.

6 - Atum-azul: um dos ingredientes principais do sushi de boa qualidade, o atum encontrado nos oceanos Atlântico e Mediterrâneo está sendo extinto por causa da pesca predatória. Uma proibição temporária da pesca desta espécie de atum ajudaria suas populações a voltar a um equilíbrio. Segundo o WWF, as pessoas em geral podem ajudar a protegê-los diminuindo seu consumo.

7 - Gorila das montanhas: famosos depois do filme "Nas montanhas dos gorilas", estrelado por Sigourney Weaver, os gorilas podem deixar de existir na próxima década. Existem apenas 720 animais vivendo nas florestas da África, e outros 200 no Parque Nacional de Virunga, a maior área de preservação desta espécie. Em muitas partes da África, os gorilas são caçados porque partes do seu corpo são consideradas medicinais.

8 - Borboleta monarca: as temperaturas extremas são a principal ameaça destas borboletas, que todo ano cruzam os Estados Unidos em busca do calor mexicano. Elas vivem em florestas de pinheiros, área cada vez mais ameaçada pelo aquecimento global e urbanização crescente.

9 - Rinoceronte de Java: existem apenas 60 destes rinocerontes em seus habitat natural. Como seu chifre é usado na medicina tradicional asiática, os rinocerontes são caçados de forma predatória. A expansão das plantações também tem acabado com as florestas que abrigam a espécie. O Vietnã, país que era um grande habitat dos rinocerontes, abriga apenas 12 animais no momento.

10 - Panda: restam apenas 1,6 mil pandas na natureza, de acordo com o WWF. Eles vivem nas florestas da China, que estão cada vez mais ameaçadas pelo crescimento das cidades chinesas. Existe mais de 20 áreas de proteção ambiental no país para proteger estes animais. Metade dos pandas vive hoje em áreas protegidas ou em zoológicos.

*Marcelo Szpilman, Biólogo Marinho formado pela UFRJ, com Pós-Graduação Executiva em Meio Ambiente (MBE) pela COPPE/UFRJ, é autor dos livros GUIA AQUALUNG DE PEIXES, AQUALUNG GUIDE TO FISHES, SERES MARINHOS PERIGOSOS, PEIXES MARINHOS DO BRASIL, e TUBARÕES NO BRASIL, e de várias matérias e artigos sobre a natureza, ecologia, evolução e fauna marinha publicados nos últimos anos em diversas revistas e jornais e no Informativo do Instituto. Atualmente, Marcelo Szpilman é diretor do Instituto Ecológico Aqualung, Editor e Redator do Informativo do citado Instituto, diretor do Projeto Tubarões no Brasil (PROTUBA) e membro da Comissão Científica Nacional (COCIEN) da Confederação Brasileira de Pesca e Desportos Subaquáticos (CBPDS).

(Envolverde/Instituto Ecológico Aqualung)
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