Genebra, 13/07/2009 – Embora pareça uma extravagância, em plena crise financeira internacional o Banco Mundial tenta salvar da extinção os imponentes tigres asiáticos. Muitos dos atores envolvidos nesse caso critico ambiental responderam de maneira positiva. Os 13 países que ainda servem de refugio aos apenas 3.500 tigres sobreviventes no mundo reagiram com cautela diante da iniciativa. Visitamos Índia, Nepal Indonésia e Tailândia e com estas nações as coisas caminham bem, resumiu à IPS Keshav Varma, um dos diretores do Banco. Porém, a China sempre se mostra muito inquieta a respeito de um compromisso desse tipo, acrescentou, afirmando que eles sempre consideram os demais como “intrusos neste processo”.
Por sua vez, Jane Smart, especialista da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), estima que já é animador apenas o fato de o Banco Mundial começar a falar do assunto. “Creio que isso terá muita influência”, disse à IPS. Precisamente a capacidade de convocação da instituição foi o que levaram em conta as autoridades do Banco quando em junho de 2008 convocaram governos, organizações não-governamentais, cientistas e o setor privado a se integrarem à Iniciativa Global pelos Tigres.
O projeto foi apresentado em Genebra durante a sessão, na semana passada, do comitê permanente da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres (Cites), um acordo multilateral para evitar que o intercâmbio desse tipo de animais e plantas na prejudique sua sobrevivência. A idéia do Banco Mundial ocorre quando a situação dos tigres chegou a “uma etapa extremamente crítica”, disse Varma. Ao despontar o século XX, havia no mundo cerca de cem mil tigres. Hoje, provavelmente não cheguem a 3.500, reclusos em um espaço que apenas cobre 7% do habitat que dominavam originalmente, acrescentou.
O habitat dos tigres está submetido a um processo de fratura e fragmentação. Além disso, os novos padrões do uso da terra não são muito favoráveis às tentativas para salvar a vida silvestre e os próprios tigres, alertou o representante do Banco Mundial. Na atualidade, numerosas organizações não-governamentais, grupos conservacionistas e instituições internacionais somam-se à luta contra a extinção do tigre. Em número, essas entidades superam os tigres, ironizou Smart. Outro especialista independente disse que também os eventos organizados anualmente para sensibilizar a sociedade em favor dos tigres excedem a quantidade desses animais sobreviventes.
Lamentavelmente, esta luta ocorre em frentes diversas, sem relação alguma e nem de maneira coordenada, disse Varma. Por isso, em alguns lugares se tem êxito, mas nos outros os resultados são deficientes, ressaltou. Por exemplo, na Índia obtém-se excelentes resultados no sul do país. Os cientistas indianos, como Ullas Kiaranth e outros, realizam um trabalho de destaque o Estado de karnataka. Entretanto, outras experiências indianas, como em Sariska, Estado de Rajasthan, perto de Nova Délhi, e recentemente na reserva de Panna, no Estado de Madhya Pradesh, tudo acabou em fracasso, com o desaparecimento dos últimos exemplares.
Os fracassos são atribuídos a deficiências no manejo e também à escassez de conhecimentos apropriados nas zonas fronteiriças da Índia com Nepal e Myanmar, e igualmente nos limites entre Esados na própria Índia. Devido a esses resultados “deduzi que estamos perdendo a guerra, apesar de ganharmos batalhas em alguns lugares”, disse Varma. Basta ver o que ocorre na Indonésia, onde resta apenas o tigre de Sumatra. Já perdeu-se para sempre as variedades do tigre de Bali e do tigre de Java, acrescentou.
A redução na população de tigres acaba provocando frustração entre os especialistas conservacionistas, como reconheceu à IPS John Sellar, especializado na aplicação das normas de controle da Cites. Em alguns países há trabalhos positivos, mas em outros fica evidente a falta de vontade política e às vezes também a presença de corrupção, que impedem que sejam obtidos progressos, afirmou. A frustração aumenta pela falta de colaboração tanto no plano local quanto no internacional, acrescentou Sellar. Há vários anos desde a Cites foram solicitados informes sobre aspectos do comércio legal de produtos oriundos do tigre. Com a análise destes dados pensávamos tirar conclusões que seriam úteis para todos os países, explicou o especialista.
No entanto, chegaram resposta de apenas três dos 13 países que acolhem tigres selvagens em seus territórios. Depois soubemos que muitos deles nem mesmo dispunham desses ddos para uma avaliação interna, acrescentou Sellar. Alguns Estados tampouco armazenam dados sobre capturas de tigres por caçadores ilegais. Para cobrir esse vazio, a Cites promoverá, no final deste ano, um curso de adestramento, em colaboração com a Interpo (Polícia Internacional) para profissionais dos 13 Estados que contam com reservas silvestres de tigres.
A intervenção do Banco Mundial nas políticas de proteção dos tigres não ficou livre de críticas por parte de organizações ambientalistas. Smart disse à IPS que o Banco deveria realizar reformas internas para modificar a maneira como encara suas atividades, pois “é sabido que nem sempre age de maneira favorável à causa da conservação dos animais silvestres”. Varma aceitou que o Banco Mundial precisa mudar sua visão do desenvolvimento. Vemos claramente o surgimento de uma nova consciência sobre uma diferente dimensão do desenvolvimento, afirmou. Por esse conceito de desenvolvimento já não se trata mais de fornecer concreto, tijolos ou infra-estrutura. O desenvolvimento deve ser favorável ao meio ambiente e não deve limitar-se apenas a proclamá-lo, acrescentou
Um dos pontos mais polêmicos das políticas de proteção dos tigres é a questão da criação desses animais em cativeiro. Alguns setores consideram que com os tigres criados nessas condições pode-se atender às demandas desses produtos. A propósito, os dois mercados mais importantes para os produtos derivados dos tigres são Estados Unidos e China. Varma disse que Pequim se coloca na defensiva quando se discute a questão dos criadouros de tigres.
O diretor do Banco Mundial mostrou-se cauteloso sobre essa forma de exploração porque, em última instância, dependerá da demanda dos mercados, que, por sua vez, pode ser imprevisível, afirmou. Sellar propõe que o comércio ilegal seja combatido, pois suas dimensões não alcançam as do tráfico de estupefacientes ou de seres humanos. Com formas de coordenação e colaboração, os responsáveis pelo comércio ilegal de tigres acabarão “atrás das grades, que é onde devem estar”, e assim se poderá salvar a especial, afirmou.
O especialista da Cites rechaçou críticas que comparam a severidade das medidas contra o comércio de produtos derivados do tigre em relação às regulamentações que facilitam um tráfico reduzido de marfim. Na África e na Ásia provavelmente exista um excesso de 500 exemplares de elefantes. Esses números colocam esse animal fora das espécies em risco de extinção, explicou. Por isso, é possível um comércio regulado do marfim, acrescentou. Por outro lado, temos, provavelmente, menos de 3.500 tigres em todo o mundo. Em alguns países há apenas 10, 20 ou 30 exemplares. Se cometermos um erro na conservação, aniquilaremos essas populações, ressaltou Sellar. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)