Um estudo publicado na edição desta sexta-feira (19) da Science afirma que a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera chegou a 385 partes por milhão, uma alta de 38% com relação ao pico médio registrado nos últimos 2,1 milhões de anos (280 ppm).
Os autores, cientistas do Observatório da Terra
Lamont-Doherty, da Universidade de Columbia; da Universidade de Chicago e da
Universidade de Bristol, no Reino Unido, utilizaram um novo método para observar
o registro de emissões que os permitiu um retorno maior ao passado do que os
estudos a partir do núcleo do gelo polar, que chegam até apenas 800 mil
anos.
O grupo reconstruiu os níveis de CO2 através da análise de conchas
de plâncton unicelular enterrados no Oceano Atlântico, na costa africana. Ao
datar as conchas e medir a porção de isótopos de boro, eles puderam estimar
quando de CO2 havia no ar quanto o plâncton estava vivo.
A análise do
boro, um elemento lançado durante a erupção de vulcões e usado no sabão
doméstico, para entender as concentrações deste gás foi adotada pela primeira
vez na última década por um dos co-autores do artigo, o pesquisador Gary
Hemming, da Lamont-Doherty and Queens College.
Eras do gelo
cíclicas
O planeta passou por eras do gelo cíclicas por milhões
de anos, mas a cerca de 850 mil anos atrás, os ciclos se tornaram mais longos e
intensos – uma mudança que alguns cientistas atribuem à queda dos níveis de
CO2.
Contudo, outra descoberta importante do artigo publicado na Science
é que a concentração do gás se manteve estável durante esta transição e, segundo
os autores, é pouco provável que esta seja a causa para a alteração no padrão
das eras do gelo.
A geoquímica Bärbel Hönisch, do Observatório da Terra
Lamont-Doherty e uma das autoras, afirma que pesquisas anteriores indicam que o
CO2 não mudou muito nos últimos 20 milhões de anos, mas a resolução não era alta
o suficiente para esta ser uma constatação definitiva. “Este estudo nos mostra
que o CO2 não é o principal motivo, apesar de nossos dados continuarem sugerindo
que os gases do efeito estufa e o clima global estão intimamente
ligados.”
Segundo os cientistas, a órbita da Terra e as inclinações são
apontadas como principais controladores do ritmo das eras do gelo, uma vez que
determina quanto de raios solares chegará a superfície. A dois milhões de anos
atrás, o planeta atravessava uma era do gelo a cada 41 mil anos. Contudo, em
algum momento em cerca de 850 mil anos atrás, o ciclo subiu para 100 mil anos e
a camada de gelo atingiu maiores extensões que há milhões de anos – uma
alteração muito grande para ser explicada apenas pela variação da
órbita.
A queda global do CO2 é apenas uma teoria proposta para a
transição. Uma segunda teoria sugere que o avanço dos glaciais na América do
Norte removeu o solo no Canadá, fazendo com que a última camada de gelo a se
formar sob as pedras fosse mais fina e longa. Uma terceira ainda coloca em
cheque como os ciclos são contados e questiona se uma transição realmente teria
ocorrido.
Na avaliação do glaciologista Richard Alley, da Universidade
Estadual da Pensilvânia, o baixo nível de CO2 nos últimos 2,1 milhões de anos
ressaltado pelo estudo fazem os números modernos de concentração do gás na
atmosfera, causados pela industrialização, parecerem ainda mais anômalos.
Fonte: Lamont-Doherty Earth
Observatory
(Envolverde/CarbonoBrasil)