A BP anunciou ontem que conseguiu introduzir um tubo dentro da rachadura, o que permite canalizar o petróleo que estava vazando, mas as autoridades norte-americanas asseguram que é apenas uma solução de emergência. O poço está localizado a cerca de 1,5 mil metros de profundidade, o que representa obstáculos formidáveis para acabar com o vazamento no mar. No longo prazo, calcula-se que o acidente ofuscará o vazamento de 11 milhões de galões (41 milhões de litros) provocado pelo petroleiro Exxon Valdez em 1989, no Alasca, o maior desastre petrolífero na história dos Estados Unidos.
Ainda não se sabe quanto petróleo pode ser derramado no Golfo antes de o vazamento ser completamente contido. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos diz que as amostras recolhidas no dias 1º e 2 deste mês, na costa da Louisiana, continham químicos derivados do petróleo. “Estes resultados continuam indicando que a qualidade da água não representa um risco maior para a vida aquática, como os peixes e moluscos”, disse a Agência no dia 4.
Mas Riki Ott, uma toxicologista que escreveu dois livros sobre o vazamento do Exxon Valdez, acredita que a situação é muito piro do que as autoridades afirmam. A “BP tenta dizer que estamos ganhando porque o petróleo não chegou à costa. Nada mais longe da verdade. Estamos perdendo, com tanto petróleo tóxico vazando a cada dia e que está sendo atacado com dispersantes, outro químico tóxico”, ressaltou. A companhia informou que usou cerca de 400 mil galões (1,51 milhões de litros) de dispersante, que fragmenta o petróleo, e prepara mais 805 mil galões (três milhões de litros).
“Este petróleo disperso é extremamente tóxico para as formas de vida jovens”, afirmou Ott à IPS. A “BP diz que não é tóxico, que não representa um problema maior. Isso é muito enganoso porque os únicos dados sobre a toxidade se baseiam em um experimento no qual são mergulhados camarões e gobios adultos em dispersantes ou petróleo, durante 48 ou 96 horas, e são contados quantos morrem ou vivem”, disse Ott. “No entanto, as formas de vida jovens são mais sensíveis aos químicos tóxicos do que as adultas. No Golfo há uma exposição contínua. O petróleo se desloca” mais de 1,6 quilômetros na água, acrescentou.
Estudos de arenques mortos após o vazamento do Exxon Valdez demonstraram que os parasitas que habitualmente viviam no estômago dos peixes migraram para o tecido muscular a fim de evitar a exposição tóxica, enfraquecendo, assim, o sistema imunológico e gerando problemas reprodutivos. “Cerca de 99,9% das ovas de arenque expostas ao petróleo morreram”, explicou Ott, destacando que os ecossistemas da plataforma continental e do oceano aberto estão muito ligados.
“O camarão criado nos pântanos e mangues, quando migra para o mar se converte em alimento do mero” e de outras espécies, disse Ott. “É muito petróleo e muito rápido para não repercutir com força em gerações de vida silvestre presentes na água. As aves que comem moluscos, os mamíferos marinhos estão adoecendo e morrendo. Há pássaros que alimentam seus filhotes com pescados cheios de petróleo, o que atrasa seu crescimento”, acrescentou.
Também corre risco o sustento das famílias que vivem da pesca. A BP indenizou com um máximo de US$ 5 mil pescadores e outros trabalhadores que reclamaram individualmente por perdas econômicas. Calcula-se que as operações de limpeza e os danos causados pelo vazamento custarão em torno de US$ 4 bilhões, embora essa quantia possa ser superior. O governo dos Estados Unidos afirma que a BP e outras empresas com responsabilidade no vazamento devem pagar integralmente a limpeza e os prejuízos. O presidente Barack Obama pretende conseguir US$ 118 milhões em fundos de emergência para os custos imediatos relacionados com o vazamento, que a BP reembolsaria ao governo.
Orissa Arend, da cidade de Nova Orleans, na Louisiana, fronteira com o Golfo do México, disse à IPS que a maioria dos habitantes continua consumindo o pescado local, porque 80% dele procede de regiões que ainda não foram afetadas pelo vazamento. Os 20% restantes vêm de unidades processadoras de pescado que suspenderam a produção. A população também se preocupa com a iminente temporada de furacões. “As pessoas temem que na próxima passagem de um furacão, em lugar de inundações apenas de água, tenhamos inundações de água misturada com petróleo”, disse Arend. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)