Convivemos com este ciclo e, consequentemente, com o
lixo desde crianças. A nossa familiaridade com o lixo faz com que seja difícil
entendê-lo no contexto da poluição marinha. É fácil perceber. Quando ocorre um
derramamento de petróleo, seja na baia da Guanabara, seja em um arquipélago
remoto no Oceano Pacífico, somos logo bombardeados com informações pela mídia.
Mas, o que acontece quando um amigo seu joga um copinho plástico na praia? Ou
quando um desconhecido descarta a bituca de cigarro, do seu lado, naquela praia
que você frequenta desde garoto. Nada! Isso não é noticiado. E se, como em um
derramamento de petróleo, todos os frequentadores da praia lançam seus resíduos
na areia, criando um verdadeiro “tapete” de plástico? Isso também não é
noticiado. Mas acontece sempre, todos os dias, ao redor do planeta. Muitas
vezes, nós usuários da praia, não percebemos. Ou fingimos não ver.
A
partir desta abordagem inicial fica fácil definir o lixo marinho. Este constitui
todo aquele resíduo sólido (o lixo que nós produzimos) que chega aos ambientes
costeiro e marinho por qualquer fonte. As fontes são usualmente definidas como
fontes baseadas em terra (usuários de praias, rios, sistemas de drenagem de
esgotos, entre outros) e fontes baseadas no mar (navios, barcos de pesca,
plataformas de exploração de petróleo). As consequências diretas da presença de
lixo marinho são a perda da qualidade estética, gastos exorbitantes com limpezas
públicas, diminuição do turismo, danos a embarcações e barcos de pesca,
diminuição dos estoques pesqueiros, ingestão e emaranhamento pela biota marinha,
entre outros. São problemas ambientais e humanos que se cruzam e com certeza não
há beneficiados.
Diversos aspectos relacionados à presença do lixo no
ambiente vem sendo estudados por pesquisadores em todo mundo, inclusive no
Brasil, desde a década de 1970. Este problema vem sendo cada vez mais
documentado, ganhando destaque em revistas científicas internacionais como a
Nature e a Science. Os plásticos, que constituem entre 60-80% do lixo marinho,
são atualmente considerados como um dos cinco principais problemas de poluição
marinha, juntamente com hidrocarbonetos de petróleo, água de lastro,
eutrofização e outros.
Em uma parceria entre o EcoDesenvolvimento.org e a
Associação Praia Local Lixo Global (Global Garbage), diversos especialistas que
vem estudando o tema lixo marinho em diferentes estados brasileiros e com
diferentes enfoques apresentarão em uma coluna mensal suas opiniões e vivencias
relacionadas ao tema. Diferentes aspectos serão abordados, dando ao leitor a
oportunidade de conhecer mais sobre assuntos relevantes relacionados à poluição
por lixo marinho.
Acreditamos fortemente que a disseminação destas
opiniões e conceitos junto à sociedade pode sim interferir positivamente na
mudança de atitude de cada um, somando esforços na busca de soluções para o
problema do lixo marinho. Assim, convidamos todos à leitura, e deixamos aqui um
ensinamento: que nas praias do nosso planeta, os únicos resíduos sejam os
castelos de areia!
Juliana do Sul - Coordenadora Científica Projeto Lixo Marinho – Associação Praia Local Lixo Global - E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo. |