Uxbridge, Canadá, 25/05/2009 – Espécies invasoras de flora e fauna agravam a pobreza e ameaçam a agricultura, o reflorestamento, as reservas pesqueiras e os ecossistemas em seu avanço de um continente a outro, segundo especialistas reunidos em Viena, por ocasião do Dia Mundial da Biodiversidade, comemorado na última sexsta-feira. “O sustento de 90% da população da África depnde diretamente de recursos naturais como a biodiversidade da costa marinha”, disse à IPS ahmed Djoghlaf, secretário-executivo do Convênio sobre a Diversidade Biológica (1992). “Mais de 1,6 bilhão de pessoas de todo o mundo dependem diretamente das florestas para sua sobrevivência”, afirmou desde Montreal.
A palavra biodiversidade não se refere apenas a animais peludos e pássaros bonitos. Refere-se à variedade da vida sobre a Terra, que inclui ecossistemas que, por sua vez, proporcionam à humanidade serviços vitais, entre eles alimentação e limpeza da água e do ar. “A biodiversidade é o bem mais precioso dos países pobres”, enfatizou Djoghalf. As espécies invasoras – plantas e animais introduzidos em áreas alheias ao seu habitat natural – figuram entre os principais responsáveis pela atual crise de extinções.
Um em cada
quatro mamíferos está a abeira da extinção. Das 44.838 espécies catalogadas pela
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), 38% estão
desaparecendo. A cada três horas se extingue uma espécie. Pelo menos 40% de
todas as extinções de animais são consequência da ação de espécies invasoras. O
alcance desta invasão biológica mundial é assombroso. Na Nova Zelândia foram
introduzidas mais de 20 mil variedades vegetais levadas de fora, que competem
pelos recursos com as mais de duas mil espécies nativas.
Muitas das
espécies estrangeiras não podem sobreviver fora de jardins ou cultivos, mas, ao
menos duas mil delas se ‘naturalizaram’: competem com as locais e já causaram
várias extinções documentadas de flora nativa da Nova Zelândia que não existem
fora desse país”, disse Anthony Ricciardi, biólogo especialista em espécies
invasoras da Universidade McGill, de Montreal.
Entretanto, este movimento
maciço reduz a biodiversidade em geral. Quando se introduziu a perca do Nilo
(Lates niloticus) no africano lago Victoria, entre 100 e 150 espécies endêmicas
de peixes foram arrasadas. Há muitas instâncias semelhantes, mas o mais comum é
os invasores não causarem diretamente as extinções. O fazem indiretamente,
competindo por alimentos, espaço e outros recursos, o que, por sua vez, reduz ao
mínimo a quantidade de espécies locais. A seguir, um evento climático, uma
enfermidade ou alguma outra pressão causa repentinamente o desaparecimento das
minguadas espécies autóctones, disse Ricciardi. “Cada espécie invasora provoca
um impacto, mas a maioria fica sem ser documentado. Esse impacto é insidioso e
frequentemente sutil”, acrescentou.
Inadvertidas, algumas delas se
propagam em grandes extensões, adaptam-se às condições do novo lugar e, anos
mais tarde, se convertem em um grande problema, ao ficar evidente a degradação
ou alteração drástica dos ecossistemas para onde se mudaram. “As espécies
invasoras são uma forma de contaminação biológica, mas que pode mudar e
adaptar-se”, disse Ricciardi. As espécies locais são vulneráveis às invasoras
porque não possuem nenhuma experiência evolutiva que lhes permita enfrentá-las.
Há muitos exemplos de grande quantidade de espécies em ilhas devastadas por
cabras, gatos e ratos, simplesmente porque tais espécies nunca viveram ali até
que alguém as introduziu. E essa é a chave: as invasões estão estreitamente
vinculadas ao comportamento humano.
Manter à margem todas as espécies
estrangeiras é impossível. Mas, saber quais são potenciais causadoras de
problemas e avaliar como podem ser mudadas de lugar não é. Essa é a estratégia
de contenção da maioria dos países, onde a todos os que cruzam a fronteira se
pergunta se levam plantas, sementes ou animais. A Austrália, com uma longa
história de invasores como coelhos e sapos gigantes, insiste para os visitantes
entregarem todos os alimentos frescos, bem como animais e plantas. A mudança
climática também facilita o traslado de algumas espécies desde suas áreas
tradicionais para outras que antes eram muito frias.
Embora o salto
inicial do vírus do oeste do Nilo desde a África setentrional para a cidade de
Nova York em 1999 não estivesse relacionado com o clima, sua contínua
sobrevivência e propagação para o norte, até o Canadá central, foi alentada com
o aumento da temperatura de inverto. Esse vírus reduziu as populações de várias
espécies de aves e matou dezenas de pessoas. As espécies invasoras afetam todos
os aspectos da sociedade, como a perda da biodiversidade, disse Ricciardi.
“Simplesmente, não conhecemos todos os impactos da perda de espécies”,
acrescentou.
Estão em andamento importantes estudos que buscam determinar precisamente isso, afirmou Djoghlaf. “Em 2010, esperamos divulgar um estudo semelhante ao Stern sobre o valor econômico da perda de espécies”, disse, em referência ao Informe Stern sobre a Economia da Mudança Climática, apresentado em 2006. “A biodiversidade precisa ser vista e compreendida não apenas como um ‘assunto verde’, mas como um importante bem econômico que precisa de proteção”, destacou Djoghlaf. IPS/Envolverde
(IPS/Envolverde)