Pegada hídrica promete ser próxima onda verde

Depois da pegada de carbono e com as crescentes preocupações com a escassez dos recursos naturais, selos que informam quanto de água foi consumido na produção de mercadorias devem ser a próxima tendência nos negócios.

A utilização de selos em produtos informando quanto foi emitido de dióxido de carbono (CO2) na sua produção – conhecida como pegada de carbono – já é adotada por diversos fabricantes europeus, como a rede de supermercados britânica Tesco. Agora surgem os selos com dados sobre o consumo de água, ou simplesmente a pegada hídrica. E a primeira empresa a imprimi-los nas embalagens é uma indústria de cereais da Finlândia, chamada Raisio.

Desde a última semana, o cereal Elovena, feito com aveia, ganhou um selo que indica quanto de água foi utilizada na cadeia de produção - do crescimento dos grãos no campo a produção e descarte. Para fabricar 100 gramas do produto foram necessários 101 litros, a maior parte para o cultivo da aveia.

Devido às condições climáticas da Finlândia, onde é alto o volume de chuvas, a empresa afirma que não é necessária a utilização de irrigação e a água é utilizada como parte do seu ciclo natural. Além disso, segundo a Raisio, não há descarte de água, uma vez que os flocos de aveia são feitos por vaporização.

Como base de comparação, uma xícara de café precisa de 140 litros de água, enquanto que um quilo de carne utiliza inacreditáveis 16 mil litros de água para chegar na geladeira dos açougues.

A Raisio afirma ser a “primeira do mundo a adicionar etiquetas H2O nas embalagens de produtos”. Para chegar ao consumo, a empresa desenvolveu um modelo próprio para fazer os cálculos, o qual utilizou dados sobre a evaporação da água do Instituto Meteorológico da Finlândia.

Padrões de cálculo

Apesar de ser considerada louvável a atitude da empresa finlandesa, grupos de pesquisadores que trabalham no desenvolvimento de uma metodologia para a pegada hídrica alertam que ainda é necessário melhorias para garantir que o consumidor possa comparar as informações de produto para produto, uma vez que não existe uma ferramenta de cálculo internacional.

“Apesar de ser excelente ver esta empresa agindo de forma proativa em busca de transparência e de mostrar suas preocupações com a água, nós precisamos garantir que existam padrões consistentes internacionalmente”, afirmou ao blog Green Inc. a porta-voz da The Nature Conservancy, Cristina Mestre.

Ela destaca ainda que exibir a pegada hídrica não basta, uma vez que ela não mede a sustentabilidade do processo de captura da água.

Uma rede de empresas, ongs, governos e as Nações Unidas, chamada Water Footprint Network (Rede Pegada da Água), foi criada justamente com o intuito de criar tal ferramenta.

Uma pesquisa feita pela rede sobre o fluxo de água virtual (aquela utilizada para a produção de bens e alimentos) entre os anos de 1997 e 2001 mostra que os maiores exportadores de água em produtos agrícolas e industriais são Estados Unidos, Canadá, França, Austrália, China, Alemanha e Brasil. Já entre os maiores importadores estão novamente os Estados Unidos e a Alemanha, mas também Japão, Itália, França e Holanda.

Segundo a publicação “Globalization of water: Sharing the planet"s freshwater resources”, a pegada hídrica média anual per capita é 1243 metros cúbicos (m3), a de um brasileiro, 1381 m3 e a de um norte-americano, 2483 m3.

No site da Rede, criado pela Universidade de Twente, da Holanda, é possível conferir a pegada hídrica de diferentes produtos, incluindo alimentos, roupas e bens eletrônicos. Ele inclui tanto a água utilizada no processo de fabricação quanto no transporte dos produtos.

As empresas interessadas em mapear o uso de água e medir os riscos relativos às operações globais e à cadeia de suprimentos podem utilizar a ferramenta Global Water Tool, criada pelo Conselho Mundial de Negócios para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD).


(Envolverde/CarbonoBrasil)
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