Os apicultores comerciais descobriram em 2006 que suas colmeias desapareciam. Entre 50% e 60% de suas abelhas morriam ou as operárias abandonavam as larvas. Não se sabe exatamente qual a causa do desaparecimento das colônias, mas há indícios de que as abelhas são vítimas das vicissitudes da vida moderna. O estresse ambiental pode interferir na disciplinada vida das colmeias em combinação com químicos nocivos. As abelhas de criadouro estão submetidas a uma forte pressão, apesar de sua imagem bucólica e de serem muito queridas.
Cultivadas por seu comportamento não agressivo e grande produção de mel, espera-se que ajudem a polinizar dezenas de milhares de hectares de cultivos de flores nos Estados Unidos e na Europa. Por outro lado, pouco se sabe das abelhas silvestres que colonizam cidades e áreas urbanas. O Great Sunflower Project (Projeto Girassol) surgiu da frustração de Lebuhn pela falta de abelhas em seu jardim, na periferia da cidade norte-americana de São Francisco. A especialista se propôs a melhorar o equilíbrio biológico de sua casa e contribuir com a ciência. “Fiquei surpresa com a quantidade de gente que quis participar”, afirmou.
Lebuhn envia pacotes de sementes de girassol para pessoas interessadas em cultivá-los. É uma planta resistente que cresce na América do Norte e, o mais importante, é “muito atraente para as abelhas”, explicou. Os voluntários fazem observações em seu jardim da atividade das abelhas quando as flores florescem e enviam a Lebuhn os seus registros. Cerca de 55 mil pessoas em todo o país e de províncias canadenses participaram em 2009. Este ano espera-se que aumente o número de voluntários.
Há cerca de 1.500 espécies de abelhas autóctones na Califórnia, e talvez umas 2.500 mais no resto do continente. Podem ser de vários milímetros ou chegar ao tamanho de um besouro. A intenção do estudo é conhecer a vida das abelhas mediante um mapeamento da variedade de espécies no Canadá e nos Estados Unidos, tarefa impossível sem ajuda de cidadãos interessados. É importante saber qual seu habitat preferido. O inconveniente é que as “pessoas temem dizer que não há abelhas”, explicou Lebuhn. “Os voluntários acreditam que fizeram algo errado porque não entendem a importância do zero na ciência”, acrescentou.
Economistas especializados em agricultura e ecologistas estimam que a contribuição dos polinizadores silvestres nos Estados Unidos chegue a entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões ao ano. As abelhas de criadouro polinizam o equivalente a outros US$ 18 bilhões. A produção agrícola aumenta quando as abelhas vão de uma planta a outra, o que fornece um serviço incalculável para agricultores e jardineiros, que será dificultado ou impossibilitado se o principal polinizador continuar desaparecendo.
Os dados do estudo servirão para implementar uma estratégia efetiva que contribua para preservar as abelhas autóctones e fomentar a propagação de plantas que são benéficas para elas. Não é a primeira vez que as abelhas desaparecem e as causas sempre são uma incógnita. É importante preencher o vazio no conhecimento, disse Victoria Wojcik, da organização sem fins lucrativos Pollinator Partnership, com sede em São Francisco. “Ninguém estudou bem o fenômeno”, disse, referindo-se às espécies autóctones.
O desaparecimento é observado desde a década de 70, independente do problema do colapso das colônias. Muitas ameaças pairam sobre elas, com a densidade das populações urbanas e a fragmentação do campo. Descobriu-se que ácaros parasitários haviam dizimado as colmeias, mas é difícil encontrar um culpado, devido à quantidade de pesticidas utilizados. O Congresso norte-americano modificou em 2008 o projeto de lei de fazendas para melhorar o hábitat das abelhas polinizadoras. Foram destinados vários milhões de dólares para investigar mais a fundo o problema.
O projeto também permitiu introduzir práticas agrícolas alternativas, como a gestão integral de pragas, para reduzir a dependência dos químicos. Jardineiros interessados decidiram tomar medidas imediatas, cultivar plantas e árvores frutíferas autóctones, atraentes para as abelhas. Estão conscientes de que os jardins silenciosos não fazem prever nada bom. IPS/Envolverde
* Este artigo é parte de uma série de reportagens sobre biodiversidade produzida pela IPS, a CGIAR/Bioversity International, a IFEJ e o Pnuma/Convênio sobre a Diversidade Biológica, membros da Aliança de Comunicadores para o Desenvolvimento Sustentável (http://www.complusalliance.org).
(IPS/Envolverde)