Nem o presidente da
comissão, Roberto Rocha (PSDB-MA), escapa da relação com o agronegócio.
Beneficiado por R$ 40 mil da Ceagro Agro Negócios LTDA na última eleição que o
trouxe à Camara, Rocha afirma que não é ruralista e não vê problema em presidir
uma comissão ambiental com uma presença forte de agropecuaristas. Garante,
ainda, que a comissão não está divida em ambientalistas e ruralistas, mas unida
no único propósito de defender o interesse público.
O deputado Leonardo
Monteiro (PT-MG) tem em seu currículo a experiência da presidência do Sindicato
dos Trabalhadores da Indústria de Papel e Celulose. Nas últimas eleições,
recebeu R$ 30 mil da Celulose Nipo Brasileira.
Entre os membros da
comissão, o deputado Jorge Khoury (DEM-BA) foi quem mais recebeu doações de
empresas ligadas a produção de celulose e material da agroindústria, R$ 624
mil.
Na atual formação da comissão, tem lugar, inclusive, para o
ex-presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária e Abastecimento da Câmara
Marcos Montes (DEM/MG). O democrata recebeu mais de R$ 100 mil de empresas
agropecuárias.
Já o deputado Jurandy Loureiro (PSC-ES) foi financiado com
R$ 65 mil da Aracruz Celulose. A empresa teve ações embargadas pelo Instituto
Brasileiro dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por desmatar áreas do
córrego Jacutinga, no estado que o deputado representa.
O uso da política
como instrumento de defesa de alguns setores produtivos em comissões e
secretarias de meio ambiente não é exclusividade do Congresso Nacional. É o que
garante a ONG Amigos da Terra.
– O sistema permite esse compromisso
velado dos supostos representantes com os setores produtivos – afirma a
coordenadora da ONG, Lúcia Ortiz. – É por isso que tantos projetos importantes
para o meio ambiente ficam emperrados. Representantes do agronegócio orquestram
dentro dos espaços que definem as políticas públicas para favorecerem os seus
negócios.
Segundo Lúcia, o Rio Grande do Sul é um exemplo claro dessa
prática, uma vez que o atual secretário municipal de Meio Ambiente do estado,
Berfran Rosado (PPS), foi patrocinado por empresas de celulose e, quando era
deputado estadual, lançou uma frente parlamentar pró-eucalipto.
– Os
técnicos da secretaria apresentam projetos sobre os impactos ambientais e têm o
seu trabalho desqualificado – denuncia a coordenadora – E os licenciamentos
continuam facilitados.
A ambientalista tem uma preocupação especial com o
bioma Pampa que sofre uma expansão acelerada de plantação de eucalipto para a
exportação de celulose. O Pampa é o segundo bioma brasileiro mais devastado. Já
perdeu quase a metade da cobertura original de sua área de 178 mil quilômetros
quadrados.
Lúcia afirma ainda que as constantes acusações de políticos de
que boa parte das ONGs querem impedir o progresso da indústria de celulose no
Brasil em nome dos interesses internacionais não procedem, uma vez que 90% da
produção dessas empresas é exportada.
O pesquisador do Instituto do Homem
e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto, acredita que a presença de
representantes do agronegócio na Comissão de Meio Ambiente seria positiva se
fosse reconhecido o desafio de preservar o meio ambiente preservando a
legislação ambiental, ao contrário das tentativas do Parlamento de derrubar o
Código Florestal.
Em nota, a Aracruz Celulose, uma das principais
doadoras dos membros da comissão (confira quadro), afirmou que “não exerce
atividades político-partidárias, mas apoia partidos e/ou candidatos cujas ideias
e propostas sejam consistentes com seus princípios de negócios”. E que faz
doações para fins de financiamento de campanha político-eleitorais sempre
observando os limites previstos em lei. Quanto ao embargo no Espírito Santo, a
Aracruz afirma que encaminhou ao Ibama um pedido de desembargo da área, mas não
teve manifestação do órgão.
Recentemente, a empresa entrou na lista negra
do Bank Track, instituição que monitora a atuação de empresas e seus impactos
sobre o meio ambiente. Na lista de acusações, está o desmatamento de florestas,
danos ao solo, água e biodiversidade nas regiões onde
atua.
(Envolverde/Amazônia.org.br)