Colapso ou Sobrevivência

Muitas culturas e civilizações foram incapazes de relacionar-se, de modo duradouro, com a base física na qual viviam, vindo a extinguir-se. A incapacidade de sustentar-se no ambiente gera o empobrecimento da base de riqueza natural, que resulta em empobrecimento econômico e acirramento de conflitos políticos e sociais. Esses processos desagregadores provocam a decadência e o colapso daquela comunidade. O encadeamento de problemas que leva ao colapso começa com a sobrecarga no ambiente, o esgotamento de recursos e da capacidade de suporte, mudanças climáticas, tensão social, empobrecimento econômico, conflitos políticos e finalmente o colapso da civilização.

Para dar respostas adequadas a esses riscos, é necessário perceber o problema, conhecer o tamanho da encrenca em que se está envolvido, ter vontade política para resolver, mobilizar os meios para resolver e agir com lucidez e visão de longo prazo.

O tema foi magistralmente estudado por Jared Diamond, em Colapso. Ali, ele discute a insustentabilidade de civilizações e culturas pelo descuido ecológico. “Fatores ecológicos, mais freqüentemente que guerras ou política, determinam o sucesso e o fracasso dos povos”.

Para ele, os impérios e, atualmente, os Estados Unidos são como a Roma antiga às vésperas do colapso: capaz de perceber os sinais de alerta, mas incapaz de fazer os sacrifícios (como reduzir o padrão material de consumo) para reverter esse quadro. “O colapso de sociedades envolve componente ambiental e, em alguns casos, mudança de clima, vizinhos hostis, parceiros comerciais e questionamento sobre a resposta da população".

Diamond estuda casos de ilhas com limitada capacidade de suporte: a Hispaniola, onde o Haiti e República Dominicana gerenciam de forma distinta as duas partes do território; a ilha de Páscoa, que devastou suas florestas o que tornou a vida ali insustentável; o Japão, um arquipélago que aprendeu a restaurar as florestas de suas montanhas e a reduzir o assoreamento nos vales férteis. A ilha de Tikopia no Pacífico Sul, com 4,7km2 e densidade de 309 habitantes/km2, habitada há quase três mil anos. Nela, uma das estratégias para garantir a capacidade de sustentação do ambiente foi a mudança de hábitos alimentares, eliminando todos os porcos, que “atacavam e estragavam as plantações, competiam com os humanos por comida, eram um meio ineficaz de alimentar seres humanos (são necessários nove quilos de vegetais comestíveis para produzir apenas um quilo de porco) e acabaram se tornando uma comida de luxo para os chefes”.

Ilhas habitadas precisam gerenciar cuidadosamente seu abastecimento de energia, água, alimentos, materiais de construção, informações.

Se elas estão conectadas ao continente ou dispõem de sofisticada rede de transportes e comunicações, que as liguem ao mundo exterior, os problemas são amenizados, como é o caso, no Brasil, das cidades de Vitória ou Florianópolis. Caso sejam isoladas, essas questões de abastecimento tornam-se complexas. Em Fernando de Noronha, por exemplo, a capacidade de suporte é limitada: prover água potável para o abastecimento humano é uma questão vital, e tecnologias como a dessalinização de água do mar complementam a produção de água doce; o lixo produzido precisa ser remetido em navios para ser disposto no continente; toda nova construção ou novo habitante representa um desafio logístico a ser enfrentado. O número máximo de turistas e visitantes precisa ser respeitado para não romper o limite dessa capacidade de suporte ambiental.

A limitada capacidade de suporte se reproduz hoje na escala planetária, pois a Terra é uma “ilha” habitada no sistema solar. Sua densidade demográfica aumenta aceleradamente, da mesma forma que cresce a demanda por alimentos, água, energia, materiais. Decisões sobre como limitar o crescimento demográfico, como tornar mais eficiente a dieta alimentar e o consumo de energia, como gerenciar as águas e os solos, serão necessárias nessa passagem para a era ecozóica da evolução, na qual tudo precisa ser ecologizado.

Diamond aponta a existência de doze problemas simultâneos e alerta que “Se nos concentrarmos em apenas um e esquecermos os outros onze ou vice-versa, estaremos perdidos da mesma maneira”. São eles:

• Destruição de habitats naturais (florestas, pântanos, recifes de coral).
• Redução das fontes de alimento selvagem (peixes, por exemplo, que respondem por 40% da proteína consumida no mundo).
• Perda da biodiversidade.
• Erosão e salinização dos solos.
• Dependência dos combustíveis fósseis.
• Esgotamento dos recursos hídricos.
• O fato de a maior parte da energia solar ser usada para propósitos humanos (plantações).
• Despejo de produtos químicos (agrotóxicos, hormônios, componentes de plásticos, rejeitos de mineradoras, poluição do ar).
• Transferência de espécies exóticas para novos habitats.
• Acúmulo dos gases do efeito estufa.
• Aumento da população.
• Seu impacto sobre os recursos naturais.

O estilo de vida das elites ricas dos países do sul e também o das sociedades do “primeiro mundo”, industrializado, torna inviável, em médio prazo, a sobrevivência do modelo político e econômico global. Padrões de consumo insustentáveis já levaram ao colapso de civilizações e sociedades, e padrões de consumo sustentáveis caracterizam aquelas que perduraram por milênios, como algumas civilizações asiáticas e sociedades indígenas.

A sobrevivência pode ser viável em escalas de tempo curtas e caso se desenvolva maior responsabilidade ecológica nas ações da espécie humana. Modelos baseados na expansão da demanda de recursos naturais têm menores possibilidades de serem sustentáveis em longo prazo que os modelos não expansionistas, os quais usam os recursos ambientais com parcimônia, evitando seu desperdício e mau aproveitamento.

A sobrevivência datada e limitada no tempo – mais algumas dezenas, centenas ou milhares de anos – dependerá da perícia de transformar a vontade de agir corretamente em ações concretas, caso o impulso pela vida prevaleça sobre o impulso suicida da espécie ou de seus indivíduos.

Há civilizações muito antigas, que evoluíram com alto respeito e veneração pela natureza, como a indiana, por exemplo, que foi sustentável ao aplicar os princípios da ahimsa ou não violência tanto ao mundo humano como à relação com os animais e as plantas. Desse tipo de civilizações, que apresentam uma baixa pegada ecológica, podemos extrair ensinamentos para uma evolução ecologizada.

* Autor de Ecologizar, de Tesouros da India e de Ecologizando a Cidade e o planeta. www.ecologizar.com.br / Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

1 DIAMOND, Jared. Colapso. p. 356  

Fonte: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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