Salamandra em retirada

San Diego, Estados Unidos, 16 de fevereiro (Terramérica) - As salamandras da Mesoamérica também parecem vítimas da declinação mundial de espécies anfíbias, somando evidências da mudança climática. "O que acontece com as salamandras e outros anfíbios pode ser uma importante lição para os humanos", disse o pesquisador David Wake, da Universidade da Califórnia em Berkeley. Há mudanças globais que estão alterando ecossistemas e padrões de enfermidades, criando, assim, novos elementos de pressão biológica, acrescentou.

Wake e seus colegas descobriram que várias espécies de salamandra desapareceram ou se tornaram muito raras desde a década de 70 em áreas muito estudadas do ocidente da Guatemala e do Estado mexicano de Chiapas. Essas descobertas foram publicadas na semana passada na revista cientifica Proceedings of the National Academy of Sciences. É possível que a mudança climática e as doenças tenham causado esta baixa, mas os cientistas não sabem o motivo, disse ao Terramérica Wake, um dos especialistas mundiais em salamandras. "Ignoramos quais são os impactos sobre os ecossistemas locais, mas podem ser significativos", ressaltou.

Duas das espécies mais comuns de salamandras sem pulmões (família Plethodontidae), estudadas nos anos 70 por Wake e outros no departamento guatemalteco de San Marcos, a Pseudoeurycea brunnata e a Pseudoeurycea goebeli, já não são encontradas. "Simplesmente, acabaram", resumiu Sean Rovito, herpetólogo da Universidade da Califórnia em Berkeley que, entre 2005 e 2007, fez a pesquisa de campo com especialistas locais. Parece que se extinguiram pouco depois de 1978, disse. "Os guatemaltecos do lugar, que ajudaram a fazer os estudos nos anos 70, nos levaram aos mesmos locais, aos mesmos restos de árvores, e simplesmente não estavam ali", disse Rovito ao Terramérica.

Os pesquisadores rastrearam os flancos do vulcão Tajumulco, na costa oeste da Guatemala, e puderam encontrar sinais de duas das três espécies mais comuns há 40 anos, enquanto foi impossível encontrar até mesmo rastros da terceira. Esta foi uma revelação completamente inesperada. "Pesávamos que as salamandras estavam bem", disse Rovito. Além disso, outras espécies apresentam muitos menos exemplares do que no passado.

No México, a redução foi mais evidente no cerro San Felipe, uma reserva no Estado de Oaxaca, entre as espécies que viviam a 2.800/3.000 metros ao redor. A mais comum, Pseudoeurycea smithi, praticamente desapareceu. Onde antes se podia encontrar centenas em uma única manhã, os pesquisadores encontraram apenas um ou duas nos últimos dez anos. O problema se estende até a cidade do México. Ao norte da capital, no Parque Nacional El Chico, ex-paraíso das salamandras, as populações diminuíram radicalmente. Wake observou que as espécies que dependem das salamandras, como a serpente que se alimenta delas, também diminuíram de modo significativo.

Em algumas regiões, o hábitat foi muito alterado nos últimos 30 anos pelo desmatamento ou pela expansão agrícola. Como a redução de exemplares foi tão ampla, mesmo em áreas protegidas como o guatemalteco vulcão Chicabal, os cientistas suspeitam que a mortandade de anfíbios se deve ao fungo Chytrid, à mudança climática ou a uma combinação de ambos. Desde a década de 80, culpa-se o Chytrid pelas abruptas reduções da população anfíbia na América. Trata-se de um fungo que mata rapidamente e que se expande em ondas.

Mas as alterações climáticas também afetam os anfíbios, que não podem adaptar-se ou trasladar-se rapidamente para áreas mais adequadas. A maioria das salamandras afetadas vive em elevações médias ou altas, o que sugere que o clima mais quente as empurra para essas áreas mais frescas, que também são mais inóspitas. Se a estação da seca dura mais que o normal nas florestas nubladas, é suficiente para que esses animais sejam mais suscetíveis ao fungo, especulou Rovito.

As salamandras passam despercebidas, menos para as crianças curiosas. E ainda assim há, na maioria das florestas, um tapete oculto de salamandras que constituem a maior parte da biomassa, mais que os pássaros e os mamíferos juntos, disse Wake. "Não se pode eliminá-las sem causar um profundo efeito no ecossistema", disse o cientista, que fez pesquisas, entre 1969 e 1978, sobre o principal hábitat da salamandra no México e na Guatemala. Wake recordou que nos anos 70 encontrou muitos milhares delas por hectare em San Marcos e outros lugares. O agravamento da guerra civil guatemalteca (1960-1996) o obrigou a por fim às suas observações.

O cientista guatemalteco Carlos R. Vasquez Almazán, do Museu de História Natural da Universidade de San Carlos, convidou Wake e seus colegas para voltarem aos locais que haviam estudado. Gabriela Parra Olea, do Instituto de Biologia da Universidade Nacional Autônoma do México, liderou a equipe que voltou a estudar os sítios mexicanos. As salamandras pulmões respiram através de sua pele, como as rãs, e podem ser encontradas desde o Canadá até a América do Sul. Embora não tão estudadas nos trópicos, "são enormemente importantes nos ecossistemas florestais", disse Wake.

Por exemplo, comem muitos insetos. Em áreas onde as rãs – outras grandes comedoras de insetos – desapareceram, os riachos acabaram cobertos de algas, segundo mostram outros estudos, acrescentou. As salamandras constituem um grupo de espécies de grande diversidade, que existiu durante 150 milhões de anos. "E aqui parece que estão se extinguindo apenas no curso da minha vida", afirmou Wake. "Sem dúvida há algo que vai muito mal", concluiu.

* O autor é correspondente da IPS.

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