ONU propõe estimular captura natural de carbono

México, 08/06/2009 – Ampliar a capacidade da natureza para absorver e armazenar gás carbono é uma das chaves para deter a mudança climática, seria de baixo custo e melhoraria a vida de milhões de camponeses, afirmou o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente na última sexta-feira, Dia Mundial do Meio Ambiente. É preciso voltar a atenção para essas ações, junto com a redução dos gases causadores do efeito estufa liberados pelas atividades humanas, alertou o Pnuma em um informe divulgado sexta-feira no México, sede principal das celebrações dessa data.

O documento “A solução natural? O papel dos ecossistemas na mitigação da mudança climática” visa definir um “contexto político global” para a gestão do carbono (principal gás estufa) que implique conservar e restabelecer os ecossistemas e administrar pastagens e áreas cultivadas. Salvaguardar e restaurar florestas e turbas e promover uma agricultura sustentável pode reduzir, nas próximas décadas, mais de 50 gigatoneadas de gases que, de outra maneira, chegarão à atmosfera, disse no prefacio do informe o diretor do Pnuma, Achim Steiner. Uma gigatonelada equivale a um bilhão de toneladas. As pastagens e os sistemas costeiros bem manejados também podem contribuir para esse propósito, acrescentou.

Reduzir a concentração atmosférica dos gases que esquentem a atmosfera será uma “tarefa impossível” se também não forem abordadas as perdas de carbono originadas pela destruição de florestas e outros ecossistemas que têm capacidade natural de “absorver ativamente” essas substâncias, diz o informe. Incentivar a captura de carbono traria benefícios que incluem “melhoria da qualidade de vida e dos meios de subsistência, passando pela geração de empregos em áreas como conservação, gestão, vigilância e reabilitação dos sistemas naturais e aceleração do desenvolvimento sustentável”, segundo Steiner.

Até agora existem apenas acordos internacionais parciais sobre a gestão do carbono, e negociar um de grande porte implica atender “importantes assuntos institucionais e de regulamentação, bem como complexos sistemas políticos e sócio-econômicos”, reconhece o informe da agência especializada da ONU. Por exemplo, a adoção de uma perspectiva equilibrada “entre os meios de subsistência rurais e as políticas de gestão do carbono”.

A organização ambientalista Greenpeace disse que a capacidade natural dos ecossistemas em absorver carbono atmosférico não é prioritária nas negociações intergovernamentais que culminarão na conferência da Convenção marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá em Copenhague em dezembro. “Se na definição de prazos para a redução de emissões por parte dos países desenvolvidos não há progresso, na de gestão de carbono menos ainda”, disse à IPS María José Cárdenas, coordenadora da campanha de clima e energia da filial do Greenpeace no México. Na reunião da capital dinamarquesa os governos deverão adotar um novo pacto internacional para controlar a mudança climática, destinado a substituir o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012.

O Protocolo obriga só 37 países industrializados que o ratificaram a reduzir, entre 208 e 2012, suas emissões de gás estufa a volumes 5,2% menores do que os de 1990. Algumas nações comprometidas, como o Canadá, já reconheceram que não poderão cumprir essa meta. Os Estados Unidos, responsáveis por quase um quarto das emissões mundiais desses gases, não é parte do Protocolo de Kyoto por decisão do ex-presidente George W. Bush. O atual mandatário norte-americano, Barack Obama, prometeu sua adesão ao instrumento que for adotado na Dinamarca e expressou a vontade de que seu país assuma compromissos claros para reduzir a contaminação climática. Mas Washington não se referiu à necessidade de novos acordos para promover a absorção de carbono por meios naturais.

O informe do Pnuma recorda eu “a estabilização, ou redução, da quantidade de carbono atmosférico pode ser conseguida de duas formas: diminuindo a taxa de emissão ou aumentando a taxa de absorção” e conclui que “para uma estratégia ter são necessárias as duas”. Os cientistas alertam que a capacidade da natureza para capturar e armazenar carbono se esgota em “ritmo alarmante”, e que continuam aumentando as emissões de gases de origem antropogênica (provocadas por atividades humanas), especialmente as derivadas da queima de petróleo.

Hoje, há mais dióxido de carbono na atmosfera do que em qualquer outro momento dos últimos 650 mil anos. Em 2006, a média de concentração atmosférica desse gás era de 381 partes por milhão (ppm). Quando começou a Revolução Industrial, em meados do século XVIII, era de 286 ppm. O ritmo em que cresce o acúmulo de gases é o maior desde que teve início a medição desse indicador, em 1959, diz o documento do Pnuma. Os estudos do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Mudança Climática (IPCC) indicam que para limitar o aumento da temperatura mundial e evitar os piores efeitos da mudança climática é preciso que as concentrações de gases na atmosfera, que hoje são de 430 ppm, se estabilizem o mais rápido possível entre 445 ppm ou 490 ppm, no mínimo.

Para evitar que a temperatura média continue aumentando, as emissões globais de gases deverão diminuir, até 2050, em até 85% em relação a 2000, e seu ponto máximo não deveria se manifestar após 2015, segundo o IPCC. Mas, devido à recessão mundial, os governos dos países industriais, em lugar de caminharem para um futuro de baixas emissões de carbono e consumo sustentável, parecem apostar no petróleo como matriz energética e regressar ao consumo anterior à crise, disse à IPS a pesquisadora Martha Chávez, da Universidade Autônoma Metropolitana (UMA), do México.

Mas, também soam com renovada força as vozes de algumas autoridades, estudiosos e representantes da sociedade civil que reclamam o fim da destruição do meio ambiente, “o que implica mudar várias das políticas econômicas e de desenvolvimento presentes”, disse Chávez, professora do departamento O Homem e seu Ambiente, da UMA. “O que se conseguir na Dinamarca poderá ser importante, as negociações são difíceis, mas não impossíveis”, acrescentou. A ativista Cárdenas previu, por outro lado, que a reunião de Copenhague será decepcionante. “Fala-se de um renovado interesse em negociar compromissos sobre redução de emissões, mas nos fatos a crise está sendo usada para manter o sistema consumista que gerou os problemas climáticos que sofremos”, ressaltou.

Em sentido contrário, Steiner afirmou que os US$ 3 bilhões em pacotes de incentivos mobilizados para enfrentar os problemas da economia mundial “representam a oportunidade de selar um acordo significativo em matéria climática e, talvez, também acelerar a transição para uma economia verde. Existe muito otimismo de que os governos negociem um bom acordo em Copenhague”.

Yvo de Boer, secretário-executivo da Convenção sobre a Mudança Climática, disse no começo deste meus que as negociações com vistas à reunião na Dinamarca estavam em bom caminho. “É o momento político correto para chegar a um acordo. Não tenho dúvidas de que a conferência climática de Copenhague chegará a um resultado”, disse de Boer. IPS/Envolverde


(Envolverde/IPS)
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