Berlim, 03/08/2009 – A corrida mundial pela captura do último peixe dos oceanos se deteve em poucas regiões, onde as reservas se recuperaram, diz um estudo divulgado sexta-feira na revista norte-americana Science. Porém, como 80% da pesca mundial já são super-explorados, tornam-se urgente medidas para reduzir a pressão sobre estes recursos e melhorar seu manejo com o objetivo de chegar a 2050 com uma população de peixes que permita sua comercialização. “Ainda vemos em todas as regiões uma problemática tendência ao crescente colapso nas reservas” pesqueiras, disse o especialista Boris Worm, da Universidade Dalhousie, do Canadá.
Mas, na metade dos 10 bancos de peixes estudados em
detalhe por Worm, e 20 cientistas e ecologistas, o ritmo de exploração diminui e
algumas populações se refazem. “Isto significa que o manejo nessas áreas está
.preparando o cenário para uma recuperação ecológica e econômica. É apenas um
começo, mas me dá esperanças de termos capacidade para controlar a pesca em
excesso”, disse Worm à IPS. Em 2006, Worm, e seus colegas agitaram o mundo ao
afirmaram que a captura excessiva converteria em improdutiva toda pesca
comercial do mundo antes de 2050, e que os oceanos jamais poderiam se recuperar.
Suas advertências se baseavam em uma pesquisa que durou quatro anos.
A
revelação verdadeiramente atemorizante tirada do estudo de 2006 foi que quando
em uma região se extinguem muitas espécies ou restam muito poucas, o próprio
ecossistema se desestabiliza. Isto faz com que sejam perdias mais espécies, até
que reste pouco mais do que medusas. De fato, já há partes dos oceanos onde as
existências pesqueiras não se recuperaram nem mesmo depois de proibições das
capturas implementadas durante uma década. Há três anos Worm era pessimista
quanto às probabilidades de reduzir ou reverter esta corrida autodestrutiva na
qual estavam embarcadas frotas da China, Coréia do Sul, União Européia, dos
Estados Unidos e do Japão pela captura do último peixe.
Ray Hilbron,
especialista em pesca da Universidade de Washington, desafiou esse ponto de
vista, oferecendo evidências de que várias reservas estão se recuperando em
partes dos Estados Unidos, da Islândia e Nova Zelândia. Estes ecossistemas estão
melhorando, disse na semana passada em entrevista coletiva. Hilborn é um dos
autores principais da pesquisa publicada pela Science, intitulada “Rebuilding
Global Fisheries” (Reconstruindo as reservas pesqueiras mundiais). “Mas, ainda
há um longo caminho a percorrer: de todas as reservas pesqueiras que examinamos,
63% estão abaixo do objetivo e precisam ser reconstruídas”, afirmou.
O
estudo atual centra-se somente na quarta parte das existências mundiais de
peixes, porque não há dados disponíveis suficientes em outras partes para
realizar a análise adequada e em profundidade. De todo modo, Worm, disse que o
estudo apresentado constitui “um salto enorme, em termos de alcance,
profundidade e representação das diferentes disciplinas”, e, ainda, que suas
conclusões dão esperanças de que o mundo está mais perto de por fim à pesca
excessiva. O estudo deixa bastante claro que se a pressão sobre a pesca diminuir
significativamente – metade ou mais – as existências se recuperarão, embora não
totalmente, disse Michael Fogerty, do Serviço Nacional de Pesca Marinha da
Direção nacional do Oceano e da Atmosfera (NOOAA), dos Estados Unidos.
Em
1994, uma suspensão da pesca em águas da Nova Inglaterra, imposta por ordem
judicial, conseguiu uma importante recuperação das populações de badejo e
corvina pintada. Mas com as de bacalhau, peixe-carta e outras espécies isso não
ocorreu, disse Fogerty aos jornalistas. Reduzir as pressões sobre os
ecossistemas através da proibição de algumas capturas, a criação de áreas
protegidas, limitação da pesca e mudança de equipamento também implica custos
econômicos de curto prazo para conseguir, no longo prazo, que haja mais peixes.
“O manejo das reservas pesqueiras é um assunto político, não científico”, disse
Fogerty.
Embora a maior parte dos bancos de peixes que apresentaram
melhoras seja manejada por umas poucas nações ricas, há algumas exceções
notáveis. No Quênia, por exemplo, cientistas, administradores e comunidades
locais uniram esforços para fechar algumas áreas-chave à pesca e restringir
certos tipos de equipamentos. Isso gerou um aumento no tamanho e na quantidade
de peixes disponíveis, e um consequente aumento da renda dos pescadores. “Estes
êxitos são locais, mas estão inspirando outros a fazerem o mesmo”, disse Tim
McClanahan, da Sociedade de Conservação da Natureza do
Quênia.
Entretanto, os esforços de manejo na África e no Pacifico estão
ameaçados por frotas pesqueiras de longo alcance, da União Européia, China, do
Japão e de outras partes, que esgotaram suas próprias existências e passaram a
explorar as daquela área. “Algumas reservas já entraram em colapso em águas da
África e não podem ser recuperadas”, explicou McClanahan. Grandes empresas
estrangeiras de mariscos oferecem contratos lucrativos a governos africanos
necessitados de dinheiro, sem darem importância à sustentabilidade das
existências locais. Os países onde essas empresas têm sede devem ser
responsabilizados pelas ações de suas indústrias em ultramar, e ajudar nações
africanas e outras a manejar adequadamente suas reservas, acrescentou o
especialista. “Neste momento, a previsão para as existências pesqueiras não é
boa”, disse aos jornalistas.
Em geral, o panorama mundial ainda parece
nefasto, afirmou Worm. Entretanto, “de algum modo tenho mais esperanças do que
tinha em 2006, porque está claro que há ferramentas de manejo de pescas para
solucionar o problema”, acrescentou. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)