Há quase dez anos, criou na Argentina o EcoPibes, um espaço virtual com 750 páginas de conteúdos para crianças de fala hispânica, que recebe cerca de 80 mil visitas mensais de aproximadamente 30 países. A Câmara Juvenil Internacional concedeu, em 2004, um reconhecimento como “jovem de destaque” por “sua liderança ambiental”. Em 2005, o EcoPibes foi destacado pelo Banco Mundial e por outras instituições pelo sucesso alcançado na aplicação de tecnologias da informação.
Iglesias trabalha em um pequeno apartamento em Buenos Aires, onde vive com seus dois filhos pequenos, em meio a livros e computadores. “Eles não são apenas os mais vulneráveis aos danos ambientais, mas são os que amanhã tomarão as decisões que afetarão o planeta”, afirmou. Iglesias esteve em Nairóbi, no Quênia, no Fórum Mundial da Sociedade Civil do Pnuma, que aconteceu nos dias 14 e 15 deste mês, como preparação para a 25ª sessão do Conselho de Administração do Pnuma - Fórum Mundial de Ministros do Meio Ambiente, realizada entre os dias 16 e 20.
A sociedade civil apresentou sua preocupação com o impacto da atual crise econômica no meio ambiente e com uma eventual redução da ajuda ao desenvolvimento. Porém, muitos viram uma oportunidade nesta conjuntura. Por sua vez, os ministros debateram como abordar os principais desafios ambientais em plena depressão global. Contudo, o fizeram “a portas fechadas”, disse Iglesias. Em Buenos Aires, primeiro, e depois de Nairóbi, Iglesias conversou com o Terramérica.
TERRAMÉRICA: Qual o objetivo da participação latino-americana?
CECÍLIA IGLESIAS: Influir na tomada de decisões na administração do Pnuma e seu plano de trabalho para os próximos anos nas áreas prioritárias, bem como no Fórum de Ministros.
TERRAMÉRICA: Quais são essas áreas prioritárias?
CI: Mudança climática, desastres e conflitos, manejo de ecossistemas, governabilidade ambiental, substâncias nocivas e resíduos tóxicos, eficiência de recursos, produção e consumo sustentável.
TERRAMÉRICA: E quem participou do Fórum da Sociedade Civil?
CI: Representantes regionais, academias, jovens, organizações não-governamentais, empresários, governos locais, trabalhadores, indígenas e mulheres. A representação de povos indígenas e de organizações camponesas foi muito pequena.
TERRAMÉRICA: Quais as preocupações latino-americanas?
CI: Houve muitas discussões sobre mudança climática. Há algum tempo se vem trabalhando sobre como se preparam governos e o Pnuma para financiar e levar adiante a adaptação a esse fenômeno. Cada organização tem suas prioridades, que buscam chegar a um consenso que manifeste a inquietação. Porém, as discussões dos governos neste caso foram a portas fechadas. É uma pena que as reclamações da sociedade civil não foram ouvidas. Espero que essa bolha governamental tenha servido para que falassem sem papas na língua. Mas as primeiras notícias que nos chegam de delegados de nossa região indicam que ficou muito para ser decidido.
TERRAMÉRICA: Surgiu a preocupação com a Iniciativa para a Integração Regional da América do Sul.
CI: Sim, isso está muito forte. Trata-se de uma série de projetos e obras de infra-estrutura regional que teriam um grande impacto ambiental. Este ano, a sociedade civil manifestou que está muito preocupada com essa iniciativa. O problema está em conseguir que os ministros também tenham essa preocupação.
TERRAMÉRICA: E quais as possibilidades de terem êxito?
CI: Bem, por isso também apresentamos o tema da governabilidade. Foi discutida a necessidade de se criar instituições fortes, nacionais e globais, que possam levar adiante esta agenda que responda aos desafios que teremos pela frente.
TERRAMÉRICA: Houve preocupação com o impacto da crise financeira global?
CI: Sim. Desde novembro, no fórum latino-americano realizado em Buenos Aires, todos já expressavam sua apreensão com a maneira como isto afetaria a ajuda ao desenvolvimento. Houve, inclusive, um diálogo especifico sobre a crise, mas ainda não temos respostas claras. Contudo, a mensagem final foi otimista. Muitos afirmam que a crise é uma oportunidade para a expansão dos princípios de uma economia verde. É mais esperançoso apresentar alternativas quando há uma percepção generalizada de que algo não saiu bem. Hoje é clara a necessidade de um plano B.
TERRAMÉRICA: Quais são as alternativas para os jovens?
CI: Nesse aspecto conseguimos algo muito importante, que é a aprovação da estratégia do Pnuma para os próximos seis anos. Nossa aspiração é incorporar jovens às delegações dos governos em negociações internacionais, especialmente sobre mudança climática. O êxito poderia ter sido ainda maior, mas temos muito para nos orgulhar. Nossa região iniciou o debate, os jovens representantes do resto do mundo nos apoiaram e a Argentina tornou possível que ali se expressassem. Foi o único momento em que o Fórum de ministros foi aplaudido por seu apoio. Estou muito satisfeita por isso. Além do mais, da América Latina apresentamos a necessidade de assegurar a participação plena de crianças e jovens de diferentes grupos, mas especialmente de indígenas, camponeses e deficientes, nas diversas atividades da Estratégia de Tunza.
* A autora é correspondente da IPS.]
Foto: Cecília Iglesias, em Nairóbi