“Estamos preparados para o pior” garante Carol Browner, conselheira para políticas energéticas e mudanças climáticas do governo Obama. Pessimismo prevalece também no tom da declaração de Bob Dudley, diretor geral da British Petroleum (BP), após assumir que a última tentativa de contenção do vazamento de óleo do Golfo do México, usando uma técnica de injeção de lama e lixo sólido chamada Top Kill, fracassou. “Estamos decepcionados. Não fomos capazes de controlar o fluxo do poço”, concluiu Dudley.
Passado mais de um mês desde o desastre, não há cálculos do tamanho do impacto do vazamento nos ecossistemas do Golfo do México. Se tomarmos como exemplo outros derramamentos semelhantes, a dimensão é assustadora. Recente estudo em cima do desastre com a plataforma Exxon Valdez, por exemplo, concluiu que a vida selvagem do Alasca ainda está ingerindo o óleo derramado 20 anos atrás. O que esperar, então, de um vazamento que já passou do dobro do tamanho do Alasca e que promete se estender por meses?
Mikael Freitas, da Campanha de Oceanos do Greenpeace no Brasil, lista algumas preocupações: “O atum azul do Atlântico Norte, em risco eminente de extinção e outras espécies de tubarão também ameaçadas desovam no Golfo do México entre abril e junho. Tartarugas marinhas migram para as águas mais quentes ao sul do Mississipi nesta época do ano. As populações de baleias e golfinhos próximas à área do vazamento sofrem riscos ainda mais diretos, visto que precisam ir até a superfície para respirar, correndo sérios riscos de ingestão do óleo durante sua respiração”.
Além das espécies marinhas, o Pelicano Marrom, ave símbolo da Louisiana e outras aves migratórias têm hábito de se alimentar na região próxima ao derramamento. Sem contar o impacto para a pesca de peixes, camarões. “Fazendas de ostras também estão na mira, visto que as ostras, extremamente sensíveis, são organismos que se alimentam filtrando a água do mar”, complementa Mikael.
Tão logo confirmou a falha na última tentativa, a BP anunciou outra investida de contenção. Uma nova perfuração no poço desviará grande parte do vazamento e diminuirá a pressão, para uma posterior tentativa de contenção total, usando uma nova “rolha”. A previsão, desta vez mais modesta, é de que o processo demore por volta de dois meses. “Parece que as futuras gerações conhecerão o Golfo como o “Mar Negro”. Marco da incompetência de uma empresa pretensiosa, do descaso com as questões ambientais, e de uma sociedade sedenta pelo lucro e pela exploração criminosa dos recursos naturais”, diz Mikael.
“Precisamos saber o que pensa o governo brasileiro em relação ao pré-sal, quando vêem o tamanho do problema nas mãos da BP. Este é um sinal mais do que claro de que o homem não tem conhecimento, nem capacidade, de continuar explorando recursos fósseis”, complementa.
O Greenpeace defende o estabelecimento de Áreas de Marinhas Protegidas, o fim da exploração de combustíveis fósseis e o estabelecimento de uma matriz energética limpa e renovável, que garanta um futuro seguro não só para a humanidade, mas para todas as formas de vida que ainda resistem.
(Envolverde/Greenpeace)