Basicamente, o que Kunz quer dizer, e tem razão, é que o licenciamento ambiental é uma questão de responsabilidade do governante diante da sociedade que o elegeu, seja no nível federal, estadual ou municipal. E, com a autoridade de quem foi afastado do cargo por "atrapalhar" o licenciamento das usinas do rio Madeira, Kuns assegura que hoje “os chefes do poder executivo tem pouca responsabilidade com os problemas ambientais”.
De fato, os órgãos ambientais, apesar de fazerem parte da estrutura administrativa do poder executivo, são encarados como os responsáveis pelo licenciamento, no sentido jurídico do ato. Quer dizer, se alguma coisa der errado, a responsabilidade é do órgão que aprovou o licenciamento e, no máximo, seu presidente, ou diretor, é demitido.
Mas é possível raciocinar também que, como os ocupantes desses cargos normalmente são indicados pelo chefe do executivo, este, em última análise, é o verdadeiro responsável pelas consequências de um eventual licenciamento indevido, embora nunca responda pelo ato. Na verdade, ninguém responde, como ninguém respondeu ainda pelas tragédias de Angra dos Reis.
A irresponsabilidade é tanta que, como observa o próprio ex-diretor do Ibama, "em geral, os governantes sucateiam os órgãos ambientais, destinando orçamentos insuficientes para a execução de suas tarefas e depois os pressionam para que dêem celeridade à analise de projetos de desenvolvimento.
A justificativa é essa: “Eles não tem nenhum compromisso com os possíveis resultados de degradação e poluição que possam advir da atividade, podendo inclusive lavar as mãos e culpar o órgão ambiental pela omissão na análise. Mas se essas autoridades tivessem que emitir a licença, teriam que responder por suas conseqüências”.
Luiz Felippe Kunz Júnior tem larga experiência no assunto. Trabalhou na Secretaria de Meio Ambiente de Porto Alegre, na criação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do RS e foi o primeiro diretor do Departamento de Florestas e Áreas Protegidas gaúcho. além de ter integrado a equipe da senadora Marina Silva, no Ministério do Meio Ambiente.
Para ele, “o licenciamento não dá conta de resolver os problemas ambientais, pois depende da implantação de outros instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente”. O processo é fragmentado e o órgão ambiental não consegue dar resposta adequada devido ao grande volume de trabalho e às pressões para liberação das licenças.
Por isso, Kuns sugere um caminho diferente do atual que, em sua opinião, "poderia até agilizar o processo, como tanto querem os empreendedores". A trajetória seria a seguinte: o órgão ambiental faria sua análise e encaminharia ao governante. E ele é quem assumiria o ônus da decisão, se a proposta é ou não viável sob todos os aspectos. Com isso, “a discussão sobre os impactos de grandes empreendimentos ganharia outra dimensão política, com benefícios para a sociedade”.
O ex-diretor do Ibama falou, nesta quinta-feira (14/01), em Porto Alegre, a técnicos, membros de organizações não governamentais e professores universitários, no encontro “Quem faz o Que pelo Corredor do Rio Pelotas”, que tem o objetivo de chamar a atenção para o potencial da região dos Campos de Cima da Serra, promovido pelo Projeto Mira-Serra, com o apoio da TNC, Igré e Centro de Apoio Sócio-Ambiental (CASA).
*Com informações da Assessoria de Imprensa
(Agência Envolverde)