Comemoração à árvore e seus significados à qualidade de vida e ao combate às mudanças do clima*
No período do inverno intertropical, os cidadãos sofrem com baixas umidades relativas do ar, convivendo com um desconforto de "clima de deserto". O nível de vapor d'água na atmosfera é determinado não só por fatores do clima, como a temperatura do ambiente, mas também pelas interações de fatores físicos e fisiológicos, incluindo vegetais e animais. Os fatores físicos (radiação, insolação, velocidade do vento, etc.) influenciam na condução e na convecção de calor sensível. Os fatores fisiológicos exercem controle na evaporação ou condensação de calor latente. Este representa o fluxo de energia consumido na mudança de fase da água, do estado líquido para vapor ou vice-versa. O fluxo é negativo quando a planta transpira, e positivo quando se condensa nas folhas das árvores no orvalho ou na geada.
No aspecto físico, a estrutura molecular do vapor d'água possui uma propriedade de forte interação com radiações eletromagnéticas emitidas por materiais existentes no ambiente. O vapor d'água, ao se movimentar com o ar, armazena e ameniza as trocas de energia, atuando com um equalizador. A quantidade de vapor d'água existente na atmosfera determina o ritmo da evapotranspiração das plantas. Tais processos ecofisiológicos propiciam benefícios ambientais que melhoram tanto o clima das imediações como as condições de vida em geral e humana em particular.As maiores reações de transformação de energia da vida são as que envolvem a assimilação e a liberação do carbono na fotossíntese e na respiração. A única fonte de carbono assimilável pelas plantas é o gás carbônico atmosférico. Antes da revolução industrial e do efeito estufa, a concentração natural do gás carbônico no ar é de apenas 300 partes por milhão (ou 300 ppm). Esta concentração é menor do que a força que puxa vapor de água da planta para a atmosfera. A diferença de pressão exercida pelo gás carbônico e pela água sobre o tecido da folha e no ar circundante é responsável pela transpiração de mais ou menos 500 gramas de água para cada grama de carbono assimilado pelas plantas.
O efeito refrescante da evaporação é determinado pela quantidade de água evaporada pela planta, portanto, é proporcional à taxa de transpiração. A eficácia da taxa de transpiração aumenta com a elevação da temperatura do ar, com a redução da umidade relativa e com um bom suprimento de água. Se a transpiração é acelerada pelo vento, extrai-se tanto calor que as folhas podem se tornar mais frias que o ar. Uma taxa de 0,1 milímetro de água por hora remove calor da ordem de 70 watts por hora. O efeito refrescante corresponde, portanto, ao consumo de energia de uma lâmpada incandescente que, ao preço de R$ 0,25 por kwh, proporciona uma economia de R$ 93,75.
No balanço de radiação de uma árvore, de 10 a 25% da fração interceptada é refletida, e o restante, ou é absorvida pela árvore para fins de transpiração ou de fotossíntese, ou se transforma em calor aquecendo o ar circundante. Este aquecimento, no entanto, é pouco significativo, não chegando a afetar o efeito refrescante. Conclui-se que os revestimentos vegetais contribuem para o balanço energético e para o equilíbrio térmico do meio. A radiação líquida disponível é o resultado da soma do calor latente de evaporação, do calor sensível transportado da superfície e do fluxo de calor no solo. O calor sensível e o calor latente de evaporação são parâmetros difíceis de serem medidos, mas podem ser obtidos por extrapolação, através da razão entre os seus respectivos valores. Resulta um novo parâmetro, chamado razão de Bowen, que depende da densidade do revestimento vegetal e da disponibilidade de água. Nas imediações dos lagos ou das florestas, a energia proveniente dos raios solares é, em grande parte, consumida pela evaporação. Por outro lado, a drenagem das várzeas e o desmatamento do solo tornam a atmosfera rica em calor sensível e pobre em calor latente de vaporização, conseqüentemente, eleva-se a razão de Bowen.
Nas condições do cerrado essas questões são ainda mais complexas, pois as plantas lenhosas mantêm os estômatos abertos transpirando livremente, mesmo no período da seca, graças às suas raízes profundas que garantem o acesso à água. Com adequado suprimento hídrico no solo, uma árvore isolada pode transpirar 400 litros d'água por dia. Esse efeito térmico equivale ao funcionamento diário de cinco condicionadores de ar com capacidade de 2500 quilocalorias cada. Nas estações de pouca precipitação, as plantas interrompem o crescimento, evidenciando estresse hídrico moderado e redução da taxa de transpiração da ordem de 42%, quando a demanda evaporativa é elevada, principalmente pela resistência estomática do dossel. As espécies vegetais nativas, adaptadas fisiologicamente às variações climáticas e sazonais, contribuem para a manutenção do equilíbrio ecológico das bacias hidrográficas, conferindo sustentabilidade às atividades econômicas.
* Artigo elaborado com base na tese de doutoramento em Ciências Ambientais pela UFG.
** Osmar Pires Martins Júnior é biólogo, engenheiro agrônomo, mestre em ecologia, doutorando em ciências ambientais, professor de cursos de graduação e pós-graduação em IES, é membro-fundador da cadeira 29 da Academia Goianiense de Letras (patrono: Attílio Corrêa Lima), foi presidente da Agência Ambiental de Goiás (2003-06), perito ambiental do MP-GO (1997-02) e secretário do Meio Ambiente de Goiânia (1993-96).