O tema agricultura frequentou a imprensa no final de semana e volta na segunda-feira (11/5) em reportagem da Folha de S.Paulo. O agronegócio já é responsável por mais de 44% da pauta de exportações brasileira, informa neste início de semana a Gazeta Mercantil, mas a grande história do campo ainda não sensibilizou a imprensa como deveria.
Trata-se da ameaça das sementes transgênicas.
A Folha de S.Paulo escolheu o assunto para manchete no
domingo (10), noticiando que o Brasil não tem controle sobre a expansão do milho
transgênico. Ainda no domingo, o Estado de S.Paulo afirmava que o agronegócio
brasileiro se recupera e pode ter um desempenho equivalente ao de 2008, por
causa da alta recente dos preços internacionais dos produtos
agrícolas.
Na segunda (11), a Folha volta ao assunto, anotando que o
Instituto de Defesa do Consumidor e outras entidades de direitos civis estão
cobrando do governo medidas imediatas de garantia para as informações sobre a
presença de organismos geneticamente modificados em alimentos ou ingredientes
alimentares.
O fato é que ninguém ainda fez a conexão entre o crescimento
das exportações brasileiras de alimentos e a incapacidade do setor de assegurar
as características de seus produtos.
Partícipe do
crime
No Brasil e em outros países do mundo, as indústrias de
alimentos são obrigadas a colocar nas embalagens de seus produtos o símbolo que
identifica a presença de organismos geneticamente modificados. Isso por causa
dos riscos que podem representar para a saúde das pessoas. Mas a expansão
indiscriminada de sementes transgênicas, principalmente de soja e milho, já
impossibilita esse controle.
A imprensa ainda não viu esse problema como
o risco que representa para a economia brasileira.
Há pouco mais de dez
anos, quando os movimentos ambientalistas começaram a questionar a manipulação
genética de sementes, a imprensa, em sua maior parte, tomou a defesa da
indústria química. De nada adiantaram os avisos de cientistas, dizendo que seria
impossível impedir a contaminação das lavouras tradicionais e a constatação de
que apenas duas ou três grandes multinacionais sairiam ganhando com a produção
de transgênicos.
Agora que os alertas dos ambientalistas se tornam uma
realidade concreta e assustadora, os jornais fingem que o problema é a falta de
fiscalização do governo. Neste caso, a imprensa é mais do que cúmplice. É
coautora do crime.
* Comentário para o programa radiofônico do OI,
11/5/2009
(Envolverde/Observatório da Imprensa)