O trabalho apresenta aspectos biológicos da Bacia do Prata, que abriga cerca de 200 especies de peixes, mas também analisa os aspectos sócio-econômicos sobre as comunidades e a legislação. Nesta região vivem 130 milhões de pessoas e cerca de 30 mil pescdores artesanais em 50 núcleos urbanos entre pequenos povoados e cidades. A pesquisa, apresentada este mês e intitulado “Uso sustentável de peixes na Bacia do Prata. Avaliação Sub-regional do Estado de Ameaça, Argentina e Paraguai”, foi realizada pela Fundação Proteger, da Argentina, presidida por Peteán, e pela organização Guyra Paraguay.
Coordenados pelo Escritório Regional para a América do Sul da União Internacional para a Conservação da Natureza, os especialistas, nesta primeira etapa, se concentraram na Argentina e no Paraguai, mas o desafio – disseram – é expandir o estudo aos demais países da Bacia, que são Brasil, Bolívia e Uruguai. A Bacia do Prata tem 3,2 milhões de quilômetros quadrados e inclui os rios Paraguai, Pilcomayo, Bermejo e em especial o Paraná e o Uruguai, que despejam suas águas no Rio da Prata. Sua biodiversidade em peixes está ameaçada por superexploração pesqueira, represas, estradas e hidrovias mal planejadas, agricultura intensiva, desmatamento e incêndios.
Dos 191 tipos de peixes que foram avaliados, há 11 em estado de ameaça. Algumas são espécies migratórias afetadas por represas que causam descontinuidade no fluxo do rio e com isso segregam artificialmente as populações que precisam emigrar para se reproduzir, como o salmão. De outras 50 há dados insuficientes. “Isto ocorre com espécies raras e pouco conhecidas no âmbito científico”, explicou à IPS Cristina Morales, coordenadora do Programa Espécies de Guyra Paraguay. “As espécies raras são, em geral, muito mais susceptíveis à extinção do que as mais comuns”, alertou.
“Devido ao seu pequeno tamanho populacional, as catástrofes naturais e entrópicas têm um efeito mais mortífero sobre estas espécies, e soma-se à falta de informação sobre suas necessidades de habitat ou história natural, não se permite delinear ações de conservação para estas espécies”, disse a especialista. Sobre o total de espécies analisadas há seis com interesse comercial e esportivo muito alto. São o sábalo, primeira espécie de rio em exportações argentinas; o dourado; o surubim pintado, o surubim tigrado, o pacu e o manguruyú, este último classificado pelos especialistas como espécie “vulnerável”.
O trabalho diz que “os processos relacionados com a fragmentação do habitat, construção e operação de represas, alteração do regime dos rios, desmatamento, introdução de espécies de fora, contaminação da água e pressão pesqueira produzem um efeito negativo sobre as populações de peixes”. E recomenda mais pesquisa, leis conservacionistas, planos de manejo e controle de capturas. Morales considera que também “é chave articular ações e estratégias entre os governos que fazem parte da área de distribuição das espécies ameaçadas”. A avaliação, para a especialista, é apenas “um primeiro passo” nesse caminho.
Os pesquisadores também se propuseram “contribuir para melhorar a qualidade de vida das comunidades que dependem desses recursos”, envolvendo os pescadores no monitoramento de espécies e desenvolvendo capacidades entre estes atores que são os que mais incidem na sustentabilidade da Bacia. O estudo destaca o vínculo de interdependência que há entre os recursos e as comunidades ribeirinhas mais pobres. “O setor social de menor renda tem uma alta dependência dos recursos naturais, daí sua degradação o perda de acesso aos mesmos provocar sérios impactos”, diz a pesquisa.
Também destacam que a Bacia “deve ser valorizada e manejada responsavelmente pela sociedade e pelos governos”, porque isso “se traduziria em uma fonte importantíssima de recursos econômicos obtidos de maneira sustentável”. E acrescentam que “a pesca tradicional com propósitos vários, como alimentação familiar e subsistência, turismo e recreação, festas esportivas e comércio para o mercado interno, representa um fator essencial quanto à segurança alimentar, uma fonte de divisas e um motor muito importante para as economias regionais”. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS)