Wake e seus colegas descobriram que várias espécies de salamandra desapareceram ou se tornaram muito raras desde a década de 70 em áreas muito estudadas do ocidente da Guatemala e do Estado mexicano de Chiapas. Essas descobertas foram publicadas na semana passada na revista cientifica Proceedings of the National Academy of Sciences. É possível que a mudança climática e as doenças tenham causado esta baixa, mas os cientistas não sabem o motivo, disse ao Terramérica Wake, um dos especialistas mundiais em salamandras. "Ignoramos quais são os impactos sobre os ecossistemas locais, mas podem ser significativos", ressaltou.
Duas das
espécies mais comuns de salamandras sem pulmões (família Plethodontidae),
estudadas nos anos 70 por Wake e outros no departamento guatemalteco de San
Marcos, a Pseudoeurycea brunnata e a Pseudoeurycea goebeli, já não são
encontradas. "Simplesmente, acabaram", resumiu Sean Rovito, herpetólogo da
Universidade da Califórnia em Berkeley que, entre 2005 e 2007, fez a pesquisa de
campo com especialistas locais. Parece que se extinguiram pouco depois de 1978,
disse. "Os guatemaltecos do lugar, que ajudaram a fazer os estudos nos anos 70,
nos levaram aos mesmos locais, aos mesmos restos de árvores, e simplesmente não
estavam ali", disse Rovito ao Terramérica.
Os pesquisadores rastrearam os
flancos do vulcão Tajumulco, na costa oeste da Guatemala, e puderam encontrar
sinais de duas das três espécies mais comuns há 40 anos, enquanto foi impossível
encontrar até mesmo rastros da terceira. Esta foi uma revelação completamente
inesperada. "Pesávamos que as salamandras estavam bem", disse Rovito. Além
disso, outras espécies apresentam muitos menos exemplares do que no
passado.
No México, a redução foi mais evidente no cerro San Felipe, uma
reserva no Estado de Oaxaca, entre as espécies que viviam a 2.800/3.000 metros
ao redor. A mais comum, Pseudoeurycea smithi, praticamente desapareceu. Onde
antes se podia encontrar centenas em uma única manhã, os pesquisadores
encontraram apenas um ou duas nos últimos dez anos. O problema se estende até a
cidade do México. Ao norte da capital, no Parque Nacional El Chico, ex-paraíso
das salamandras, as populações diminuíram radicalmente. Wake observou que as
espécies que dependem das salamandras, como a serpente que se alimenta delas,
também diminuíram de modo significativo.
Em algumas regiões, o hábitat
foi muito alterado nos últimos 30 anos pelo desmatamento ou pela expansão
agrícola. Como a redução de exemplares foi tão ampla, mesmo em áreas protegidas
como o guatemalteco vulcão Chicabal, os cientistas suspeitam que a mortandade de
anfíbios se deve ao fungo Chytrid, à mudança climática ou a uma combinação de
ambos. Desde a década de 80, culpa-se o Chytrid pelas abruptas reduções da
população anfíbia na América. Trata-se de um fungo que mata rapidamente e que se
expande em ondas.
Mas as alterações climáticas também afetam os anfíbios,
que não podem adaptar-se ou trasladar-se rapidamente para áreas mais adequadas.
A maioria das salamandras afetadas vive em elevações médias ou altas, o que
sugere que o clima mais quente as empurra para essas áreas mais frescas, que
também são mais inóspitas. Se a estação da seca dura mais que o normal nas
florestas nubladas, é suficiente para que esses animais sejam mais suscetíveis
ao fungo, especulou Rovito.
As salamandras passam despercebidas, menos
para as crianças curiosas. E ainda assim há, na maioria das florestas, um tapete
oculto de salamandras que constituem a maior parte da biomassa, mais que os
pássaros e os mamíferos juntos, disse Wake. "Não se pode eliminá-las sem causar
um profundo efeito no ecossistema", disse o cientista, que fez pesquisas, entre
1969 e 1978, sobre o principal hábitat da salamandra no México e na Guatemala.
Wake recordou que nos anos 70 encontrou muitos milhares delas por hectare em San
Marcos e outros lugares. O agravamento da guerra civil guatemalteca (1960-1996)
o obrigou a por fim às suas observações.
O cientista guatemalteco Carlos
R. Vasquez Almazán, do Museu de História Natural da Universidade de San Carlos,
convidou Wake e seus colegas para voltarem aos locais que haviam estudado.
Gabriela Parra Olea, do Instituto de Biologia da Universidade Nacional Autônoma
do México, liderou a equipe que voltou a estudar os sítios mexicanos. As
salamandras pulmões respiram através de sua pele, como as rãs, e podem ser
encontradas desde o Canadá até a América do Sul. Embora não tão estudadas nos
trópicos, "são enormemente importantes nos ecossistemas florestais", disse
Wake.
Por exemplo, comem muitos insetos. Em áreas onde as rãs – outras
grandes comedoras de insetos – desapareceram, os riachos acabaram cobertos de
algas, segundo mostram outros estudos, acrescentou. As salamandras constituem um
grupo de espécies de grande diversidade, que existiu durante 150 milhões de
anos. "E aqui parece que estão se extinguindo apenas no curso da minha vida",
afirmou Wake. "Sem dúvida há algo que vai muito mal", concluiu.
* O
autor é correspondente da IPS.