Em seu discurso inaugural, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, enfatizou que é possível alcançar esse acordo. “O aquecimento global não conhece fronteiras. Não discrimina. Afeta a todos nós. E hoje estamos aqui porque todos nos comprometemos a agir”, disse Rasmussen, acrescentando que os dinamarqueses se encarregaram para que a pegada de carbono da conferência seja e menor possível, proibindo água engarrafada e oferecendo quase unicamente alimentos orgânicos. “Por favor, selem o acordo”, pediu, por sua vez, a prefeita de Copenhague, Ritt Bjerregaard, que se comprometeu para que sua cidade seja a primeira capital mundial neutra em matéria de carbono até 2025. “Muitos de vocês viajaram um longo caminho para chegar aqui. Todos ainda têm um longo caminho pela frente, com trabalho duro e noites sem dormir”, acrescentou.
O presidente do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC), Rajendra Pachuri, já passou muitas noites sem dormir por causa do vazamento de alguns e-mails da Universidade de Anglia Oriental, na Grã-Bretanha. Em um escândalo que eclodiu há algumas semanas, diversos centros acadêmicos argumentaram que os cientistas do IPCC manipulavam os dados sobre mudança climática. Isto ameaçou descarrilar as negociações. Pachauri tentou restabelecer parte da reputação do Grupo, vinculado à Organização das Nações Unidas. “O recente incidente mostra que talvez alguns cheguem ao ponto de realizar atos ilegais, talvez em uma tentativa de desagreditar o IPCC. Mas o Grupo tem antecedentes de avaliações transparentes e objetivas ao longo de 21 anos, elaboradas por dezenas de milhares de cientistas dedicados de todas as partes do mundo”, disse Pachauri.
O secretário-executivo da Convenção Marco, Yvo de Boer, relatou aos delegados a história de Nyi Lay, um menino de 6 anos que perdeu seus pais em um devastador ciclone. De Boer pediu aos participantes para garantirem que milhões de outras crianças possam escapar de semelhante destino. O tempo acabou, disse em sua breve, mas comovedora intervenção. Após dois anos de negociações, chegou o momento de obter resultados, afirmou. Também propôs aportar de imediato US$ 10 bilhões anuais até 2012, e observou que restam apenas oito dias para que os chefes de Estado e de governo cheguem a Copenhague para alcançar um acordo.
“Façam-no de maneira simples”, disse de Boer em uma entrevista no domingo em Bella Centre, local que foi cercado pelo temor de eventuais bombas. “O que precisamos depois desta COP-15 é uma ação imediata no terreno. Para que isso ocorra, os países ricos têm de listar suas ambições em matéria de redução de emissões e assumir compromissos financeiros significativos. As nações em desenvolvimento precisam indicar claramente o que acontecerá com as emissões de suas economias emergentes”, afirmou, acrescentando que é isso o que pede par ao Natal.
Sob nenhum conceito pode haver um acordo em que se substitua o apoio Norte-Sul já existente por financiamento para combater a mudança climática, mudando o nome dos fundos de assistência oficial ao desenvolvimento ou aos destinados a cumprir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, disse de Boer. O financiamento para mitigação, adaptação e transferências de tecnologia tem de ser “reais, significativas, imediatas e adicionais”, enfatizou. Também pediu urgência ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para que vá a Copenhague com “dinheiro significativo”.
Washington parece inclinado a reduzir entre 17% e 20% suas emissões em relação a 2005. Mas, os críticos afirmam que isto não é suficiente. A ministra dinamarquesa de Clima e Energia, Connie Hdegaard, que preside a COP-15, foi categórica. “A ciência nunca foi mais clara. As soluções nunca foram mais abundantes. A vontade política nunca foi mais forte. E permitam-me alertá-los: a vontade política nunca será mais forte. Esta é nossa melhor oportunidade. Se a perdermos, poderá demorar anos para se conseguir uma nova e melhor, no caso de isso ocorrer”, disse. (IPS/Envolverde)
(Envolverde/IPS/TerraViva)