Amazônia exige fim da lógica da exploração

A geógrafa Bertha Becker defende mudanças na região, marcada pela exportação das riquezas sem deixar benefícios locais, e critica o "caótico" quadro institucional do governo brasileiro que aponta como repressor do desenvolvimento.

Com 35 anos de estudos dedicados a Amazônia e agora com o “amazônico” desafio de fazer o macrozoneamento da região, a geógrafa de 78 anos, Bertha Becker, não perde o humor para descrever o que a espera: “Se alguém tiver uma sugestão, por favor me avise”,  pedido que foi feito na Conferência de Abertura do XIII Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano Regional – ANPUR.


“Fazer o planejamento da Amazônia inteira não dá. É preciso planejar de acordo com questões menores, entrar pelo território, conhecer a história, as capacidades e o nível de organização das populações”, explica Bertha, que é pós-doutora pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e atualmente atua professora Emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Bertha ressalta que a história da Amazônia é muito diferente da brasileira, estando mais associada ao Caribe, uma vez que dominam ali a lógica das expedições e piratarias. Em um ciclo de falta de integração por causa da ausência do desenvolvimento que não ocorre em função da não integração, a história da região é a das bolhas: da exploração da borracha, das drogas e atualmente da madeira e energia.

 “Todos os recursos são mandados para fora sem agregação de valor, por isso bolhas, porque não sobra nada para a região e isso é histórico, por isso eu falei da pirataria. Hoje em dia tira a madeira e coloca o pasto, tira a energia das hidrelétricas e manda para o Sudeste. No passado era a borracha e a droga que tiravam e mandavam para a Europa. Sempre foi assim, então tem que mudar isso”, alerta.

Outro ponto que dificulta o desenvolvimento da região apontado por Bertha é a trajetória histórica de construção de instituições na qual o Brasil está preso. A geógrafa adverte que é preciso ter regras justas no quadro institucional e trocar as muitas incertezas por certezas para as populações. “Não dá para ter o Minc brigando com o Stephanes na televisão. O quadro institucional é um caos e é um quadro que reprime o desenvolvimento, em uma trajetória de dependência”.

Para enfrentar o desafio de planejar o desenvolvimento da Amazônia, Bertha afirma que irá apostar no principio da precaução para lidar tanto com as falhas institucionais quanto com ao pedido de pensar a região como um todo.  Segundo Bertha, a ciência não consegue hoje acompanhar as transformações impostas pela velocidade do “online” e, quando não se consegue prever nem medir, é preciso usar o princípio da precaução.

“Ele busca certeza no meio da incerteza e deve ser usado quando é preciso agir sem esperar pela certeza científica. Quanto vale as florestas em pé, por exemplo? Ou como medir o aquecimento global?”, cita.  Neste caso, é preciso recorrer a outros conhecimentos que não os científicos e Bertha destaca a importância de ouvir a sociedade e, principalmente, as comunidades tradicionais.

Contudo ele ressalta: nada de audiências públicas, o ideal é formar pequenos grupos de pessoas que conhecem profundamente a realidade local sem serem cientistas, como a população das florestas, agricultores, etc. “Nas Audiências públicas há muita manipulação e, muitas vezes, as pessoas não entendem.”


(Envolverde/CarbonoBrasil)
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