Prevê-se que o novo
convênio seja acordado na 15ª conferência das partes da Convenção Marco das
Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá de 7 a 18 de dezembro em
Copenhague. O Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 e em vigor desde 2005,
determina aos países industrializados que reduzam essas emissões em 5,2% com
relação aos níveis de 1990, entre 2008 e 2012.
Raman, dirigente do
capítulo malaio da Amigos da Terra Internacional, disse aos jornalistas que o
governo dos Estados Unidos, na figura de Barack Obama, em lugar de demonstrar
liderança na matéria, não atendeu as expectativas criadas por seu caráter de
maior emissor mundial de gases causadores do efeito estufa. “Esta estratégia
prejudica as perspectivas de um resultado justo, eqüitativo e efetivo” das
negociações em Copenhague, acrescentou. Para Karen Orenstein, da filial
norte-americana da Amigos da Terra, “a eleição de Obama criou uma tremenda
expectativa em todo o mundo”.
Os ambientalistas confiavam que “os Estados
Unidos, finalmente, desempenhariam um papel de liderança na solução da crise
climática pela qual são mais responsáveis do que qualquer outra nação.
Infelizmente, para a sobrevivência da humanidade do planeta, a posição do
governo de Obama nestas negociações da ONU parece terrivelmente similar” à de
seu sucessor, o ex-presidente George W. Bush, segundo
Orenstein.
Cientistas e ativistas expressam decepção diante da posição de
Washington, pois consideram que os países industrializados precisam reduzir pelo
menos 40% suas emissões de gases de efeito estufa até 2020, em relação aos
níveis de 1990, para que haja uma possibilidade razoável de evitar mudanças
climáticas catastróficas. Entretanto, o governo de Obama ainda fala de uma
redução de zero por cento até 2020. Nas conversações, o Japão apresentou um
objetivo considerado perigosamente baixo de redução nas emissões, de 8% em
relação a 1990. a União Européia, com 27 membros, assumiu como objetivo redução
de 20% até 2020, ou de 30% se outros países industrializados se comprometerem
com esforços similares.
“Enquanto os Estados Unidos tomam como reféns as
negociações climáticas, Japão e UE parecem se sentir presos ao avental de
Washington”, disse um delegado. Delegações de todo o mundo alertaram
reiteradamente os países industrializados que sua negativa em fixar objetivos
adequados impede o avanço em outros aspectos das negociações no contexto da
Convenção. Igualmente alarmante é o fato de os representantes do Norte
industrial reunidos em Bonn não terem chegado a um acordo sobre uma
transferência substancial de recursos financeiros e da tecnologia necessária
para que as nações em desenvolvimento enfrentem a mudança climática.
“Os
países industrializados precisam assumir sua responsabilidade histórica e pagar
sua dívida climática”, disse Raman, que exortou as nações pobres a “exigirem
justiça climática com força”, e acrescentou que, “ao ignorar os chamados para
pagar sua dívida climática e dificultar o progresso nestas negociações os países
ricos colocam em risco as vidas e o sustento de milhões de pessoas. As nações
industrializadas têm com os países em desenvolvimento uma “dívida climática” por
sua excessiva emissão de gases do efeito estufa nos últimos 200 anos e pelos
danos que essa contaminação causou e causará, segundo os ativistas.
Os
países industrializados representam cerca de 30% da população mundial, mas são
responsáveis por três quartos das emissões desses gases. Mas até agora se negam
a pagar sua dívida. Documentos publicados pela não-governamental Rede do
Terceiro Mundo para as conversações de Bonn destaca que não haverá nenhuma
solução climática sustentável se os países ricos tentarem continuar contaminando
pelo menos 70% em relação aos seus valores de 1990 até 2020.
“Para evitar
aprofundar sua dívida, as nações industrializadas devem ser neutras em matéria
de carbono”, disse a Rede do Terceiro Mundo, dedicada a realizar pesquisas sobre
comércio, ambiente e desenvolvimento a partir de sua sede em Penang, na Malásia.
“Refletindo sua responsabilidade histórica, suas quantidades designadas de
espaço atmosférico em qualquer ano futuro deveriam ser ainda menores. Elas devem
assumir a liderança na redução de emissões através de profundas lideranças
internas e aceitando a quantidade destinada que refletem todo o alcance de sua
histórica dívida de emissões”, acrescentou a organização.
O ex-diretor da
Rede do Terceiro Mundo e atual diretor do intergovernamental Centro Sul, Martin
Khor, disse que o critério de responsabilidade histórica deveria servir de guia
para a mudança climática. Em Bonn, Khor chamou a atenção para o preâmbulo da
Convenção Marco, a qual diz que “a maior parte das emissões globais, históricas
e atuais de gases do efeito estufa se originou nos países industrializados”.
Para o especialista, “as emissões por pessoa nas nações em desenvolvimento ainda
são relativamente baixas e a cota de emissões globais originadas nos países em
desenvolvimento aumentará para atender as necessidades sociais e de
desenvolvimento”. IPS/Envolverde
(Envolverde/IPS)