O problema está na forma como o meio ambiente vem sendo compreendido! Em vez dos governantes ou administradores públicos ou privados ecologizarem todas as suas ações, principalmente a partir da década de 80, preferiram copiar modelos estrangeiros. Surgiram então os 'compartimentos estanques' e por vezes impermeáveis com a pretensão de 'cuidar' do meio ambiente.
Calou-se, assim, todo um segmento da sociedade que teve suas energias e esperanças canalizadas numa direção, além de se criarem verdadeiros nichos de emprego para técnicos e profissionais do setor e mesmo nichos políticos para representantes ambientalistas da sociedade.
Aparentemente, tudo parecia bem, entretanto, esta é uma situação paradoxal por principio e que se mostra inadequada para tratar de um tema transversal, horizontal e multidisciplinar como o meio ambiente.
Ao se adotar este modelo criou-se, por um lado, um órgão para preservar o meio ambiente, e por outro, na mesma administração, vários outros órgãos para destruí-lo, ou que não levam o meio ambiente em conta em suas ações e políticas! E pior, que ficam impedidos de cuidar da questão ambiental já que existe, na mesma administração, um órgão para isso. Ou porque na titularidade do órgão ambiental estão desafetos políticos ou o órgão ambiental 'pertence' politicamente a um outro partido da base de sustentação da Administração.
O ideal seria uma Administração 'ecologista' onde cada um e TODOS os órgãos de uma mesma administração tivessem responsabilidades de acordo com sua especificidade. Só para citar um exemplo disso, Educação Ambiental seria responsabilidade dos setores de Educação. Logo de cara essa proposta vai na contramão do que está aí, principalmente dos atuais detentores de cargos e posições políticas em setores ambientais. Então, não será nada fácil ecologizar uma administração depois que ela construiu áreas de conforto para técnicos e políticos ligados ao setor ambiental e deu à sociedade e a esperança de que com um órgão especifico para cuidar do meio ambiente então estará bem! O administrador que pretender mudar isso terá de ter coragem e resistir ao chororo e às tentativas de boicotes do próprio nicho ambiental! E isso é bem humano e compreensível pois tendemos a temer e a reagir ao que desconhecemos! Numa administração ecologizada os técnicos ambientais teriam muito mais oportunidades que numa administração ambiental compartimentalizada, pois mais órgãos terão de demandar esses conhecimentos ambientais!
E enquanto isso não acontecer, continuaremos assistindo a administrações ambientais fracas e isoladas dentro de Administrações que não se consideram comprometidas com o meio ambiente tanto quanto se acham comprometidas com o desenvolvimento. E continuaremos assistindo administrações ambientais que falam apenas para o próprio umbigo, que especializaram-se em dizer o que NÃO se pode fazer com o meio ambiente, em vez de dizer o que pode ser feito com ele sem destruí-lo!
Nenhum ambientalista sensato quer a natureza apenas para as plantas e os bichos, pois nossa espécie também faz parte da natureza e tem todo direito ao desenvolvimento, à superação da miséria e à qualidade de vida.
Por outro lado, nenhum desenvolvimentista sensato quer um tipo de progresso que resulte numa terra arrasada atrás de si e de seus empreendimentos!
Entretanto, buscar a possível e desejável compatibilizacao entre progresso e meio ambiente diante de administrações compartimentalizadas e quase sempre estanques entre si será uma perda enorme de talentos e de energias, que poderiam estar sendo empregados para encontrar soluções em vez de tentarem se desqualificar e demonizar mutuamente.
* Vilmar é escritor, autor de 20 livros, entre eles A ADMINISTRAÇÃO COM CONSCIÊNCIA AMBIENTAL, das Edições Paulinas - www.escritorvilmarberna.com.br / www.portaldomeioambiente.org.br
(Envolverde/Rebia)